No norte de Milão, Barnaba Fornasetti mantém viva a fantástica fábrica de porcelanas, móveis, papéis de parede – e sonhos – imaginada pelo pai, Piero No início do século passado, Crescenzago, na zona norte de Milão, era um refúgio para a burguesia local, que desfrutava das férias ali em elegantes casarões. O esplendor das propriedades, com o passar dos anos, deu espaço a galpões e fábricas que transformaram a região num polo industrial. No número 49 da Via Adriano, uma de suas mais movimentadas, desponta um depósito cuja campainha é adornada pelas palavras “follia pratica” (em português, loucura prática). Um portão de ferro salvaguarda a entrada de um laboratório de três ambientes com piso de cimento. O que poucos imaginam é que ali, num espaço de apenas 80 m², conserva-se o arquivo de mais de 3 mil telas de serigrafia criadas por um dos gênios do design italiano: Piero Fornasetti (1913-1988). Acomodados em estruturas de alumínio, os quadros são matéria-prima para a decoração de porcelanas, móveis, tapetes, papéis de parede e acessórios da renomada Fornasetti, marca que completa agora 85 anos. O forte cheiro de tinta conduz a um reino onírico há mais de três décadas liderado por Barnaba Fornasetti, filho único de Piero.
A bandeja Giardino Settecentesco
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
A “loucura prática” se estende por mais dois ateliês, a poucos passos dali. “Criatividade é liberdade de pensamento e imaginação. Os ateliês são exemplo dessa loucura funcional, onde a imaginação está em perfeita harmonia com a utilidade de cada objeto”, sugere Barnaba. O sucesso internacional da marca é proeza do único herdeiro do designer, convocado pelo pai nos anos 1980 para conter danos financeiros e reestruturar a empresa. “Sempre tive um relacionamento difícil com meu pai. Quando jovem, fui atrás dos meus sonhos, trabalhei como redator e designer de revista, desenhei estampas para tecidos e cheguei até a reformar casas na Toscana”, relembra. O jovem hippie e rebelde não só reergueu o império do pai artista como atualizou seu legado nas últimas décadas. Dos poucos funcionários que tinha, a empresa hoje possui 120.
Criatividade é liberdade de pensamento. Os ateliês são exemplo dessa loucura funcional, onde a imaginação está em harmonia com a utilidade de cada objeto
A porta de emergência do ateliê é decorada com rostos da musa de Piero Fornasetti, a soprano Lina Cavalieri
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
Da casa-ateliê onde cresceu e ainda vive, e onde conviveu com personalidades como os pintores Giorgio de Chirico e Massimo Campigli, Barnaba continua a revirar os mais de 13 mil desenhos de animais, plantas e o célebre rosto da soprano Lina Cavalieri feitos pelo pai. Deles nasce uma produção numerada de reedições e novas versões que estampam toda sorte de itens para a casa. “Pode-se dizer que o meu mérito foi redirecionar os rumos da empresa, respeitando a tradição artesanal e instaurando novas colaborações”, observa o diretor artístico, que não poupa elogios ao pai. “Ele era um artista eclético com uma característica peculiar, possuía uma fantasia criativa irrefreável. Isso, com certeza, fez dele um dos designers mais profícuos do século 20.”
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Barnaba Fornasetti observa a película com a imagem Occhio
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
Avesso a tendências, Barnaba acredita que a autenticidade e o reconhecimento da Fornasetti se devem à filosofia do slow design, imposta por Piero. Nos laboratórios de produção de móveis circulam não mais do que 30 funcionários, muitos deles com mais de 20 anos de casa. No mezanino luminoso, seis profissionais – grande parte com formação na Academia de Belas Artes de Brera – se revezam em movimentos precisos e atentos para pintar, com cores e tons catalogados, pétalas de flores, escamas de peixes, nuvens, estrelas e leopardos que decoram mesas, cômodas, cadeiras e armários construídos manualmente por uma equipe de marceneiros. O mesmo cuidado e delicadeza se verificam no laboratório adjacente, destinado às louças de porcelana. Um procedimento manual que requer paciência e acurácia, em que a destreza dos movimentos dos artesãos é fundamental.
Initial plugin text
Acima, as portas laqueadas do aparador Città Che Si Rispecchia
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
“Nossa estética é irônica, captura o olhar de maneira culta e consciente. As figuras são parte de um imaginário alojado no inconsciente coletivo, e que Fornasetti reelaborou dando vida a um universo onírico, denso de imagens e cores”, observa Barnaba, ao explicar o segredo da marca. “Uma das particularidades das criações de Fornasetti é que não se encaixam [exatamente] como design ou arte. É pura decoração, ou melhor, arte decorativa. Na minha opinião, é conceitual e emotiva ao mesmo tempo, e se contrapõe à frieza e racionalidade que, muitas vezes, se apresentam nas formas do design.”
Bandeja Giro di Conchiglie sendo pintada à mão por um dos profissionais especializados da Fornasetti
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
As criações de Piero não se encaixam [exatamente] como design ou arte. São pura arte decorativa, se contrapõem à frieza e racionalidade do design
Estrutura da cadeira Sole, pronta para ser pintada à mão – na parede, a cartela de cores
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
Incansável, Barnaba acompanha a criação de novas coleções, participa de todas as colaborações e viaja o planeta divulgando a grife em feiras e eventos. Para o próximo Salão do Móvel, em abril, há já uma lista de lançamentos.“Teremos novidades com a Poltrona Frau, com quem já trabalhamos ano passado, e uma coleção de relógios para casa – mais do que isso não posso contar, para não estragar a surpresa”, brinca ele, que, aos 74 anos, não tem a mínima intenção de se aposentar. “Minha mulher já avisou que tenho de viver até os 100. Afinal, no mundo Fornasetti, o lema é ‘be the one who dreams’” (em português, “seja aquele que sonha”).
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Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
A “loucura prática” se estende por mais dois ateliês, a poucos passos dali. “Criatividade é liberdade de pensamento e imaginação. Os ateliês são exemplo dessa loucura funcional, onde a imaginação está em perfeita harmonia com a utilidade de cada objeto”, sugere Barnaba. O sucesso internacional da marca é proeza do único herdeiro do designer, convocado pelo pai nos anos 1980 para conter danos financeiros e reestruturar a empresa. “Sempre tive um relacionamento difícil com meu pai. Quando jovem, fui atrás dos meus sonhos, trabalhei como redator e designer de revista, desenhei estampas para tecidos e cheguei até a reformar casas na Toscana”, relembra. O jovem hippie e rebelde não só reergueu o império do pai artista como atualizou seu legado nas últimas décadas. Dos poucos funcionários que tinha, a empresa hoje possui 120.
Criatividade é liberdade de pensamento. Os ateliês são exemplo dessa loucura funcional, onde a imaginação está em harmonia com a utilidade de cada objeto
A porta de emergência do ateliê é decorada com rostos da musa de Piero Fornasetti, a soprano Lina Cavalieri
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
Da casa-ateliê onde cresceu e ainda vive, e onde conviveu com personalidades como os pintores Giorgio de Chirico e Massimo Campigli, Barnaba continua a revirar os mais de 13 mil desenhos de animais, plantas e o célebre rosto da soprano Lina Cavalieri feitos pelo pai. Deles nasce uma produção numerada de reedições e novas versões que estampam toda sorte de itens para a casa. “Pode-se dizer que o meu mérito foi redirecionar os rumos da empresa, respeitando a tradição artesanal e instaurando novas colaborações”, observa o diretor artístico, que não poupa elogios ao pai. “Ele era um artista eclético com uma característica peculiar, possuía uma fantasia criativa irrefreável. Isso, com certeza, fez dele um dos designers mais profícuos do século 20.”
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Acima, as portas laqueadas do aparador Città Che Si Rispecchia
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
“Nossa estética é irônica, captura o olhar de maneira culta e consciente. As figuras são parte de um imaginário alojado no inconsciente coletivo, e que Fornasetti reelaborou dando vida a um universo onírico, denso de imagens e cores”, observa Barnaba, ao explicar o segredo da marca. “Uma das particularidades das criações de Fornasetti é que não se encaixam [exatamente] como design ou arte. É pura decoração, ou melhor, arte decorativa. Na minha opinião, é conceitual e emotiva ao mesmo tempo, e se contrapõe à frieza e racionalidade que, muitas vezes, se apresentam nas formas do design.”
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As criações de Piero não se encaixam [exatamente] como design ou arte. São pura arte decorativa, se contrapõem à frieza e racionalidade do design
Estrutura da cadeira Sole, pronta para ser pintada à mão – na parede, a cartela de cores
Laura Fantacuzzi e Maxime Galati Fourcade/Living Inside
Incansável, Barnaba acompanha a criação de novas coleções, participa de todas as colaborações e viaja o planeta divulgando a grife em feiras e eventos. Para o próximo Salão do Móvel, em abril, há já uma lista de lançamentos.“Teremos novidades com a Poltrona Frau, com quem já trabalhamos ano passado, e uma coleção de relógios para casa – mais do que isso não posso contar, para não estragar a surpresa”, brinca ele, que, aos 74 anos, não tem a mínima intenção de se aposentar. “Minha mulher já avisou que tenho de viver até os 100. Afinal, no mundo Fornasetti, o lema é ‘be the one who dreams’” (em português, “seja aquele que sonha”).
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