Mangal das Garças: tudo sobre o projeto paisagístico de Rosa Grena Kliass em Belém

Parada obrigatória para os participantes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontece de 10 a 21 de novembro, o Parque Zoobotânico Mangal das Garças é uma das muitas atrações naturais da cidade de Belém do Pará.
Inaugurado em 2005, após a revitalização de uma área de cerca de 40 mil m² às margens do Rio Guamá, no centro da cidade, ele foi projetado por Rosa Kliass, considerada uma das mais importantes arquitetas paisagistas brasileiras contemporâneas.
Desde que foi aberto, o parque se transformou em um dos principais atrativos de Belém, com vegetação típica da Amazônia e uma vasta fauna local. Por ano, ele recebe mais de 350 mil visitantes.
Vista aérea destaca as áreas do Mangal das Garças, um projeto da arquiteta paisagista Rosa Kliass
Akira/Divulgação
“O projeto surgiu com o objetivo de criar um espaço que unisse preservação ambiental, educação e lazer no coração de Belém. A ideia era proporcionar ao público uma experiência imersiva na flora e na fauna amazônicas, promovendo a aproximação das pessoas com a natureza em meio à cidade”, conta Basílio Guerreiro, biólogo do parque.
O local em que o parque foi construído era uma grande área de várzea, que estava antes sob custódia do exército. “Como era uma área de mangue, e a água subia e descia, os militares resolveram aterrar tudo e fazer um muro para conter essa invasão do rio. E o que ficou? Uma área imensa, com capim”, conta Rosa Grena Kliass, em entrevista à Universidade Federal de Goiás (UFG).
O Mangal das Garças, em Belém do Pará, recebe mais de 350 mil visitantes por ano
Beatriz Santos/Divulgação
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Segundo Basílio, a escolha do local se deu por suas condições paisagísticas e pela proximidade com o Rio Guamá, o que permite oferecer aos cidadãos um refúgio de tranquilidade no centro histórico da cidade. Paulo Chaves, então secretário do Estado, tinha em mente instalar um restaurante à beira-rio para contemplar a vista da cidade com as torres das igrejas.
Quando visitou o local, no entanto, os planos mudaram. Rosa notou no terreno um conjunto tímido de aningas, planta típica das regiões ribeirinhas do norte do Brasil.
O Mangal das Garças foi erguido às margens do Rio Guamá, onde antes era uma área militar
Beatriz Santos/Divulgação
“Eu disse: nós não vamos fazer aterro aqui. Você está vendo essa plantinha aqui? Isso se chama aninga. É uma planta típica e nenhuma cidade mais preservou. Esse é o último resquício em área urbana. Nós não podemos destruir. E depois, quando a gente tirar este muro e deixar o rio entrar, elas vão ficar com cinco metros de altura”, relembra Rosa.
Desta forma, as aningas tiveram papel central no planejamento do Mangal das Garças, que foi organizado para preservar essa espécie nativa.
Para preservar as aningas, plantas típicas da amazônica, o Mangal da Garças ganhou uma passarela sobre o mangue
Beatriz Santos/Divulgação
O restaurante foi deslocado para a área de terra e foi instalada uma passarela de palafitas de madeira sobre a área do mangue, que leva até um mirante sobre o rio, de onde é possível ver as torres das igrejas de Feliz Lusitânia, como é chamado o centro histórico da cidade. “Foi uma grande vitória”, comemora Rosa.
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As aningas existentes foram preservadas e outras novas foram cultivadas, transformando a antiga área devastada, quase sem vegetação, em um espaço verde à beira-rio. Hoje, as plantas ultrapassam 7 m de altura com folhas de 1,5 m.
“Elas têm um papel fundamental na estabilização do solo, prevenindo a erosão e o assoreamento. Também aproveitamos as suas características para criar sombras, caminhos, lagos e áreas de convivência, garantindo que a vegetação nativa fosse valorizada e integrando a experiência do público à natureza local”, comenta Basílio.
O Farol de Belém, no Mangal das Garças, é uma torre metálica de 47 m de altura com vista panorâmica
Beatriz Santos/Divulgação
Segundo o biólogo, toda a construção e a manutenção do parque foram feitas com técnicas que respeitam o meio ambiente e aproveitam os recursos locais.
“Integramos a arquitetura com a paisagem natural. Além disso, os projetos educativos e artísticos, como o EcoArte, utilizam materiais reutilizáveis e promovem atividades que valorizam práticas sustentáveis”, relata Basílio.
O pavilhão de madeira do Mangal das Garças abriga um museu e um restaurante no piso superior
Beatriz Santos/Divulgação
Os elementos do projeto
O Mangal das Garças foi organizado em dois setores, um mais construído, logo na entrada, que abriga a praça central com o Armazém do Tempo, pavilhão de estrutura metálica reciclada destinado a eventos; e o edifício principal de madeira, com o restaurante no piso superior e, no térreo, o Memorial Amazônico da Navegação, espaço com exibições sobre a evolução dos meios de transporte na região.
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“O segundo setor expressa mais explicitamente o caráter naturalístico adotado para o projeto, que estabeleceu critérios de valorização do sítio, pela recuperação do imenso aningal e pela criação de ambientes representativos das três grandes regiões florísticas do estado do Pará: os campos, as áreas de várzea e as matas de terra firme, através da introdução de vegetação nativa de cada uma dessas regiões”, destaca artigo da UFG.
O Mangal das Garças é um refúgio ecológico no meio do centro histórico de Belém do Pará
Agência Pará/Divulgação
A água foi colocada como elemento condutor dos trajetos, aparecendo na forma de fonte, cascata e rio sinuoso, desembocando em um grande lago. O caminho é permeado por passarelas e pontes intercalados com pérgulas, conduzindo o visitante até o Farol de Belém, uma torre metálica de 47 m de altura, com vista panorâmica do entorno.
“Enfim, uma alegoria para as águas do rio, que simbolicamente penetravam no parque e criavam as zonas de vegetação do Estado”, descreve o artigo.
Dentro do borboletário do Mangal das Garças são reproduzidas mais de 3 mil borboletas mensalmente
Agência Pará/Divulgação
Contato direto com a natureza
O parque oferece uma combinação de áreas de vegetação nativa, lagos e ilhas de aves e tartarugas, além de programas de reabilitação de animais, observação de espécies de vida livre, e projetos educativos sobre conservação ambiental.
A Organização Social Pará 2000, responsável pelo Mangal da Garças, atua na educação ambiental com projetos voltados para crianças, jovens e adultos. O parque também se destaca na reprodução de guarás, tartarugas, borboletas e abelhas nativas, além de apoiar pesquisas científicas para a preservação da fauna brasileira.
Um grande lago e caminhos de água criam caminhos sinuosos no Mangal das Garças
Beatriz Santos/Divulgação
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O Mangal abriga a Reserva José Márcio Ayres, o 2º maior borboletário da América Latina, com 1.400 m² e mais de 3 mil espécimes nativos produzidos mensalmente. Uma das atividades do espaço é a soltura de borboletas, que ocorre após uma explicação sobre as fases do animal e que permite interação direta com eles.
Destacam-se ainda os passeios diários com rapinantes diurnas e corujas; a observação das abelhas sem ferrão reproduzidas no parque; e as atividades programadas de alimentação de tartarugas, iguanas e garças, ave que deu nome ao parque e que pode ser vista sobrevoando a área em bandos sincronizados todos os dias.
No canto à direita, o borboletário do Mangal das Garças é o 2º maior da América Latina
Beatriz Santos/Divulgação
“Além de lazer, o Mangal é um local muito importante para a cidade e para região de desenvolvimento da ciência, recebendo alunos de graduação e pós-graduação das áreas de biologia, veterinária, zootecnia e turismo, com o objetivo de realizar estudos de conservação da fauna e da flora”, afirma o biólogo.
Serviço
Horários: de terça a domingo, das 8h às 18h. Fecha às segundas para manutenção.
Endereço: Rua Carneiro da Rocha s/n, Cidade Velha, Belém (PA).
Ingresso: Gratuito. Cobrado o aesso a espaços monitorados, como o borboletário, o Memorial da Navegação e o Farol.
Mais informações no site.

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