O modernismo e a arquitetura moderna compartilham apenas três coisas: a etimologia, a temporalidade e a beleza de seus edifícios. Por mais surpreendente que nos pareça —e por mais confuso que seja —, na realidade esses dois estilos estão em polos opostos dentro do vasto universo do design arquitetônico.
É certo que, mesmo entre tantas diferenças, é possível construir pontes, e entre o modernismo e a arquitetura moderna existe uma que foi erguida sobre o pilar central da arquitetura do século XX: a inovação, tanto estilística quanto de materiais. Estamos diante do caso peculiar de “são parecidos, mas não são iguais”. Quer nos acompanhar neste percurso para conhecer suas divergências?
Quais são as diferenças entre o modernismo e a arquitetura moderna?
O modernismo buscava as curvas, enquanto a arquitetura moderna se inclinava para o reto
Junypr/Unsplash
Embora ambos os estilos tenham surgido entre os séculos XIX e XX, o que realmente distinguiu o modernismo da arquitetura moderna foi que o primeiro buscava apelar a um sentido estético do natural, com expressões livres e uma tendência ao decorativo, enquanto o segundo se apegava a uma estrutura mais purista e ordenada do design, guiado pelo princípio do simples e funcional. Mas de onde surgiu tal polaridade, se foram movimentos quase simultâneos? A resposta é bem simples: da industrialização e da urbanização. Uma mudança na produção de materiais deu origem a duas vertentes: o modernismo se opôs completamente à homogeneização do design segundo padrões industriais, emulando a natureza em seus edifícios; já a arquitetura moderna abraçou essa mudança, potencializando os novos materiais e suas vantagens em suas construções.
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Lembremos que, na arquitetura, cada movimento costuma ser uma resposta estilística e de valores de design que se antepõe à tendência anterior. Vimos isso com o estilo gótico, cujos desenhos pontiagudos e alturas transcendentais foram substituídos pela arquitetura renascentista e por uma clara inclinação às formas clássicas. A particularidade, porém, do modernismo e da arquitetura moderna é que surgiram muito próximas uma da outra e se desenvolveram quase simultaneamente em diferentes partes do mundo, cada uma em seus contextos específicos. Por exemplo, a arquitetura moderna teve grande destaque na Inglaterra e nos Estados Unidos após as reconstruções da Segunda Guerra Mundial, enquanto o modernismo se consolidou principalmente na Espanha e na França, em áreas burguesas. O arquiteto Antonio Gaudí, por exemplo, foi um grande representante do modernismo dentro da arquitetura do século XX.
Características do modernismo na arquitetura
No modernismo, era comum ver elementos naturais dentro da arquitetura
NuKi Chikhladze/Unsplash
A principal característica do modernismo foi a inserção da natureza na arquitetura, especialmente em fachadas e ferragens. Flores, plantas, libélulas e até dragões compunham o cenário decorativo desse movimento. Naturalmente, a visão da natureza levou ao uso de linhas curvas e formas sinuosas em cada detalhe possível. Às vezes, os desenhos surgiam dessas formas, com arcos, hipérboles e parábolas; em outras ocasiões, recorria-se ao fachadismo, ou seja, ocultar as estruturas por trás de camadas decorativas e ornamentais. Os interiores se destacavam pelo caráter orgânico de suas atmosferas e pelos planos caprichosos.
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Outra característica fundamental do modernismo foi o uso de recursos externos à construção para decorar a arquitetura. Esculturas, pinturas ou mobiliário podiam ser incorporados, desde que seguissem padrões naturais e fantásticos. Essas incorporações estavam naturalmente alinhadas ao movimento Arts & Crafts, promovido por William Morris, que defendia a produção artesanal e o feito à mão em contraposição à indústria. Se nos é difícil separar o modernismo da arquitetura moderna, a forma mais simples é observar os estilos que nasceram dele: o Art Nouveau e o Art Déco, por exemplo. Com essas correntes em mente, fica mais fácil identificar as características que moldaram os edifícios modernistas.
Como a arquitetura moderna se diferencia?
A arquitetura moderna, ao contrário do modernismo, era mais funcional do que estética
Gunnar Ridderström/Unsplash
Do natural para o estrutural; do curvo para o reto; do decorativo para o racional. Diz-se que a arquitetura moderna, também conhecida como estilo internacional ou funcionalismo, foi filha do período pós-guerra, surgindo como o método mais rápido, fácil e eficaz para reconstruir cidades devastadas pelos conflitos bélicos. Por isso, valorizou a produção em massa promovida pela indústria e eliminou de seus projetos toda decoração desnecessária — aspecto fundamental do modernismo, como vimos anteriormente.
Dessas posturas de reconstrução, posteriormente surgiram ideias que, em conjunto, formaram a corrente da arquitetura moderna como a conhecemos hoje. Frases como “a forma segue a função” ou “menos é mais” estão inevitavelmente associadas a esse movimento, que teve tamanha relevância e importância que marcou um antes e um depois na forma de projetar a arquitetura. Leveza, versatilidade e transparência passaram a fazer parte da nova mentalidade dos arquitetos, que não estavam mais limitados por métodos estruturais arcaicos. Como identificar esses edifícios? Pelas construções ortogonais, fachadas sem elementos estruturais aparentes, colunas com grandes vãos entre elas e muita racionalidade nos espaços; esses detalhes denunciam a arquitetura moderna e a diferenciam do modernismo.
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Quais são os 5 princípios da arquitetura moderna?
Enquanto o modernismo era natural, a arquitetura moderna era racional
Gunnar Ridderström/Unsplash
A arquitetura moderna foi tão grandiosa que, ao contrário do modernismo, chegou a ser regulamentada por um grande arquiteto: Le Corbusier. Esse personagem emblemático do mundo arquitetônico desenvolveu as bases do design moderno e estabeleceu os princípios que se espalhariam da Europa às Américas.
Pilotis
O uso de colunas para elevar os edifícios era fundamental para conferir leveza às construções.
Fachada livre
Com essa liberdade estrutural, as fachadas não precisavam mais estar envolvidas por vigas ou colunatas que comprometiam suas proporções.
Planta livre
A arquitetura moderna se caracterizou por oferecer flexibilidade às áreas habitáveis; a planta livre proporcionava o espaço ideal para essa inovação espacial.
Janelas alongadas
Sem estruturas que interrompessem o ritmo do design das fachadas, as janelas se estendiam de ponta a ponta, sem limitações.
Terraço-jardim
O que acontece quando as possibilidades estruturais são infinitas? A vegetação, antes limitada a áreas baixas ou a elementos decorativos, como no modernismo, passou a ocupar os telhados dos edifícios.
Agora que você já conhece as diferenças entre o modernismo e a arquitetura moderna, pode falar sobre Gaudí ou Le Corbusier como uma verdadeira especialista.
*Matéria originalmente publicada na Architectural Digest México
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É certo que, mesmo entre tantas diferenças, é possível construir pontes, e entre o modernismo e a arquitetura moderna existe uma que foi erguida sobre o pilar central da arquitetura do século XX: a inovação, tanto estilística quanto de materiais. Estamos diante do caso peculiar de “são parecidos, mas não são iguais”. Quer nos acompanhar neste percurso para conhecer suas divergências?
Quais são as diferenças entre o modernismo e a arquitetura moderna?
O modernismo buscava as curvas, enquanto a arquitetura moderna se inclinava para o reto
Junypr/Unsplash
Embora ambos os estilos tenham surgido entre os séculos XIX e XX, o que realmente distinguiu o modernismo da arquitetura moderna foi que o primeiro buscava apelar a um sentido estético do natural, com expressões livres e uma tendência ao decorativo, enquanto o segundo se apegava a uma estrutura mais purista e ordenada do design, guiado pelo princípio do simples e funcional. Mas de onde surgiu tal polaridade, se foram movimentos quase simultâneos? A resposta é bem simples: da industrialização e da urbanização. Uma mudança na produção de materiais deu origem a duas vertentes: o modernismo se opôs completamente à homogeneização do design segundo padrões industriais, emulando a natureza em seus edifícios; já a arquitetura moderna abraçou essa mudança, potencializando os novos materiais e suas vantagens em suas construções.
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Vai construir ou reformar? Seleção Archa + Casa Vogue ajuda você a encontrar o melhor arquiteto para seu projeto
Lembremos que, na arquitetura, cada movimento costuma ser uma resposta estilística e de valores de design que se antepõe à tendência anterior. Vimos isso com o estilo gótico, cujos desenhos pontiagudos e alturas transcendentais foram substituídos pela arquitetura renascentista e por uma clara inclinação às formas clássicas. A particularidade, porém, do modernismo e da arquitetura moderna é que surgiram muito próximas uma da outra e se desenvolveram quase simultaneamente em diferentes partes do mundo, cada uma em seus contextos específicos. Por exemplo, a arquitetura moderna teve grande destaque na Inglaterra e nos Estados Unidos após as reconstruções da Segunda Guerra Mundial, enquanto o modernismo se consolidou principalmente na Espanha e na França, em áreas burguesas. O arquiteto Antonio Gaudí, por exemplo, foi um grande representante do modernismo dentro da arquitetura do século XX.
Características do modernismo na arquitetura
No modernismo, era comum ver elementos naturais dentro da arquitetura
NuKi Chikhladze/Unsplash
A principal característica do modernismo foi a inserção da natureza na arquitetura, especialmente em fachadas e ferragens. Flores, plantas, libélulas e até dragões compunham o cenário decorativo desse movimento. Naturalmente, a visão da natureza levou ao uso de linhas curvas e formas sinuosas em cada detalhe possível. Às vezes, os desenhos surgiam dessas formas, com arcos, hipérboles e parábolas; em outras ocasiões, recorria-se ao fachadismo, ou seja, ocultar as estruturas por trás de camadas decorativas e ornamentais. Os interiores se destacavam pelo caráter orgânico de suas atmosferas e pelos planos caprichosos.
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Outra característica fundamental do modernismo foi o uso de recursos externos à construção para decorar a arquitetura. Esculturas, pinturas ou mobiliário podiam ser incorporados, desde que seguissem padrões naturais e fantásticos. Essas incorporações estavam naturalmente alinhadas ao movimento Arts & Crafts, promovido por William Morris, que defendia a produção artesanal e o feito à mão em contraposição à indústria. Se nos é difícil separar o modernismo da arquitetura moderna, a forma mais simples é observar os estilos que nasceram dele: o Art Nouveau e o Art Déco, por exemplo. Com essas correntes em mente, fica mais fácil identificar as características que moldaram os edifícios modernistas.
Como a arquitetura moderna se diferencia?
A arquitetura moderna, ao contrário do modernismo, era mais funcional do que estética
Gunnar Ridderström/Unsplash
Do natural para o estrutural; do curvo para o reto; do decorativo para o racional. Diz-se que a arquitetura moderna, também conhecida como estilo internacional ou funcionalismo, foi filha do período pós-guerra, surgindo como o método mais rápido, fácil e eficaz para reconstruir cidades devastadas pelos conflitos bélicos. Por isso, valorizou a produção em massa promovida pela indústria e eliminou de seus projetos toda decoração desnecessária — aspecto fundamental do modernismo, como vimos anteriormente.
Dessas posturas de reconstrução, posteriormente surgiram ideias que, em conjunto, formaram a corrente da arquitetura moderna como a conhecemos hoje. Frases como “a forma segue a função” ou “menos é mais” estão inevitavelmente associadas a esse movimento, que teve tamanha relevância e importância que marcou um antes e um depois na forma de projetar a arquitetura. Leveza, versatilidade e transparência passaram a fazer parte da nova mentalidade dos arquitetos, que não estavam mais limitados por métodos estruturais arcaicos. Como identificar esses edifícios? Pelas construções ortogonais, fachadas sem elementos estruturais aparentes, colunas com grandes vãos entre elas e muita racionalidade nos espaços; esses detalhes denunciam a arquitetura moderna e a diferenciam do modernismo.
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Quais são os 5 princípios da arquitetura moderna?
Enquanto o modernismo era natural, a arquitetura moderna era racional
Gunnar Ridderström/Unsplash
A arquitetura moderna foi tão grandiosa que, ao contrário do modernismo, chegou a ser regulamentada por um grande arquiteto: Le Corbusier. Esse personagem emblemático do mundo arquitetônico desenvolveu as bases do design moderno e estabeleceu os princípios que se espalhariam da Europa às Américas.
Pilotis
O uso de colunas para elevar os edifícios era fundamental para conferir leveza às construções.
Fachada livre
Com essa liberdade estrutural, as fachadas não precisavam mais estar envolvidas por vigas ou colunatas que comprometiam suas proporções.
Planta livre
A arquitetura moderna se caracterizou por oferecer flexibilidade às áreas habitáveis; a planta livre proporcionava o espaço ideal para essa inovação espacial.
Janelas alongadas
Sem estruturas que interrompessem o ritmo do design das fachadas, as janelas se estendiam de ponta a ponta, sem limitações.
Terraço-jardim
O que acontece quando as possibilidades estruturais são infinitas? A vegetação, antes limitada a áreas baixas ou a elementos decorativos, como no modernismo, passou a ocupar os telhados dos edifícios.
Agora que você já conhece as diferenças entre o modernismo e a arquitetura moderna, pode falar sobre Gaudí ou Le Corbusier como uma verdadeira especialista.
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