Luz branca ou amarela? Tudo o que você precisa saber sobre a temperatura de cor

Se eu falasse só sobre temperatura de cor todos os dias no meu Instagram, ainda assim teria assunto para meses. Esse tema rende e divide opiniões. Muita gente acha que se resume a gosto pessoal, mas a verdade é algo que vai muito além.
Quando entendemos a ciência por trás da iluminação, tudo muda. Escolher entre uma lâmpada amarela ou branca não é só uma questão estética, é uma decisão que afeta o bem-estar, a funcionalidade e até como percebemos um espaço.
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A temperatura de cor é a forma que usamos para descrever a tonalidade da luz emitida por uma fonte; ela é medida em Kelvin (K). Quanto mais baixa for a temperatura, mais quente e amarelada é a luz. Por outro lado, quanto mais alta, mais fria e azulada.
De maneira geral, classificamos a luz como quente quando a temperatura está entre 2.700 K e 3.000 K, a luz neutra em 4.000 K, e a luz fria acima de 5.000 K. Mais importante do que decorar esses números, é entender o efeito que cada uma dessas temperaturas provoca no espaço e nas pessoas.
A temperatura da luz afeta diretamente nosso humor, concentração e relógio biológico, pois simula a variação da luz natural ao longo do dia. Estudos mostram que luzes quentes acolhem, enquanto luzes frias aumentam o foco e o estado de alerta. No projeto do escritório NV Arquitetura, a iluminação indireta, com o mínimo possível de pontos no forro, executada pela empresa Stella, deu espaço para os efeitos de luzes e sombras das luminárias decorativas da Lucendi, com o propósito de valorizar a madeira
Lucas Franck/Divulgação
Você pode estar se perguntando: “Por que isso importa nos projetos de interiores e arquitetura?”. E eu te digo: porque a temperatura da luz influencia diretamente como nos sentimos e nos comportamos em um ambiente. A luz impacta nosso humor, capacidade de concentração e até o nosso relógio biológico, especificamente, o ciclo circadiano.
Aqui entra um ponto essencial que muita gente não percebe. A luz artificial foi criada, justamente, para se assemelhar à luz natural. Ao longo do dia, a luz do sol varia tanto em intensidade quanto em tonalidade. De manhã cedo e no fim da tarde, ela é mais quente, com tons dourados e alaranjados. No meio do dia, fica mais fria e azulada, com intensidade maior.
Quando usamos iluminação artificial de forma inteligente, estamos tentando replicar esse comportamento natural da luz, adaptando a iluminação aos diferentes momentos do dia e às diferentes funções do espaço. É isso que chamamos de iluminação centrada no ser humano conhecida como Human Centric Lighting, uma abordagem que busca alinhar a luz artificial às necessidades biológicas e emocionais das pessoas.
A luz fria não ilumina mais. Ter um ambiente claro depende dos lúmens, não da temperatura de cor. Escolher a luz certa é questão de contexto, não de aparência. Projeto da arquiteta Duda Senna
Mariana Orsi/Divulgação
Um estudo publicado no Journal of Environmental Psychology mostrou que luzes com temperatura de cor mais baixa, ou seja, mais quentes, promovem sensações de conforto e acolhimento, enquanto luzes com temperatura mais alta, mais frias, aumentam o estado de alerta e favorecem tarefas que exigem foco. Esse estudo, feito pelos pesquisadores Baron, R. A., Rea, M. S., & Daniels, S. G, em 1992, reforça o que a prática já nos mostra todos os dias: a luz interfere diretamente no comportamento e na produtividade das pessoas.
Uma pergunta que eu recebo com frequência é: “Qual é a temperatura de cor ideal para cada ambiente?”. A resposta é: depende. Antes de tudo, é preciso entender quais são as atividades realizadas em cada espaço.
Em residências, por exemplo, onde buscamos conforto e relaxamento, os tons quentes são os mais indicados. Já, em cozinhas industriais, escritórios corporativos e ambientes de trabalho, que exigem atenção e foco, os tons neutros funcionam melhor.
No caso de hospitais, laboratórios e galpões industriais — espaços técnicos e funcionais — a luz fria costuma ser a escolha mais adequada por reforçar a sensação de estado de alerta. Não existe uma resposta correta, existe contexto por trás da escolha.
Com a tecnologia LED, é possível variar a temperatura de cor ao longo do dia, adaptando a luz ao uso e bem-estar no ambiente. Ao fundo, a escada com degraus de madeira da Indusparquet recebeu corrimão embutido com LED executado em obra no projeto do escritório VOA Arquitetura
Rafael Renzo/Divulgação
Isso significa que a luz fria ilumina mais? Não! Existe um mito comum de que a luz branca ilumina mais do que a luz amarela. E isso não é verdade.
O que determina o quanto uma lâmpada ilumina é o seu fluxo luminoso, medido em lúmens, e não a temperatura de cor. Uma lâmpada de 3.000K (luz quente) pode iluminar tanto quanto uma de 6.500K (luz fria), desde que ambas tenham a mesma quantidade de lúmens.
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O que acontece é que a luz branca, por ter uma tonalidade mais fria, cria uma sensação visual de maior claridade, principalmente, em superfícies claras. Mas isso não significa que ela seja mais eficiente. Na prática, escolher uma luz só porque “parece mais clara” pode comprometer o conforto do ambiente, se ela não for adequada à função e à atmosfera desejada.
O bom é que, com os avanços da tecnologia LED, hoje temos muito mais possibilidades de controle. Já é possível encontrar luminárias que permitem a variação de temperatura de cor ao longo do dia, transformando completamente a experiência em um mesmo ambiente.
A coerência entre a estética, a utilização e a iluminação de um ambiente é fundamental. Os abajures estão embutidos na base do sofá e a iluminação indireta também é feita por régua de led embaixo do sofá no projeto do escritório Pascali Semerdjian
Fran Parente/Divulgação
Agora, um exemplo simples: imagine um home office que usa luz fria durante o expediente, favorecendo a concentração, e que, no fim da tarde, muda para uma luz mais quente, criando uma atmosfera de relaxamento quando o espaço se transforma em sala de leitura. Esse é um projeto de iluminação pensado no bem-estar real das pessoas.
Mas é exatamente por termos tantas opções que os erros também aparecem. É comum ver ambientes com temperaturas de cor — luz fria de um lado, quente do outro — criando confusão visual e sensação de desconforto. Isso pode anular completamente o efeito planejado para aquele espaço.
A iluminação precisa ser coerente com a proposta do cômodo, com a paleta de cores, com os materiais e, principalmente, com o uso daquele recinto. Costumo dizer que iluminação não serve só para enxergar, serve para sentir.
Quando projetamos luz, estamos projetando sensações. A mesma sala, com a mesma decoração, pode parecer acolhedora ou fria, elegante ou sem vida — tudo isso dependendo da luz. Por isso, a temperatura de cor não é um detalhe técnico ou um capricho estético. É uma decisão de projeto. Quanto mais consciência tivermos sobre isso, mais potência criativa e sensível conseguimos trazer para os interiores.

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