Maximalismo: o que é, características do estilo e 15 projetos para se inspirar

Se você faz parte do time “menos é mais”, talvez seja a hora de mudar de ideia. Em um mundo que por muito tempo celebrou tons neutros, simplicidade e a discrição do minimalismo, surge um movimento que clama por mais vida, mais cor e mais personalidade: o maximalismo.
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Um estudo recente, intitulado O Novo Desejo de Morar 2025/2026, realizado pela consultoria de inteligência de mercado Humanova, analisou 20 anos de pesquisas no Google. O relatório revela uma mudança significativa nas preferências estéticas: desde 2020, as buscas por “maximalismo” cresceram 300%, enquanto o interesse por “minimalismo” caiu pela metade no mesmo período.
Transição para o estar, com poltronas Vella, da Studio Ambientes. Projeto do arquiteto Marcelo Salum
Arq.verso/Divulgação
Esse resultado mostra o quanto esse estilo ganhou força após a pandemia, como resposta à monotonia, expressando o desejo por experiências sensoriais mais intensas. “Eu associo essa tendência ao momento pós-pandêmico. Após uma grande crise, sentimos necessidade de maior expressão, liberdade estética, sem tantas regras e rigidez”, reflete o arquiteto Marcelo Salum.
“Vejo as pessoas cada vez mais abertas ao aconchego visual e à riqueza de detalhes. Durante muito tempo, houve a valorização do minimalismo quase clínica, onde o vazio era exaltado. Agora, há um desejo crescente por espaços mais humanos, afetivos, com calor e história. A exuberância voltou, e voltou com força”, acrescenta o arquiteto e designer Sig Bergamin.
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Origem e definição da estética maximalista
Essa estética teve origem nos períodos artísticos Barroco e Rococó, conhecidos por sua riqueza de detalhes. O movimento se consolidou com a arquitetura pós-modernista, impulsionado por nomes como Robert Venturi, arquiteto estadunidense que criticava a escassez de ornamentos.
O estilo foi amplamente divulgado e desenvolvido por meio do Memphis Design nos anos 1980, que desafiou o minimalismo com cores vibrantes, formas exageradas e uma mistura de conceitos.
As paredes apresentam boiserie e papel de parede trazido de viagem que faz releitura de toile de jouy. O garden seat foi garimpado, e os tacos são originais da casa. Projeto da arquiteta Paola Ribeiro
Juliano Colodeti/MCA Estúdio/Divulgação
“O maximalismo, que tem suas raízes no luxo e na ornamentação, esteve presente no estilo Barroco do século 18 e na era vitoriana, por uma decoração marcada de papéis de parede, tapeçarias e muitos objetos. Esse estilo valoriza a riqueza e os excessos como demonstração de poder e sofisticação”, explica a arquiteta Paola Ribeiro.
O estilo maximalista combina elementos variados, como quadros e objetos afetivos, pois celebra o exagero, a diversidade e a personalidade em um espaço. Projeto do arquiteto e galerista Carlos Navero
Lufe Gomes/Divulgação
Como indica a etimologia da palavra, maximalismo deriva de “máximo” e reflete a busca pelo extremo, pela abundância e pelo exagero em um contexto específico. “Na decoração, é a exploração intensa de cores, texturas, formas e estilos. Conecto esse estilo a uma liberdade criativa, sem preconceito”, define Marcelo. “A estética do ‘mais é mais’ é, acima de tudo, uma celebração da vida em todas as suas camadas”, completa Sig.
Características principais do maximalismo
O maximalismo valoriza o excesso, a complexidade e a variedade de elementos. “É traduzido como espaços cheios de referências e memórias. Assim como o reflexo da vida, tem cor, texturas, estampas, em um grande exercício de ‘put together’. A casa maximalista tem personalidade, história e muito afeto”, diz Paola.
O maximalismo busca criar um ambiente vibrante, acolhedor e cheio de história, onde cada objeto tem um propósito. O ambiente foi decorado pelo arquiteto e designer de interiores Sig Bergamin
Christian Maldonado/Editora Globo
“É uma linguagem visual rica, vibrante, onde o contraste é intencional e as sobreposições contam histórias. É um estilo que não busca uniformidade, mas sim personalidade e autenticidade. É a arte de combinar o que, à primeira vista, parece não combinar, e fazer disso um resultado harmônico, único e cheio de vida”, acrescenta Sig.
O living exibe, na parede de fundo, tecido listrado da Entreposto e quadro azulado de Gerben Mulder. Banquinhos de artesãos revestidos de tecidos diversos. Destaque para o paisagismo de Anna Luiza Rothier, que plantou em vasos espécies como comigo-ninguém-pode, a preferida da moradora, a estilista Isabela Capeto. Projeto do arquiteto Beto Figueiredo, da Ouriço Arquitetura e Design
André Nazareth/Editora Globo
Como definir a decoração maximalista
Esse conceito celebra a individualidade e a criatividade. Para aplicar o maximalismo, é essencial levar em consideração a autenticidade dos moradores para que a casa seja reflexo de quem são, não apenas um acúmulo de itens.
Sofá adquirido em Família Vende Tudo de Mônica Cullen. Almofada vermelha e papel de parede da estante da Lefil Tecidos. Tapete da Garimpo Velharia.O projeto foi idealizado pela própria dona do apartamento, a Cláudia Ribeiro, mais conhecida como Pixu, com a colaboração de amigos
Cacá Bratke/Editora Globo
“Quando escolho tecidos, junto tudo o que me agrada e vejo a harmonia entre eles. Se escolho uma estampa grande para o sofá, para a poltrona ao lado prefiro um tecido liso ou uma textura bem pequena. Depois vem a escolha das cores da marcenaria e parede. Pego os tecidos escolhidos e vejo os tons que os valorizam para pintar as paredes e móveis. Com toda essa composição pronta, vão vindo mais elementos, como os tapetes, objetos, etc”, detalha Marcelo.
Esta sala sofreu pequenas interferências durante a reforma e ganhou um nova sofá amarelo e um papel de parede listrado no teto. O projeto é do designer de interiores Newton Lima
Rafa Castro/Divulgação
Sig acredita na importância de selecionar o que toca e estabelece conexão. “Tudo pode ser incluído desde que tenha significado, como almofadas estampadas, tapeçarias, móveis com história, quadros, esculturas, livros, luminárias. O maximalismo acolhe o antigo e o contemporâneo, o erudito e o popular, o exótico e o familiar. É um estilo que permite que cada elemento ocupe seu lugar e conte a sua parte da história”, analisa.
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Estratégias para integrar objetos afetivos no maximalismo
Os objetos afetivos são o ponto de partida para criar uma decoração maximalista, pois valoriza a personalidade e a história do morador por meio de itens que contam uma narrativa. “Esses objetos são justamente os que trarão a personalidade dos donos da casa”, afirma Paola.
Nessa cozinha, a moradora abriga a coleção de cuscuzeiras, muitas compradas à beira de estradas. Decoração de Irina Cordeiro, com base arquitetônica assinada pelo escritório Iná Arquitetura
Wesley Diego/Editora Globo
“O ideal é inseri-los de maneira estratégica, com destaque e protagonismo. Às vezes, uma coleção de máscaras africanas ganha vida ao lado de uma pintura moderna; um vaso comprado numa feirinha vira o centro da mesa. O importante é que haja diálogo entre as peças, e que o afeto esteja sempre presente na composição”, exemplifica Sig.
Vitrine de farmácia portuguesa do século 19 expõe pratos e objetos afetivos da família. A decoração foi assinada pelo designer de interiores Felipe de Almeida
Romulo Fialdini/Divulgação
Marcelo comenta que as estratégias podem variar conforme o tamanho e quantidade dos itens. “Se eles forem pequenos, podem estar juntos com os livros e outros objetos numa estante. Dependendo do volume, pode ter uma cristaleira somente para esses objetos, fica mais fácil pela questão da organização e limpeza. Objetos maiores podem estar numa mesa de centro, mesa lateral, num aparador ou bufê”, ele sugere.
Papel do mobiliário no estilo maximalista
O mobiliário é fundamental no maximalismo porque serve como base para a criação de ambientes cheios de personalidade, combinando peças de diferentes épocas e estéticas
“Essa é uma das partes mais deliciosas do processo criativo. Misturar estilos distintos exige cuidado, claro, mas quando bem feito, o resultado é único. Um móvel contemporâneo pode destacar ainda mais a beleza de uma peça antiga, e vice-versa. O segredo é manter o equilíbrio nas proporções, respeitar as escalas e, acima de tudo, confiar no próprio olhar”, coloca Sig.
Ao longo da vida, a apresentadora Rita Batista acumulou um grande acervo de móveis, objetos e obras de arte. O sofá à direita, encontrado em uma garagem, foi devidamente restaurado; e as almofadas são do Miranda Estúdio. A decoração é do arquiteto Roberto Leal Neto, sócio de Naissa Vieiralves no escritório NRArquitetura
Gabriela Daltro/Editora Globo
Marcelo destaca a importância da proporção das peças e a harmonia entre si. “No caso da sala de estar, por exemplo, é melhor todos os assentos e encosto terem medidas semelhantes para gerar um equilíbrio. O design também tem que ser levado em conta. Eu adoro misturar estilos, mas as peças precisam ‘conversar’. Outra dica é que os acabamentos também estejam em sintonia”, ele ressalta.
A artista plástica Fabiana Queiroga criou uma composição de cadeiras para a mesa de jantar e a decoração é completada por uma composição de quadros de forma assimétrica
Rafael Castro/Divulgação
Paola também incentiva a combinação. “Essa é a graça e o exercício da decoração maximalista. Adoro o contraste entre o rústico e o artesanal com o industrial e o tecnológico.”
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Excesso versus harmonia visual
Para evitar que um cômodo maximalista fique confuso e carregado, é fundamental equilibrar o excesso de elementos e criar harmonia visual de forma autêntica, fazendo com que o espaço seja acolhedor e impactante, em vez de caótico e bagunçado. Os elementos devem ser dispostos de maneira intencional, e não como um acúmulo sem sentido.
O sofá da Casa & Forma foi forrado com tecido xadrez da Entreposto. Projeto da arquiteta Babi Teixeira
Juliano Colodeti/MCA Estúdio/Divulgação
“A dica de ouro é não escolher nada aleatoriamente. Para compor um ambiente, por exemplo, posso começar com um revestimento ou tecido do meu agrado, a partir daí todos os elementos são adicionados não perdendo de vista nenhum material escolhido. É muito importante ter todos os elementos reunidos para haver harmonia e coerência estética”, declara Marcelo.
O piso original de mármore quadriculado é um destaque logo na entrada, assim como o aparador vermelho trazido da residência anterior. Projeto da arquiteta Kika Camasmie
Fran Parente/Divulgação
Sig defende que a chave está no olhar treinado e na sensibilidade. “É preciso construir uma narrativa visual com ritmo, equilíbrio e intenção. Misturar por misturar não funciona, mas quando há coerência nas proporções, nas paletas ou nas referências culturais, o resultado é surpreendente. O segredo está em criar conexões entre os elementos, mesmo que não sejam óbvias à primeira vista.”
Parte do living tem, à esquerda, mesa de Eileen Gray ladeada pelas cadeiras Brno, de Mies van der Rohe. O apartamento foi decorado pelo próprio morador, o arquiteto Celso Rayol, um dos sócios-diretores do escritório Cité Arquitetura, ao lado de Fernando Costa. Imóvel arquitetado por Claudio Bernardes
André Nazareth/Divulgação
“O maior segredo para garantir um resultado harmônico é observar o equilíbrio visual entre tantos elementos com texturas e cores diferentes. É treinar o olhar para exercitar esse mix sem medo”, concorda Paola.
O lavabo, cheio de personalidade, tem paredes e teto com revestimento xadrez vermelho da Entreposto, na Cosy Home.Projeto do escritório ARQ+CO Studio
Eduardo Macarios/Divulgação
Dicas extras para não ‘enjoar’ da decoração maximalista
A seguir, confira recomendações dos profissionais para aplicar o estilo com cautela:
Crie espaços de “respiro” para que o olhar possa descansar e as peças se destaquem.
Use uma base neutra para as peças maiores, como sofás, pisos e paredes.
Permita que a ousadia fique em almofadas, tapetes, quadros e sobreposições, criando assim a possibilidade de dosar melhor ou mesmo evoluir na quantidade de elementos e informações.
Utilize a cor como elemento central para auxiliar na composição.
Use a simetria para não pesar; não precisa ser igual, mas manter proporções semelhantes.
“O maximalismo permite movimento. É um estilo que aceita trocas, substituições e pequenas transformações, como mudar a posição de um quadro, trocar as capas das almofadas, reordenar objetos numa estante… Tudo isso já renova a energia do espaço. E como os ambientes são cheios de elementos afetivos, essa conexão emocional também evita o tédio e a casa permanece viva”, finaliza Sig.

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