O miriti é uma palmeira nativa da Amazônia, muito conhecida pela fabricação de brinquedos. Também chamada de buriti, a espécie Mauritia flexuosa tem despontado como uma alternativa sustentável na arquitetura e na decoração.
Leia mais
Adicionar Link
Essa proposta foi apresentada na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura, em São Paulo, por meio do estande do escritório paraense Guá Arquitetura em parceria com o Atelier Miriti Sustentabilidade, comandado pelo artesão Mestre Joel Cordeiro da Silva.
“O miriti é um material tradicional da Amazônia, conhecido há séculos pelas populações ribeirinhas. A Guá Arquitetura passou a pesquisá-lo como material arquitetônico, estrutural e de design, buscando novas aplicações a partir do saber artesanal”, conta Pablo do Vale, sócio do escritório.
O miriti é uma palmeira amazônica cujas hastes podem ser usadas no design e na arquitetura
Scott Zona/Wikimedia Commons
A madeira leve do miriti, que o fez ser conhecido como “isopor natural da Amazônia”, é a base para a criação dos famosos brinquedos artesanais vendidos na época das celebrações do Círio de Nazaré, em Belém. Ele também é o sustento de muitas famílias da cidade de Abaetetuba, também no Pará.
A produção dos brinquedos — que envolve a coleta do miriti, o corte, o entalhe, o lixamento, a selagem, a pintura e a montagem das peças — é tombada como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Coloridos, leves e feitos à mão, os brinquedos de miriti são tradição viva do Círio de Nazaré, em Belém do Pará
Paulo Amorim/GettyImages
Na Bienal, o miriti foi apresentado em três formas de utilização: como madeira laminada colada (MLC), formando um banco estrutural; cortinas de talas feitas com o material bruto, sem beneficiamento, criando filtros de luz e ventilação; e paredes translúcidas de papel produzido a partir do pó e da serragem de miriti com fibras de abacaxi, criado pela artesã Nazaré Alvino.
“Esses exemplos mostram que o material pode ser usado em revestimentos, divisórias e elementos arquitetônicos. Em breve, mostraremos também as suas aplicações em móveis”, revela Pablo.
O miriti foi exposto na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura em três formas: MLC, bruto e papel
Manuel Sá/Divulgação
De acordo com o arquiteto, as aplicações ainda estão em fase de pesquisa e prototipagem, mas o potencial é grande. “No momento, o material está em desenvolvimento e não está disponível para venda em escala comercial. O trabalho é experimental e envolve oficinas artesanais de Abaetetuba”, conta.
Uma das principais frentes é que o miriti possa se tornar uma alternativa de baixo impacto ao MDF e outros painéis industrializados. “Cerca de seis vezes mais leve, é um material do futuro feito com conhecimento ancestral dos povos da floresta”, declara.
O miriti pode servir para criar estruturas de madeira laminada colada (MLC)
Manuel Sá/Divulgação
Na forma bruta, o miriti é naturalmente mais frágil e poroso que a madeira, mas Pablo acredita que, com o desenvolvimento de processos como técnicas de MLC e prensagem, a resistência e durabilidade devem aumentar significativamente.
“Assim, ele se torna aplicável em contextos estruturais, aproximando-se do desempenho de painéis convencionais com muito mais sustentabilidade”, acrescenta Pablo.
Anos de experiências e pesquisas
O biocompensado de miriti foi desenvolvido pelo Mestre Joel entre 2003 e 2006, época em que ele começou a visualizar aplicações em design e arquitetura para o material por suas propriedades termoacústicas. “Entendemos que tínhamos um material que poderia ser usado em forros de casas, revestimentos de paredes e divisórias”, lembra o artesão.
Leia mais
Adicionar Link
Segundo Pablo, uma das grandes vantagens do miriti é ser um material renovável e sustentável. “Enquanto o MDF depende de cortes de árvores e processos industriais intensivos, o miriti é obtido a partir da poda simples de uma palmeira manejada de forma regenerativa, sem derrubada de árvores”, ele afirma.
Ribeirinho corta a haste da folha do miriti para a extração de sua palha e madeira
Joel Cordeiro da Silva/Divulgação
De baixo impacto ambiental, o miriti é obtido a partir das hastes (pecíolo) das folhas mais antigas, também chamadas de “braços”, e não se derruba a palmeira. A poda criteriosa, no tempo certo, estimula a brotação e mantém o ciclo produtivo.
“Depois que a tala [palha] era retirada para a fabricação de cestos, o restante do material, chamado de bucha, muitas vezes era descartado na natureza. Hoje, com a tecnologia do biocompensado e com outras que estamos pesquisando e desenvolvendo, transformamos essas buchas, que eram lixos, em um produto de alto valor agregado e que cria uma nova cadeira produtiva na Amazônia”, relata Joel.
A parte interna da haste do miriti pode ser usada em móveis e materiais de construção
Joel Cordeiro da Silva/Divulgação
Atualmente, cerca de 100 famílias do município de Abaitetuba trabalham junto à sua empresa, oficializada em 2010. Para esses ribeirinhos, o miriti funciona como uma segunda fonte de renda para o período de entressafra da colheita do açaí, que dura de agosto a dezembro.
“Vai acontecer com o miriti o mesmo que aconteceu com o açaí, que há 40 anos ninguém conhecia e hoje é uma das maiores commodities do Brasil”, acredita Joel. “Desejo que esse crescimento ajude muitas pessoas a saírem da pobreza e alcancem uma vida mais digna. Esse é o meu sonho.”
Leia mais
Adicionar Link
Uma das grandes vantagens do miriti é seu aproveitamento integral. A madeira dá origem aos tradicionais brinquedos artesanais; os frutos viram doces, compotas, bebidas e óleo; a palha é usada na construção de cabanas; a tala serve para redes, cestos e embalagens; e até a serragem pode ser transformada em papel.
“Eu faço embalagens, mas consigo transformar esse material em objetos decorativos, móveis e utilitários, como bandejas, mesas e bancos. Tudo com essa tecnologia que temos de transformar a bucha de miriti em um biocompensado”, explica Joel.
O miriti é seis vezes mais leve que o MDF e não derruba nenhuma árvore para ser produzido
Manuel Sá/Divulgação
Trabalho social e ecológico
Hoje, o Atelier Miriti Sustentabilidade atende clientes em todo o Brasil que querem trabalhar com materiais inovadores. Com capacidade para produzir até 50 m² de biocompensado por dia, o empreendimento ainda enfrenta o desafio da baixa demanda.
Para viabilizar o uso do miriti em larga escala, Joel defende que o material e suas técnicas de fabricação precisam de maior respaldo institucional. Ele aponta a importância do envolvimento de entidades públicas, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e de centros acadêmicos, como universidades públicas, na realização de estudos que comprovem os benefícios sociais e econômicos do miriti.
O pó e serragem do miriti, junto com fibras de abacaxi, servem para criar folhas de papel
Manuel Sá/Divulgação
“Buscamos muito esse relacionamento. Mas, por ser uma matéria-prima nova, ainda é difícil encontrar parceiros dispostos a investir em pesquisas e enxergar o miriti como uma commodity capaz de gerar uma nova cadeia produtiva na Amazônia — sem derrubar nenhuma árvore. Pelo contrário: em vez de derrubar, planta-se”, ele argumenta.
Leia mais
Adicionar Link
Por ser um material ainda recente no mercado, o biocompensado de miriti tem custo semelhante ao da madeira convencional. Sua principal vantagem está no impacto positivo que gera nas comunidades locais e na promoção de práticas sustentáveis na Amazônia.
O fruto do miriti, além de alimento tradicional da Amazônia, é matéria-prima para óleos, doces e bebidas
Zimbres/Wikimedia Commons
“O miriti começa a gerar retorno financeiro entre três e quatro anos, com produtividade que pode se estender por até 20 anos. Quando a palmeira atinge grande altura e dificulta a retirada das hastes, os frutos passam a ser comercializados. Por isso, acredito que esse processo é muito mais viável do que o cultivo de madeiras na Amazônia”, avalia Joel que, dentro do Atelier Miriti Sustentabilidade, oferece oficinas para ensinar os saberes ancestrais em relação ao miriti e suas novas aplicações.
“Queremos que essas tecnologias sociais se espalhem cada vez mais por outras comunidades. O que mais me alegra é poder compartilhar o processo do miriti, revelar o valor que ele carrega e mostrar às pessoas que a solução para seus problemas está aqui, bem ao lado”, completa o artesão.
Alternativa ao isopor
Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) usaram o miriti para criar um substituto biodegradável para o poluente isopor, usado na construção civil como isolante térmico e acústico, mostrando mais uma vez o potencial da palmeira amazônica.
“Começamos a fazer uma avaliação das propriedades mecânicas, o comportamento do material, e também propriedades físicas, como ele reage quando é colocado em exposição a altas temperaturas. Quando nos deparamos com algumas propriedades vantajosas, percebemos que poderíamos trazer esse material com apelo sustentável, com o objetivo principal de substituir o isopor na construção civil”, explicou a pesquisadora Alessandra Batista em entrevista ao Jornal da USP.
O miriti está pronto para ter suas hastes podadas entre três e quatro anos após o plantio
Flickr/Mauricio Mercadante/Creative Commons
A ideia do material, já testado e patenteado, é uma produção de baixo custo, sem a necessidade de maquinários dispendiosos. “Trazemos uma metodologia que possamos entregar tanto nas comunidades locais como construir esse material lá na Amazônia. Trazemos sustentabilidade pelo tipo de material, agregamos valor e trabalhamos a bioeconomia na região”, falou Alessandra.
Leia mais
o
O material agora aguarda a produção em escala industrial. “Se pensamos em trazer isso para a comunidade, não podemos só ter resultados em nível laboratorial, precisamos de avanços em nível industrial”, ela afirmou.
Design com miriti
Filho de caboclos da Amazônia, o artesão e designer Marcelo Vaz viu uma oportunidade de comunicar as suas origens e ancestralidade ao mundo por meio da arte com miriti. “Desde a infância, essa relação já se faz de forma muito intensa, pois é cultural utilizar o miriti como matéria-prima para fazer a boia para aprender a nadar em nossos rios, ou modelar brinquedos, como canoas, barquinho, entre outros”, ele conta.
Assim nasceu a marca DIMIRITI, impulsionada pelo desejo de criar peças autorais que enaltecem os materiais da Amazônia e difundem os saberes ancestrais das comunidades locais.
O lustre ATURÁ ñe’é, do artesão e designer Marcelo Vaz, é feito com miriti
DIMIRITI/Divulgação
“Meus pais e parentes, tios, avôs eram artesãos, faziam cuia, cestarias, pinturas, restauração de santos e mantinham como profissão a cultura dos povos originários, rica e inspiradora. No entanto, se tornou preocupante perceber na região o declínio destas atividades com o passar do tempo”, recorda Marcelo.
Sua produção utiliza como base o artesanato tradicional, mas com estética inovadora. Além de itens decorativos, a marca traz utilitários, luminárias, móveis autorais e artefatos de arte contemporânea.
Aves amazônicas feitas de miriti pelo artesão e designer Marcelo Vaz
DIMIRITI/Divulgação
“Mais do que produzir, eu queria representar, mostrar ao mundo que aqui também tem inovação — mas uma inovação que nasce do barro, do miriti, da madeira deixada pelos rios. Com isso, quero trazer um novo olhar sobre os nossos saberes e a nossa gente”, declara Marcelo.
Leia mais
Hoje, cerca de 15 pessoas das comunidades ribeirinhas participam diretamente na produção das peças. “O que oferecemos é um olhar amazônico sobre o fazer criativo. Tem estética, tem técnica, mas tem, acima de tudo, respeito pelo saber ancestral. Não é só produto, é resistência cultural defendendo seu território”, aponta o artista.
Leia mais
Adicionar Link
Essa proposta foi apresentada na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura, em São Paulo, por meio do estande do escritório paraense Guá Arquitetura em parceria com o Atelier Miriti Sustentabilidade, comandado pelo artesão Mestre Joel Cordeiro da Silva.
“O miriti é um material tradicional da Amazônia, conhecido há séculos pelas populações ribeirinhas. A Guá Arquitetura passou a pesquisá-lo como material arquitetônico, estrutural e de design, buscando novas aplicações a partir do saber artesanal”, conta Pablo do Vale, sócio do escritório.
O miriti é uma palmeira amazônica cujas hastes podem ser usadas no design e na arquitetura
Scott Zona/Wikimedia Commons
A madeira leve do miriti, que o fez ser conhecido como “isopor natural da Amazônia”, é a base para a criação dos famosos brinquedos artesanais vendidos na época das celebrações do Círio de Nazaré, em Belém. Ele também é o sustento de muitas famílias da cidade de Abaetetuba, também no Pará.
A produção dos brinquedos — que envolve a coleta do miriti, o corte, o entalhe, o lixamento, a selagem, a pintura e a montagem das peças — é tombada como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Coloridos, leves e feitos à mão, os brinquedos de miriti são tradição viva do Círio de Nazaré, em Belém do Pará
Paulo Amorim/GettyImages
Na Bienal, o miriti foi apresentado em três formas de utilização: como madeira laminada colada (MLC), formando um banco estrutural; cortinas de talas feitas com o material bruto, sem beneficiamento, criando filtros de luz e ventilação; e paredes translúcidas de papel produzido a partir do pó e da serragem de miriti com fibras de abacaxi, criado pela artesã Nazaré Alvino.
“Esses exemplos mostram que o material pode ser usado em revestimentos, divisórias e elementos arquitetônicos. Em breve, mostraremos também as suas aplicações em móveis”, revela Pablo.
O miriti foi exposto na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura em três formas: MLC, bruto e papel
Manuel Sá/Divulgação
De acordo com o arquiteto, as aplicações ainda estão em fase de pesquisa e prototipagem, mas o potencial é grande. “No momento, o material está em desenvolvimento e não está disponível para venda em escala comercial. O trabalho é experimental e envolve oficinas artesanais de Abaetetuba”, conta.
Uma das principais frentes é que o miriti possa se tornar uma alternativa de baixo impacto ao MDF e outros painéis industrializados. “Cerca de seis vezes mais leve, é um material do futuro feito com conhecimento ancestral dos povos da floresta”, declara.
O miriti pode servir para criar estruturas de madeira laminada colada (MLC)
Manuel Sá/Divulgação
Na forma bruta, o miriti é naturalmente mais frágil e poroso que a madeira, mas Pablo acredita que, com o desenvolvimento de processos como técnicas de MLC e prensagem, a resistência e durabilidade devem aumentar significativamente.
“Assim, ele se torna aplicável em contextos estruturais, aproximando-se do desempenho de painéis convencionais com muito mais sustentabilidade”, acrescenta Pablo.
Anos de experiências e pesquisas
O biocompensado de miriti foi desenvolvido pelo Mestre Joel entre 2003 e 2006, época em que ele começou a visualizar aplicações em design e arquitetura para o material por suas propriedades termoacústicas. “Entendemos que tínhamos um material que poderia ser usado em forros de casas, revestimentos de paredes e divisórias”, lembra o artesão.
Leia mais
Adicionar Link
Segundo Pablo, uma das grandes vantagens do miriti é ser um material renovável e sustentável. “Enquanto o MDF depende de cortes de árvores e processos industriais intensivos, o miriti é obtido a partir da poda simples de uma palmeira manejada de forma regenerativa, sem derrubada de árvores”, ele afirma.
Ribeirinho corta a haste da folha do miriti para a extração de sua palha e madeira
Joel Cordeiro da Silva/Divulgação
De baixo impacto ambiental, o miriti é obtido a partir das hastes (pecíolo) das folhas mais antigas, também chamadas de “braços”, e não se derruba a palmeira. A poda criteriosa, no tempo certo, estimula a brotação e mantém o ciclo produtivo.
“Depois que a tala [palha] era retirada para a fabricação de cestos, o restante do material, chamado de bucha, muitas vezes era descartado na natureza. Hoje, com a tecnologia do biocompensado e com outras que estamos pesquisando e desenvolvendo, transformamos essas buchas, que eram lixos, em um produto de alto valor agregado e que cria uma nova cadeira produtiva na Amazônia”, relata Joel.
A parte interna da haste do miriti pode ser usada em móveis e materiais de construção
Joel Cordeiro da Silva/Divulgação
Atualmente, cerca de 100 famílias do município de Abaitetuba trabalham junto à sua empresa, oficializada em 2010. Para esses ribeirinhos, o miriti funciona como uma segunda fonte de renda para o período de entressafra da colheita do açaí, que dura de agosto a dezembro.
“Vai acontecer com o miriti o mesmo que aconteceu com o açaí, que há 40 anos ninguém conhecia e hoje é uma das maiores commodities do Brasil”, acredita Joel. “Desejo que esse crescimento ajude muitas pessoas a saírem da pobreza e alcancem uma vida mais digna. Esse é o meu sonho.”
Leia mais
Adicionar Link
Uma das grandes vantagens do miriti é seu aproveitamento integral. A madeira dá origem aos tradicionais brinquedos artesanais; os frutos viram doces, compotas, bebidas e óleo; a palha é usada na construção de cabanas; a tala serve para redes, cestos e embalagens; e até a serragem pode ser transformada em papel.
“Eu faço embalagens, mas consigo transformar esse material em objetos decorativos, móveis e utilitários, como bandejas, mesas e bancos. Tudo com essa tecnologia que temos de transformar a bucha de miriti em um biocompensado”, explica Joel.
O miriti é seis vezes mais leve que o MDF e não derruba nenhuma árvore para ser produzido
Manuel Sá/Divulgação
Trabalho social e ecológico
Hoje, o Atelier Miriti Sustentabilidade atende clientes em todo o Brasil que querem trabalhar com materiais inovadores. Com capacidade para produzir até 50 m² de biocompensado por dia, o empreendimento ainda enfrenta o desafio da baixa demanda.
Para viabilizar o uso do miriti em larga escala, Joel defende que o material e suas técnicas de fabricação precisam de maior respaldo institucional. Ele aponta a importância do envolvimento de entidades públicas, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e de centros acadêmicos, como universidades públicas, na realização de estudos que comprovem os benefícios sociais e econômicos do miriti.
O pó e serragem do miriti, junto com fibras de abacaxi, servem para criar folhas de papel
Manuel Sá/Divulgação
“Buscamos muito esse relacionamento. Mas, por ser uma matéria-prima nova, ainda é difícil encontrar parceiros dispostos a investir em pesquisas e enxergar o miriti como uma commodity capaz de gerar uma nova cadeia produtiva na Amazônia — sem derrubar nenhuma árvore. Pelo contrário: em vez de derrubar, planta-se”, ele argumenta.
Leia mais
Adicionar Link
Por ser um material ainda recente no mercado, o biocompensado de miriti tem custo semelhante ao da madeira convencional. Sua principal vantagem está no impacto positivo que gera nas comunidades locais e na promoção de práticas sustentáveis na Amazônia.
O fruto do miriti, além de alimento tradicional da Amazônia, é matéria-prima para óleos, doces e bebidas
Zimbres/Wikimedia Commons
“O miriti começa a gerar retorno financeiro entre três e quatro anos, com produtividade que pode se estender por até 20 anos. Quando a palmeira atinge grande altura e dificulta a retirada das hastes, os frutos passam a ser comercializados. Por isso, acredito que esse processo é muito mais viável do que o cultivo de madeiras na Amazônia”, avalia Joel que, dentro do Atelier Miriti Sustentabilidade, oferece oficinas para ensinar os saberes ancestrais em relação ao miriti e suas novas aplicações.
“Queremos que essas tecnologias sociais se espalhem cada vez mais por outras comunidades. O que mais me alegra é poder compartilhar o processo do miriti, revelar o valor que ele carrega e mostrar às pessoas que a solução para seus problemas está aqui, bem ao lado”, completa o artesão.
Alternativa ao isopor
Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) usaram o miriti para criar um substituto biodegradável para o poluente isopor, usado na construção civil como isolante térmico e acústico, mostrando mais uma vez o potencial da palmeira amazônica.
“Começamos a fazer uma avaliação das propriedades mecânicas, o comportamento do material, e também propriedades físicas, como ele reage quando é colocado em exposição a altas temperaturas. Quando nos deparamos com algumas propriedades vantajosas, percebemos que poderíamos trazer esse material com apelo sustentável, com o objetivo principal de substituir o isopor na construção civil”, explicou a pesquisadora Alessandra Batista em entrevista ao Jornal da USP.
O miriti está pronto para ter suas hastes podadas entre três e quatro anos após o plantio
Flickr/Mauricio Mercadante/Creative Commons
A ideia do material, já testado e patenteado, é uma produção de baixo custo, sem a necessidade de maquinários dispendiosos. “Trazemos uma metodologia que possamos entregar tanto nas comunidades locais como construir esse material lá na Amazônia. Trazemos sustentabilidade pelo tipo de material, agregamos valor e trabalhamos a bioeconomia na região”, falou Alessandra.
Leia mais
o
O material agora aguarda a produção em escala industrial. “Se pensamos em trazer isso para a comunidade, não podemos só ter resultados em nível laboratorial, precisamos de avanços em nível industrial”, ela afirmou.
Design com miriti
Filho de caboclos da Amazônia, o artesão e designer Marcelo Vaz viu uma oportunidade de comunicar as suas origens e ancestralidade ao mundo por meio da arte com miriti. “Desde a infância, essa relação já se faz de forma muito intensa, pois é cultural utilizar o miriti como matéria-prima para fazer a boia para aprender a nadar em nossos rios, ou modelar brinquedos, como canoas, barquinho, entre outros”, ele conta.
Assim nasceu a marca DIMIRITI, impulsionada pelo desejo de criar peças autorais que enaltecem os materiais da Amazônia e difundem os saberes ancestrais das comunidades locais.
O lustre ATURÁ ñe’é, do artesão e designer Marcelo Vaz, é feito com miriti
DIMIRITI/Divulgação
“Meus pais e parentes, tios, avôs eram artesãos, faziam cuia, cestarias, pinturas, restauração de santos e mantinham como profissão a cultura dos povos originários, rica e inspiradora. No entanto, se tornou preocupante perceber na região o declínio destas atividades com o passar do tempo”, recorda Marcelo.
Sua produção utiliza como base o artesanato tradicional, mas com estética inovadora. Além de itens decorativos, a marca traz utilitários, luminárias, móveis autorais e artefatos de arte contemporânea.
Aves amazônicas feitas de miriti pelo artesão e designer Marcelo Vaz
DIMIRITI/Divulgação
“Mais do que produzir, eu queria representar, mostrar ao mundo que aqui também tem inovação — mas uma inovação que nasce do barro, do miriti, da madeira deixada pelos rios. Com isso, quero trazer um novo olhar sobre os nossos saberes e a nossa gente”, declara Marcelo.
Leia mais
Hoje, cerca de 15 pessoas das comunidades ribeirinhas participam diretamente na produção das peças. “O que oferecemos é um olhar amazônico sobre o fazer criativo. Tem estética, tem técnica, mas tem, acima de tudo, respeito pelo saber ancestral. Não é só produto, é resistência cultural defendendo seu território”, aponta o artista.