Seu nome de batismo é Charles-Édouard Jeanneret-Gris (1887-1965), mas é reconhecido mundialmente como Le Corbusier. Ele foi um artista suíço-francês multifacetado, atuando como arquiteto, urbanista, designer, pintor e escultor de grande influência. É considerado pioneiro do uso do concreto armado e precursor do modernismo arquitetônico, revolucionando a construção e o design de edifícios no século 20.
Leia mais
O arquiteto incorporou o espírito de transformação da época evidenciado pela industrialização, o uso de novas tecnologias e a busca por redefinir a vida urbana. “Ele enxergava a arquitetura como instrumento para moldar uma nova sociedade, mais racional, funcional e conectada ao futuro. Nesse sentido, ele não apenas acompanhou, mas também ajudou a definir a linguagem cultural e tecnológica da modernidade”, destaca Filipe Assis, consultor de arte.
Infância e início de carreira
Charles nasceu e cresceu em La Chaux-de-Fonds, uma cidade suíça conhecida por sua indústria de relojoaria. Ele era o filho mais novo de Georges-Édouard Jeanneret, esmaltador de relógios, e Marie-Charlotte Amélie Perret, pianista e professora de música. Seu irmão Albert era dezoito meses mais velho.
Aos 13 anos, começou seus estudos na École des Arts Décoratifs, em sua cidade natal, onde aprendeu a esmaltar e gravar mostradores de relógio. Foi o professor Charles L’Eplattenier quem reconheceu seu talento para as artes plásticas e o incentivou a seguir a carreira de arquiteto, em vez de se tornar um pintor, como pretendia inicialmente.
A Villa Fallet, localizada em La Chaux-de-Fonds, Suíça, é um marco significativo no início da carreira de Le Corbusier, apresentando um telhado íngreme e detalhes geométricos que refletem a influência do Estilo Sapin e Art Nouveau. Atualmente, a casa é considerada patrimônio cultural suíço
PSB bobo/Wikimedia Commons
Em 1905, aos 18 anos de idade, ele projetou seu primeiro edifício, a Villa Fallet, um chalé na montanha, sob a orientação de René Chapallaz, colega de L’Eplattenier, a pedido de Louis Fallet, membro da instituição de ensino onde estudava. Esse projeto foi o ponto de partida de sua carreira.
Le Corbusier é considerado um notável autodidata. Embora não tenha frequentado uma faculdade de Arquitetura, adquiriu sólida formação teórica e prática por meio de estudos artísticos, estágios com arquitetos renomados e viagens ao redor do mundo, o que lhe permitiu desenvolver o modernismo arquitetônico.
Primeiras viagens de formação
Entre 1907 e 1911, ainda conhecido como Charles, viajou pela Europa e outras regiões do mundo, graças aos recursos financeiros provenientes do sucesso da Villa Fallet. Iniciou essa experiência, aos 20 anos, o que possibilitou a adquirir conhecimento e inspiração de diversas culturas e estilos arquitetônicos.
Leia mais
Sua jornada começou pela Toscana, Itália, onde ele estudou a arquitetura clássica e renascentista. Depois, ele seguiu para Budapeste (Hungria), Viena (Áustria) e Paris (França). Charles fez também um estágio na Alemanha e teve contato com a construção moderna, o que foi importante para a sua formação inicial. No Oriente, viagem que resultou no livro Voyage d’Orient, visitou cidades como Praga (República Checa), Istambul (Turquia) e Atenas (Grécia).
Durante esse período, o arquiteto acumulou anotações e desenhos que inspirariam sua trajetória profissional. A série de viagens influenciou o desenvolvimento de seus conceitos de arquitetura modernista, que seriam aplicados posteriormente em suas renomadas construções. De 1912 a 1914, ele atuou como educador na Escola de Chaux-de-Fonds, em sua cidade natal, onde transmitiu seus aprendizados.
Adoção do pseudônimo e sucesso em Paris
Paris foi uma das cidades visitadas que marcou a sua formação, especialmente após a sua primeira grande viagem pela Europa. Foi também o local onde ele estagiou e adotou o pseudônimo Le Corbusier, que o consagraria na arquitetura. A escolha foi uma variação do sobrenome de seu avô materno “Lecorbésier” e refletia a crença na época de que artistas poderiam se reinventar.
O jovem mudou-se definitivamente para a capital francesa em 1917 e começou a se firmar na vanguarda artística e arquitetônica, realizando importantes trabalhos que marcaria a sua carreira. Charles passou a assinar com o pseudônimo na primeira edição da revista L’Esprit Nouveau, em 1920, na qual foi co-fundador com o pintor Amédée Ozenfant e o escritor Paul Dermée.
O objetivo da revista L’Esprit Nouveau era renovar a arte e a arquitetura, defendendo a construção de um novo modernismo baseado na funcionalidade e na padronização industrial, que refletisse a ordem natural e a eficiência da era moderna
Elenusqui/Wikimedia Commons
Sua obra sempre esteve ligada à prática arquitetônica, pintura, escultura e escrita sendo fontes de inspiração para suas soluções de engenharia e urbanismo. Anos mais tarde, abriu o primeiro escritório de arquitetura com seu primo Pierre Jeanneret, em 1922. Nesse período, desenvolveu conceitos arquitetônicos que são reconhecidos até hoje. Conheça suas ideias revolucionárias:
Casa como uma “máquina de morar”
Com essa ideia, Le Corbusier redefiniu a relação entre espaço, função e tecnologia. Ela defende que a casa deve ser projetada com a funcionalidade e a eficiência de uma máquina, integrando tecnologia e ergonomia para atender às necessidades humanas da era industrial. O uso do espaço deve ser racional e eficiente, aproveitando ao máximo cada área.
A moradia deve proporcionar também o conforto necessário para seus moradores, considerando as necessidades fisiológicas e sociais. Além disso, Corbusier pensou nos móveis e outros itens que integram a residência, os quais foram desenvolvidos com base nos princípios das linhas de montagem industrial. Esse conceito busca expressar a modernidade por meio de inovações, elevando a construção a um nível de precisão e otimização.
A Villa Savoye, projetada por Le Corbusier, é um símbolo da arquitetura moderna que exemplifica o conceito de “máquina de morar”. A casa prioriza a funcionalidade e a eficiência no design, tornando-a um objeto independente e adaptável a diferentes contextos
Flickr/Timothy Brown/Creative Commons
“Para Le Corbusier, o planejamento urbano era uma ferramenta de transformação social e coletiva. Ele trabalhou para conciliar densidade urbana e conforto habitacional, organizando a circulação e os espaços de forma racional e funcional. Seu objetivo era responder aos desafios da urbanização, promovendo a harmonia entre moradores, infraestrutura e o ambiente urbano”, diz Gwenaëlle Dubreuil, Chefe de Desenvolvimento de Público e Comunicação da Fondation Le Corbusier.
O urbanismo dele também modificou a interação social. “Na paisagem urbana, ele trocou a rua tradicional, densa e de usos mistos, por edifícios-objeto isolados, conectados por vias expressas em meio a grandes áreas verdes. Com isso, a lógica da cidade mudou, passamos a ter edifícios soltos em espaço aberto e contínuo, com uma escala voltada mais para o automóvel do que para o pedestre”, detalha Márcia Câmara Bandeira de Figueiredo, arquiteta e urbanista, professora doutora da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Cinco Pontos da Arquitetura
Em 1927, o arquiteto desenvolveu o conceito dos Cinco Pontos da Arquitetura com o objetivo de criar soluções habitacionais eficientes e acessíveis. Esses pontos permitem que o espaço interno seja utilizado de forma funcional, destacam a conexão com o exterior e proporcionam uma melhor qualidade de vida aos habitantes por meio da integração com a natureza.
“Le Corbusier buscou integrar espaços verdes e elementos naturais em projetos arquitetônicos, a fim de preservar a conexão entre as pessoas e seu meio ambiente. Ele antecipou questões ecológicas e colocou o respeito à natureza como elemento fundamental para garantir a qualidade de vida”, ressalta Gwenaëlle.
A Unité d’Habitation de Marselha, projetada por Le Corbusier, é um marco do movimento moderno, que incorpora os cinco pontos da arquitetura moderna servindo como um experimento de moradia comunitária e influenciando o urbanismo contemporâneo
Flickr/Wojtek Gurak/Creative Commons
Para isso, ele propôs cinco elementos construtivos: os pilotis, que elevam o edifício do solo, permitindo a circulação de pessoas e veículos por baixo; a planta livre, que oferece flexibilidade de layout; a fachada livre, liberando o projeto das paredes; as janelas em fita, que integram interiores e exteriores; e o terraço jardim, que recupera o espaço ocupado pela edificação.
“Os cinco pontos continuam extremamente atuais. Hoje, eles aparecem reinterpretados em diferentes escalas: dos edifícios corporativos transparentes e flexíveis até residências que buscam integração com a paisagem. Mais do que manual formal, os cinco pontos são um convite à flexibilidade, ao uso racional da estrutura e à criação de espaços que promovam novas formas de habitar”, reflete Filipe.
Design de móveis como extensão da arquitetura
Le Corbusier já era um arquiteto e urbanista de renome quando o design de móveis se tornou uma vertente significativa de seu trabalho. Ele desenvolveu muitos de seus projetos de mobiliário com outros artistas, especialmente Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, utilizando materiais como aço tubular cromado, couro e peles em suas obras.
A Chaise LC4 é um ícone do design modernista por sua estrutura em aço tubular, minimalismo elegante e foco na ergonomia. Sua estética foi inspirada na máquina e nas curvas do corpo,
Jean Baptiste Paris/Wikimedia Commons
As peças destacam linhas claras e formas geométricas, buscando um design funcional que estivesse em sintonia com a ideia de “máquina para viver” defendida por ele na arquitetura.
Leia mais
Entre suas criações mais conhecidas estão a poltrona LC2 e a chaise longue LC4, que hoje são consideradas clássicos do design. Após se tornar uma celebridade na arquitetura, seu interesse e dedicação ao design de interiores aumentaram, levando-o a se concentrar em mesas, armários e poltronas.
Viagens pelo Brasil
Durante a Primeira República, em 1920, o Brasil buscava modernização e se abria a novas influências internacionais, incluindo a arquitetura. Le Corbusier fez sua primeira visita ao país em 1929.
Posteriormente, ele retornou em duas ocasiões: em 1936 e 1962. Primeiro, ele participou do projeto do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Depois, em sua última visita, teve a oportunidade de conhecer Brasília e elogiou a nova capital, referindo-se a ela como uma “obra dos meus dois grandes amigos”, de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
A imagem retrata o arquiteto Le Corbusier (segundo à esquerda, usando gravata borboleta) e o arquiteto Lúcio Costa (primeiro à esquerda) no Rio de Janeiro, em 1936, acompanhados de outros arquitetos para debater o projeto do que se tornaria o Palácio Gustavo Capanema, um ícone da arquitetura modernista brasileira
Domínio público/Acervo Arquivo Nacional
“Ele trouxe consigo um vocabulário moderno, ligado ao racionalismo europeu e às inovações construtivas do concreto armado. No entanto, ao entrar em contato com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, esse repertório foi reinterpretado de maneira singular. Mais do que influência direta, foi um encontro criativo que possibilitou a construção de uma identidade moderna própria, capaz de projetar a arquitetura brasileira no cenário internacional”, conta Filipe.
Policromia Arquitetônica
O arquiteto criou um sistema de cores denominado Policromia Arquitetônica, em 1931, fundamentado em tons organizados em grupos cromáticos, inspirados na natureza. A paleta foi pensada para ser um sistema intelectual e racional, possibilitando a combinação de cores de forma harmoniosa em projetos arquitetônicos e de mobiliário, criando efeitos visuais desejados.
Leia mais
A primeira coleção continha 43 tons, que foram expandidos para 63 cores da policromia completa, atualizada em 1959. Ambas as coleções foram produzidas para a empresa suíça de papel de parede Salubra. A paleta é disponibilizada até hoje através de fabricantes certificados, permitindo que arquitetos e designers continuem a utilizá-las em seus projetos para criar espaços personalizados.
Obras notáveis do arquiteto
Le Corbusier criou várias obras icônicas ao redor do mundo, sendo 17 delas reconhecidas como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
“As propostas arquitetônicas e urbanísticas de Le Corbusier refletem diretamente o otimismo tecnológico do século 19. Ele entendia a arquitetura como uma ferramenta para criar uma sociedade mais ‘eficiente’, respondendo à crise habitacional do pós-guerra com a racionalidade de um engenheiro. Sua arquitetura se expressava em formas puras e volumes geométricos, usos de novos materiais e novo modo de morar”, acredita Márcia.
A seguir, confira outros projetos icônicos do arquiteto, que exemplificam os princípios modernistas, como a integração com a natureza, o uso de materiais inovadores e a criação de espaços fluidos e versáteis:
Maison La Roche
A Maison La Roche é um marco do modernismo por ser uma das primeiras obras a implementar os cinco princípios da arquitetura moderna, utilizando o concreto armado de forma inovadora para criar uma experiência arquitetônica fluida e integrada
Flickr/Fred Romero/Creative Commons
Le Corbusier e seu primo Pierre Jeanneret projetaram e construíram a Maison La Roche, em Paris, uma das primeiras casas assinadas pelo arquiteto. Foi construída para o banqueiro e colecionador de arte Raoul La Roche, combinando residência particular e galeria. O imóvel abriga, atualmente, a Fondation Le Corbusier, instituição dedicada à preservação do legado do arquiteto.
Maison Curutchet
Atualmente, a Casa Curutchet, projetada por Le Corbusier, abriga o Colegio de Arquitectos de la Provincia de Buenos Aires (CAPBA), ocupando o edifício desde 1991 e integrando-o às suas funções culturais e de gestão
Roberto Fiadone/Wikimedia Commons
A Casa Curutchet, em La Plata, Argentina, é o único projeto que Le Corbusier construiu na América do Sul. A obra inicial foi encomendado para ser um conjunto de consultório e moradia para o médico Pedro Domingo Curutchet. O projeto se adapta ao contexto urbano de La Plata, aproveitando a praça em frente como parte do desenho da casa, permitindo que a residência dialogue com o espaço público através de brises.
Capitol Complex Chandigarh
Localizado na cidade planejada de Chandigarh, na Índia, o complexo reflete uma visão audaciosa de Le Corbusier, que uniu arquitetura e planejamento urbano
Sanyam Bahga/Wikimedia Commons
O Complexo do Capitólio em Chandigarh, na Índia, é um conjunto de edifícios que são um marco do modernismo, caracterizados pelo concreto armado, formas geométricas e brises-soleil. O projeto foi concebido para representar a nova democracia indiana, incorporando os ideais de transparência, ordem e modernidade. Hoje, os edifícios funcionam como o coração administrativo e governamental da cidade, composto pelo Palácio da Assembleia, o Secretariado e o Supremo Tribunal de Justiça.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut
A Capela Notre-Dame du Haut foi construída no local de uma igreja medieval que foi destruída por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial
Flickr/Henk Bekker/Creative Commons
A Capela Notre-Dame-du-Haut, localizada no alto da colina de Bourlémont, em Ronchamp, França, é outro ícone projetado por Le Corbusier, considerada uma das obras mais importantes da arquitetura religiosa do século 20, revolucionando o gênero com design inovador. O projeto se destaca por sua estrutura escultórica de concreto, paredes onduladas, cobertura em formato de concha e janelas que criam atmosfera única e espaço interno que lembra uma caverna.
Couvent Saint-Marie de La Tourette
A vida monástica é refletida no design do convento por meio do uso de concreto aparente e da valorização de sua materialidade bruta, conferindo ao projeto um caráter austero e brutalista
Flickr/Jeanne Menjoulet/Wikimedia Commons
O Convento Saint-Marie de La Tourette, em Éveux, é considerada sua última grande obra em território francês, concluído em 1960. O projeto reflete a vida austera dos monges dominicanos, utilizando concreto aparente de forma intencional para destacar sua textura e dureza. A luz natural molda os espaços internos e se torna componente essencial da experiência arquitetônica.
National Museum of Western Art
O edifício funcionou como uma base para a arquitetura moderna no Japão, sendo projetado para abrigar o acervo de arte ocidental, a partir do século 15, em um layout funcional
Kakidai/Wikimedia Commons
O Museu Nacional de Arte Ocidental, localizado no complexo do Parque Ueno, em Tóquio, no Japão, é um exemplo da síntese entre a arquitetura moderna de Le Corbusier e a estética japonesa. O edifício possui planta quadrada, corpo principal elevado sobre pilotis de concreto armado, e revestimento de painéis pré-moldados de concreto. É uma obra-prima arquitetônica de 1959, notável por sua estrutura e pelo uso de concreto armado e painéis pré-moldados.
Pavillon Le Corbusier
O Pavilhão Le Corbusier em Zurique, que foi o último projeto do arquiteto Le Corbusier, foi reaberto ao público em maio de 2019 após uma restauração
roland zh/Wikimedia Commons
O Pavilhão Le Corbusier, em Zurique, na Suíça, é considerado a última obra assinada pelo arquiteto Le Corbusier, sendo inaugurado em 1967, ano de seu falecimento. O edifício é um exemplo notável da aplicação de seus princípios arquitetônicos, incluindo o uso do conceito de terraço-jardim e a implementação do seu sistema de medidas, o Modulor. O pavilhão funciona como um museu e centro de exposições, apresentando a obra do arquiteto, realizando eventos e workshops temáticos.
Leia mais
Legado do arquiteto
A versatilidade de Le Corbusier integrou a arquitetura moderna ao cotidiano, defendendo um estilo de vida funcional que combina eficiência industrial com design, resultando em prédios e móveis modulares. Seu urbanismo favoreceu o automóvel e promoveu o Estilo Internacional de arquitetura.
Par de poltronas LC1, criação de Le Corbusier, são peças vintage, originalmente fabricadas por Forma e Probjeto. Projeto do designer de interiores Roberto Souto
Sambacine/Divulgação | Coprodução: Leila Bittencourt/Divulgação
Seu legado é marcado por uma busca de integração da arquitetura e urbanismo às necessidades humanas e ambientais, associados à saúde, à higiene, à ventilação e à livre circulação. “Podemos dizer que seu legado permanece influente em seu aspecto estético e tectônico, mas também nos ensina a necessidade de um planejamento mais sensível às diversidades da vida e das cidades”, opina Márcia.
“Suas propostas de modelos urbanos mais adensados e sua valorização das tecnologias emergentes de seu tempo ainda nos inspiram a buscar caminhos para enfrentar os desafios contemporâneos do planejamento urbano e ambiental. Além disso, sua concepção de cidade centrada no automóvel contrasta diretamente com o que urbanistas defendem atualmente: cidades feitas para pessoas”, acrescenta a professora.
A poltrona LC1 e a chaise LC4 são criações de Charlotte Perriand e Le Corbusier. O projeto é do escritório EFC Arquitetura
Carolina Mossini/Divulgação
Ele enxergava os móveis como equipamentos que complementam a “máquina de morar”, o lar, enfatizando a funcionalidade e o design que serve às necessidades humanas. Sua visão buscava uma arquitetura racional e eficiente, onde o projeto da casa deveria ser pensado para desempenhar sua função com precisão, utilizando otimização de espaços e ergonomia para atender às demandas diárias.
Para o consultor de arte, a influência de Le Corbusier se manifesta tanto nas formas quanto nos questionamentos. “Ele abriu a discussão sobre como projetar para milhões de pessoas em contextos urbanos cada vez mais complexos. Sua arquitetura, com princípios de flexibilidade, racionalidade e integração com a natureza, segue como referência inevitável para pensar os desafios contemporâneos”, pontua Filipe.
Fundação Le Corbusier
A Fundação Le Corbusier, está localizada em Paris, França, especificamente na Maison La Roche, onde se encontra tanto a sua sede quanto um museu dedicado à obra do arquiteto. A instituição, criada em 1968, administra e preserva o trabalho do profissional, incluindo seus projetos, desenhos, pinturas e móveis.
“Ele queria que seus arquivos, desenhos, pinturas e edifícios fossem protegidos, estudados e acessíveis às gerações futuras. Sua abordagem profundamente humanista visava fazer da Fundação um centro de pesquisa e influência internacional, para que sua obra continuasse a inspirar arquitetos, artistas e pensadores muito além de sua época”, afirma Gwenaëlle.
A Maison La Roche abriga o acervo da Fondation Le Corbusier, que inclui obras do próprio arquiteto, desenhos, pinturas e outros documentos, além de receber exposições temporárias de outros artistas
Flickr/Josep Maria Torra/Creative Commons
A edificação supervisiona a conservação de toda a obra de Le Corbusier, incluindo seus quase 80 edifícios espalhados por 11 países e quatro continentes. “A fundação preserva todo o arquivo pessoal e de estúdio do arquiteto, totalizando mais de 400 mil documentos, que são estudados, digitalizados e acessíveis para pesquisadores e o público em geral”, ela diz.
Designers, artistas e estilistas também contribuem com a fundação. Essas colaborações demonstram que o legado do arquiteto se estende além da arquitetura, abrangendo arte, design e cultura contemporânea. A Fundação também organiza encontros científicos anuais, reunindo pesquisadores e especialistas de todo o mundo.
Leia mais
O arquiteto incorporou o espírito de transformação da época evidenciado pela industrialização, o uso de novas tecnologias e a busca por redefinir a vida urbana. “Ele enxergava a arquitetura como instrumento para moldar uma nova sociedade, mais racional, funcional e conectada ao futuro. Nesse sentido, ele não apenas acompanhou, mas também ajudou a definir a linguagem cultural e tecnológica da modernidade”, destaca Filipe Assis, consultor de arte.
Infância e início de carreira
Charles nasceu e cresceu em La Chaux-de-Fonds, uma cidade suíça conhecida por sua indústria de relojoaria. Ele era o filho mais novo de Georges-Édouard Jeanneret, esmaltador de relógios, e Marie-Charlotte Amélie Perret, pianista e professora de música. Seu irmão Albert era dezoito meses mais velho.
Aos 13 anos, começou seus estudos na École des Arts Décoratifs, em sua cidade natal, onde aprendeu a esmaltar e gravar mostradores de relógio. Foi o professor Charles L’Eplattenier quem reconheceu seu talento para as artes plásticas e o incentivou a seguir a carreira de arquiteto, em vez de se tornar um pintor, como pretendia inicialmente.
A Villa Fallet, localizada em La Chaux-de-Fonds, Suíça, é um marco significativo no início da carreira de Le Corbusier, apresentando um telhado íngreme e detalhes geométricos que refletem a influência do Estilo Sapin e Art Nouveau. Atualmente, a casa é considerada patrimônio cultural suíço
PSB bobo/Wikimedia Commons
Em 1905, aos 18 anos de idade, ele projetou seu primeiro edifício, a Villa Fallet, um chalé na montanha, sob a orientação de René Chapallaz, colega de L’Eplattenier, a pedido de Louis Fallet, membro da instituição de ensino onde estudava. Esse projeto foi o ponto de partida de sua carreira.
Le Corbusier é considerado um notável autodidata. Embora não tenha frequentado uma faculdade de Arquitetura, adquiriu sólida formação teórica e prática por meio de estudos artísticos, estágios com arquitetos renomados e viagens ao redor do mundo, o que lhe permitiu desenvolver o modernismo arquitetônico.
Primeiras viagens de formação
Entre 1907 e 1911, ainda conhecido como Charles, viajou pela Europa e outras regiões do mundo, graças aos recursos financeiros provenientes do sucesso da Villa Fallet. Iniciou essa experiência, aos 20 anos, o que possibilitou a adquirir conhecimento e inspiração de diversas culturas e estilos arquitetônicos.
Leia mais
Sua jornada começou pela Toscana, Itália, onde ele estudou a arquitetura clássica e renascentista. Depois, ele seguiu para Budapeste (Hungria), Viena (Áustria) e Paris (França). Charles fez também um estágio na Alemanha e teve contato com a construção moderna, o que foi importante para a sua formação inicial. No Oriente, viagem que resultou no livro Voyage d’Orient, visitou cidades como Praga (República Checa), Istambul (Turquia) e Atenas (Grécia).
Durante esse período, o arquiteto acumulou anotações e desenhos que inspirariam sua trajetória profissional. A série de viagens influenciou o desenvolvimento de seus conceitos de arquitetura modernista, que seriam aplicados posteriormente em suas renomadas construções. De 1912 a 1914, ele atuou como educador na Escola de Chaux-de-Fonds, em sua cidade natal, onde transmitiu seus aprendizados.
Adoção do pseudônimo e sucesso em Paris
Paris foi uma das cidades visitadas que marcou a sua formação, especialmente após a sua primeira grande viagem pela Europa. Foi também o local onde ele estagiou e adotou o pseudônimo Le Corbusier, que o consagraria na arquitetura. A escolha foi uma variação do sobrenome de seu avô materno “Lecorbésier” e refletia a crença na época de que artistas poderiam se reinventar.
O jovem mudou-se definitivamente para a capital francesa em 1917 e começou a se firmar na vanguarda artística e arquitetônica, realizando importantes trabalhos que marcaria a sua carreira. Charles passou a assinar com o pseudônimo na primeira edição da revista L’Esprit Nouveau, em 1920, na qual foi co-fundador com o pintor Amédée Ozenfant e o escritor Paul Dermée.
O objetivo da revista L’Esprit Nouveau era renovar a arte e a arquitetura, defendendo a construção de um novo modernismo baseado na funcionalidade e na padronização industrial, que refletisse a ordem natural e a eficiência da era moderna
Elenusqui/Wikimedia Commons
Sua obra sempre esteve ligada à prática arquitetônica, pintura, escultura e escrita sendo fontes de inspiração para suas soluções de engenharia e urbanismo. Anos mais tarde, abriu o primeiro escritório de arquitetura com seu primo Pierre Jeanneret, em 1922. Nesse período, desenvolveu conceitos arquitetônicos que são reconhecidos até hoje. Conheça suas ideias revolucionárias:
Casa como uma “máquina de morar”
Com essa ideia, Le Corbusier redefiniu a relação entre espaço, função e tecnologia. Ela defende que a casa deve ser projetada com a funcionalidade e a eficiência de uma máquina, integrando tecnologia e ergonomia para atender às necessidades humanas da era industrial. O uso do espaço deve ser racional e eficiente, aproveitando ao máximo cada área.
A moradia deve proporcionar também o conforto necessário para seus moradores, considerando as necessidades fisiológicas e sociais. Além disso, Corbusier pensou nos móveis e outros itens que integram a residência, os quais foram desenvolvidos com base nos princípios das linhas de montagem industrial. Esse conceito busca expressar a modernidade por meio de inovações, elevando a construção a um nível de precisão e otimização.
A Villa Savoye, projetada por Le Corbusier, é um símbolo da arquitetura moderna que exemplifica o conceito de “máquina de morar”. A casa prioriza a funcionalidade e a eficiência no design, tornando-a um objeto independente e adaptável a diferentes contextos
Flickr/Timothy Brown/Creative Commons
“Para Le Corbusier, o planejamento urbano era uma ferramenta de transformação social e coletiva. Ele trabalhou para conciliar densidade urbana e conforto habitacional, organizando a circulação e os espaços de forma racional e funcional. Seu objetivo era responder aos desafios da urbanização, promovendo a harmonia entre moradores, infraestrutura e o ambiente urbano”, diz Gwenaëlle Dubreuil, Chefe de Desenvolvimento de Público e Comunicação da Fondation Le Corbusier.
O urbanismo dele também modificou a interação social. “Na paisagem urbana, ele trocou a rua tradicional, densa e de usos mistos, por edifícios-objeto isolados, conectados por vias expressas em meio a grandes áreas verdes. Com isso, a lógica da cidade mudou, passamos a ter edifícios soltos em espaço aberto e contínuo, com uma escala voltada mais para o automóvel do que para o pedestre”, detalha Márcia Câmara Bandeira de Figueiredo, arquiteta e urbanista, professora doutora da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Cinco Pontos da Arquitetura
Em 1927, o arquiteto desenvolveu o conceito dos Cinco Pontos da Arquitetura com o objetivo de criar soluções habitacionais eficientes e acessíveis. Esses pontos permitem que o espaço interno seja utilizado de forma funcional, destacam a conexão com o exterior e proporcionam uma melhor qualidade de vida aos habitantes por meio da integração com a natureza.
“Le Corbusier buscou integrar espaços verdes e elementos naturais em projetos arquitetônicos, a fim de preservar a conexão entre as pessoas e seu meio ambiente. Ele antecipou questões ecológicas e colocou o respeito à natureza como elemento fundamental para garantir a qualidade de vida”, ressalta Gwenaëlle.
A Unité d’Habitation de Marselha, projetada por Le Corbusier, é um marco do movimento moderno, que incorpora os cinco pontos da arquitetura moderna servindo como um experimento de moradia comunitária e influenciando o urbanismo contemporâneo
Flickr/Wojtek Gurak/Creative Commons
Para isso, ele propôs cinco elementos construtivos: os pilotis, que elevam o edifício do solo, permitindo a circulação de pessoas e veículos por baixo; a planta livre, que oferece flexibilidade de layout; a fachada livre, liberando o projeto das paredes; as janelas em fita, que integram interiores e exteriores; e o terraço jardim, que recupera o espaço ocupado pela edificação.
“Os cinco pontos continuam extremamente atuais. Hoje, eles aparecem reinterpretados em diferentes escalas: dos edifícios corporativos transparentes e flexíveis até residências que buscam integração com a paisagem. Mais do que manual formal, os cinco pontos são um convite à flexibilidade, ao uso racional da estrutura e à criação de espaços que promovam novas formas de habitar”, reflete Filipe.
Design de móveis como extensão da arquitetura
Le Corbusier já era um arquiteto e urbanista de renome quando o design de móveis se tornou uma vertente significativa de seu trabalho. Ele desenvolveu muitos de seus projetos de mobiliário com outros artistas, especialmente Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, utilizando materiais como aço tubular cromado, couro e peles em suas obras.
A Chaise LC4 é um ícone do design modernista por sua estrutura em aço tubular, minimalismo elegante e foco na ergonomia. Sua estética foi inspirada na máquina e nas curvas do corpo,
Jean Baptiste Paris/Wikimedia Commons
As peças destacam linhas claras e formas geométricas, buscando um design funcional que estivesse em sintonia com a ideia de “máquina para viver” defendida por ele na arquitetura.
Leia mais
Entre suas criações mais conhecidas estão a poltrona LC2 e a chaise longue LC4, que hoje são consideradas clássicos do design. Após se tornar uma celebridade na arquitetura, seu interesse e dedicação ao design de interiores aumentaram, levando-o a se concentrar em mesas, armários e poltronas.
Viagens pelo Brasil
Durante a Primeira República, em 1920, o Brasil buscava modernização e se abria a novas influências internacionais, incluindo a arquitetura. Le Corbusier fez sua primeira visita ao país em 1929.
Posteriormente, ele retornou em duas ocasiões: em 1936 e 1962. Primeiro, ele participou do projeto do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Depois, em sua última visita, teve a oportunidade de conhecer Brasília e elogiou a nova capital, referindo-se a ela como uma “obra dos meus dois grandes amigos”, de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
A imagem retrata o arquiteto Le Corbusier (segundo à esquerda, usando gravata borboleta) e o arquiteto Lúcio Costa (primeiro à esquerda) no Rio de Janeiro, em 1936, acompanhados de outros arquitetos para debater o projeto do que se tornaria o Palácio Gustavo Capanema, um ícone da arquitetura modernista brasileira
Domínio público/Acervo Arquivo Nacional
“Ele trouxe consigo um vocabulário moderno, ligado ao racionalismo europeu e às inovações construtivas do concreto armado. No entanto, ao entrar em contato com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, esse repertório foi reinterpretado de maneira singular. Mais do que influência direta, foi um encontro criativo que possibilitou a construção de uma identidade moderna própria, capaz de projetar a arquitetura brasileira no cenário internacional”, conta Filipe.
Policromia Arquitetônica
O arquiteto criou um sistema de cores denominado Policromia Arquitetônica, em 1931, fundamentado em tons organizados em grupos cromáticos, inspirados na natureza. A paleta foi pensada para ser um sistema intelectual e racional, possibilitando a combinação de cores de forma harmoniosa em projetos arquitetônicos e de mobiliário, criando efeitos visuais desejados.
Leia mais
A primeira coleção continha 43 tons, que foram expandidos para 63 cores da policromia completa, atualizada em 1959. Ambas as coleções foram produzidas para a empresa suíça de papel de parede Salubra. A paleta é disponibilizada até hoje através de fabricantes certificados, permitindo que arquitetos e designers continuem a utilizá-las em seus projetos para criar espaços personalizados.
Obras notáveis do arquiteto
Le Corbusier criou várias obras icônicas ao redor do mundo, sendo 17 delas reconhecidas como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
“As propostas arquitetônicas e urbanísticas de Le Corbusier refletem diretamente o otimismo tecnológico do século 19. Ele entendia a arquitetura como uma ferramenta para criar uma sociedade mais ‘eficiente’, respondendo à crise habitacional do pós-guerra com a racionalidade de um engenheiro. Sua arquitetura se expressava em formas puras e volumes geométricos, usos de novos materiais e novo modo de morar”, acredita Márcia.
A seguir, confira outros projetos icônicos do arquiteto, que exemplificam os princípios modernistas, como a integração com a natureza, o uso de materiais inovadores e a criação de espaços fluidos e versáteis:
Maison La Roche
A Maison La Roche é um marco do modernismo por ser uma das primeiras obras a implementar os cinco princípios da arquitetura moderna, utilizando o concreto armado de forma inovadora para criar uma experiência arquitetônica fluida e integrada
Flickr/Fred Romero/Creative Commons
Le Corbusier e seu primo Pierre Jeanneret projetaram e construíram a Maison La Roche, em Paris, uma das primeiras casas assinadas pelo arquiteto. Foi construída para o banqueiro e colecionador de arte Raoul La Roche, combinando residência particular e galeria. O imóvel abriga, atualmente, a Fondation Le Corbusier, instituição dedicada à preservação do legado do arquiteto.
Maison Curutchet
Atualmente, a Casa Curutchet, projetada por Le Corbusier, abriga o Colegio de Arquitectos de la Provincia de Buenos Aires (CAPBA), ocupando o edifício desde 1991 e integrando-o às suas funções culturais e de gestão
Roberto Fiadone/Wikimedia Commons
A Casa Curutchet, em La Plata, Argentina, é o único projeto que Le Corbusier construiu na América do Sul. A obra inicial foi encomendado para ser um conjunto de consultório e moradia para o médico Pedro Domingo Curutchet. O projeto se adapta ao contexto urbano de La Plata, aproveitando a praça em frente como parte do desenho da casa, permitindo que a residência dialogue com o espaço público através de brises.
Capitol Complex Chandigarh
Localizado na cidade planejada de Chandigarh, na Índia, o complexo reflete uma visão audaciosa de Le Corbusier, que uniu arquitetura e planejamento urbano
Sanyam Bahga/Wikimedia Commons
O Complexo do Capitólio em Chandigarh, na Índia, é um conjunto de edifícios que são um marco do modernismo, caracterizados pelo concreto armado, formas geométricas e brises-soleil. O projeto foi concebido para representar a nova democracia indiana, incorporando os ideais de transparência, ordem e modernidade. Hoje, os edifícios funcionam como o coração administrativo e governamental da cidade, composto pelo Palácio da Assembleia, o Secretariado e o Supremo Tribunal de Justiça.
Chapelle Notre-Dame-du-Haut
A Capela Notre-Dame du Haut foi construída no local de uma igreja medieval que foi destruída por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial
Flickr/Henk Bekker/Creative Commons
A Capela Notre-Dame-du-Haut, localizada no alto da colina de Bourlémont, em Ronchamp, França, é outro ícone projetado por Le Corbusier, considerada uma das obras mais importantes da arquitetura religiosa do século 20, revolucionando o gênero com design inovador. O projeto se destaca por sua estrutura escultórica de concreto, paredes onduladas, cobertura em formato de concha e janelas que criam atmosfera única e espaço interno que lembra uma caverna.
Couvent Saint-Marie de La Tourette
A vida monástica é refletida no design do convento por meio do uso de concreto aparente e da valorização de sua materialidade bruta, conferindo ao projeto um caráter austero e brutalista
Flickr/Jeanne Menjoulet/Wikimedia Commons
O Convento Saint-Marie de La Tourette, em Éveux, é considerada sua última grande obra em território francês, concluído em 1960. O projeto reflete a vida austera dos monges dominicanos, utilizando concreto aparente de forma intencional para destacar sua textura e dureza. A luz natural molda os espaços internos e se torna componente essencial da experiência arquitetônica.
National Museum of Western Art
O edifício funcionou como uma base para a arquitetura moderna no Japão, sendo projetado para abrigar o acervo de arte ocidental, a partir do século 15, em um layout funcional
Kakidai/Wikimedia Commons
O Museu Nacional de Arte Ocidental, localizado no complexo do Parque Ueno, em Tóquio, no Japão, é um exemplo da síntese entre a arquitetura moderna de Le Corbusier e a estética japonesa. O edifício possui planta quadrada, corpo principal elevado sobre pilotis de concreto armado, e revestimento de painéis pré-moldados de concreto. É uma obra-prima arquitetônica de 1959, notável por sua estrutura e pelo uso de concreto armado e painéis pré-moldados.
Pavillon Le Corbusier
O Pavilhão Le Corbusier em Zurique, que foi o último projeto do arquiteto Le Corbusier, foi reaberto ao público em maio de 2019 após uma restauração
roland zh/Wikimedia Commons
O Pavilhão Le Corbusier, em Zurique, na Suíça, é considerado a última obra assinada pelo arquiteto Le Corbusier, sendo inaugurado em 1967, ano de seu falecimento. O edifício é um exemplo notável da aplicação de seus princípios arquitetônicos, incluindo o uso do conceito de terraço-jardim e a implementação do seu sistema de medidas, o Modulor. O pavilhão funciona como um museu e centro de exposições, apresentando a obra do arquiteto, realizando eventos e workshops temáticos.
Leia mais
Legado do arquiteto
A versatilidade de Le Corbusier integrou a arquitetura moderna ao cotidiano, defendendo um estilo de vida funcional que combina eficiência industrial com design, resultando em prédios e móveis modulares. Seu urbanismo favoreceu o automóvel e promoveu o Estilo Internacional de arquitetura.
Par de poltronas LC1, criação de Le Corbusier, são peças vintage, originalmente fabricadas por Forma e Probjeto. Projeto do designer de interiores Roberto Souto
Sambacine/Divulgação | Coprodução: Leila Bittencourt/Divulgação
Seu legado é marcado por uma busca de integração da arquitetura e urbanismo às necessidades humanas e ambientais, associados à saúde, à higiene, à ventilação e à livre circulação. “Podemos dizer que seu legado permanece influente em seu aspecto estético e tectônico, mas também nos ensina a necessidade de um planejamento mais sensível às diversidades da vida e das cidades”, opina Márcia.
“Suas propostas de modelos urbanos mais adensados e sua valorização das tecnologias emergentes de seu tempo ainda nos inspiram a buscar caminhos para enfrentar os desafios contemporâneos do planejamento urbano e ambiental. Além disso, sua concepção de cidade centrada no automóvel contrasta diretamente com o que urbanistas defendem atualmente: cidades feitas para pessoas”, acrescenta a professora.
A poltrona LC1 e a chaise LC4 são criações de Charlotte Perriand e Le Corbusier. O projeto é do escritório EFC Arquitetura
Carolina Mossini/Divulgação
Ele enxergava os móveis como equipamentos que complementam a “máquina de morar”, o lar, enfatizando a funcionalidade e o design que serve às necessidades humanas. Sua visão buscava uma arquitetura racional e eficiente, onde o projeto da casa deveria ser pensado para desempenhar sua função com precisão, utilizando otimização de espaços e ergonomia para atender às demandas diárias.
Para o consultor de arte, a influência de Le Corbusier se manifesta tanto nas formas quanto nos questionamentos. “Ele abriu a discussão sobre como projetar para milhões de pessoas em contextos urbanos cada vez mais complexos. Sua arquitetura, com princípios de flexibilidade, racionalidade e integração com a natureza, segue como referência inevitável para pensar os desafios contemporâneos”, pontua Filipe.
Fundação Le Corbusier
A Fundação Le Corbusier, está localizada em Paris, França, especificamente na Maison La Roche, onde se encontra tanto a sua sede quanto um museu dedicado à obra do arquiteto. A instituição, criada em 1968, administra e preserva o trabalho do profissional, incluindo seus projetos, desenhos, pinturas e móveis.
“Ele queria que seus arquivos, desenhos, pinturas e edifícios fossem protegidos, estudados e acessíveis às gerações futuras. Sua abordagem profundamente humanista visava fazer da Fundação um centro de pesquisa e influência internacional, para que sua obra continuasse a inspirar arquitetos, artistas e pensadores muito além de sua época”, afirma Gwenaëlle.
A Maison La Roche abriga o acervo da Fondation Le Corbusier, que inclui obras do próprio arquiteto, desenhos, pinturas e outros documentos, além de receber exposições temporárias de outros artistas
Flickr/Josep Maria Torra/Creative Commons
A edificação supervisiona a conservação de toda a obra de Le Corbusier, incluindo seus quase 80 edifícios espalhados por 11 países e quatro continentes. “A fundação preserva todo o arquivo pessoal e de estúdio do arquiteto, totalizando mais de 400 mil documentos, que são estudados, digitalizados e acessíveis para pesquisadores e o público em geral”, ela diz.
Designers, artistas e estilistas também contribuem com a fundação. Essas colaborações demonstram que o legado do arquiteto se estende além da arquitetura, abrangendo arte, design e cultura contemporânea. A Fundação também organiza encontros científicos anuais, reunindo pesquisadores e especialistas de todo o mundo.