Museu Castelinho em Paranapiacaba: o casarão cheio de lendas assustadoras

Concluído no ano de 1897, o Museu Castelo é um casarão histórico no alto de uma colina na Serra do Mar, distante cerca de 50 km da capital paulista. O local já foi o lar de profissionais que atuaram como engenheiro-chefe da estação de trem de Paranapiacaba, em Santo André (SP), gerida pela antiga companhia São Paulo Railway Company.
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Erguido em um dos pontos mais altos da vila, o imóvel proporcionava uma visão completa do pátio ferroviário, de onde partiam e chegavam as locomotivas.
“O Museu Castelo representa a autoridade do chefe da ferrovia, que podia controlar a subida e descida das composições, além de ter uma vista para a torre do relógio e acesso fácil aos galpões de manutenção, forjaria e oficinas”, conta Fabio Picarelli, atual subprefeito de Paranapiacaba.
O Museu Castelinho passou por duas grandes restaurações nos anos de 2005 e 2019
Alex Cavanha/Divulgação
O imóvel de 507 m² é dividido em dois pavimentos e uma ampla varanda. Ao todo, tem 18 cômodos, 33 janelas, seis lareiras e paredes duplas para melhorar a sensação térmica. Do lado externo, um antigo galpão foi transformado em cafeteria.
Devido a sua localização, a residência foi apelidada de “castelo” pelos funcionários, o que explica o nome atual. Diversos engenheiros viveram na casa, sendo o mais notável o inglês Daniel Fox, responsável pela construção da estação Paranapiacaba, na década de 1860.
O Museu Castelinho é um exemplo da utilização da panóptica, construção arquitetônica idealizada para vigilância dos arredores
Webysther/Wikimedia Commons
O edifício também serviu, posteriormente, como seminário de padres e escritório da Rede Ferroviária Federal — empresa estatal brasileira de transporte ferroviário, criada em 1957 e extinta em 2007.
Arquitetura do Museu Castelinho
Na parte arquitetônica, o casarão, por estar em local alto, remete à teoria do panóptico, difundida por Michael Foucault, onde o operário tem a sensação de sempre estar sendo observado. “A posição da casa permite o acompanhamento visual de toda área de trabalho, ou seja, reforça a técnica de fiscalizar, sem interrupção, os trabalhadores”, comenta Fabio.
“Por esse motivo, defendem os moradores, que a expressão ‘para inglês ver’ teria nascido de um suposto hábito dos operários fingirem que estão trabalhando, para tentar driblar os olhos sempre vigilantes do engenheiro-chefe”, continua o subprefeito.
No alto da colina, o Museu Castelinho era o local onde o chefe da ferrovia São Paulo Railway Company podia controlar o pátio ferroviário
Ana Paula Silva Santos/Wikimedia Commons
A casa foi executada, principalmente, em madeira de pinho-de-riga, com algumas paredes de alvenaria de tijolos maciços aparente. As telhas são, em sua maioria, provenientes da cidade de Marselha, na França.
“Ela tem elementos do estilo vitoriano, ao mesmo tempo em que apresenta características de arquitetura industrial, o que faz com que seja exemplar de uma arquitetura exclusiva da vila de Paranapiacaba”, aponta Fabio.
O Museu Castelinho tem características do estilo vitoriano mescladas com elementos da arquitetura industrial
Alex Cavanha/Divulgação
Restaurações do Museu Castelinho
A construção passou por duas grandes restaurações, em 2005 e 2019. “As principais alterações se deram na cozinha, no banheiro e na lavanderia, e houve a colocação de uma rampa de acessibilidade na varanda. Na via de acesso foi instalado um calçamento de pedras onde originalmente existia um calçamento de borra de asfalto”, conta o subprefeito.
Em 2019, a revitalização recuperou elementos danificados, como janelas, fechamentos em madeira e guarda-corpos, e alterou a expografia do museu para uma ambientação mais moderna e próxima do cotidiano dos anos 1930, época do auge da São Paulo Railway Company. “A maioria da edificação foi preservada e restaurada com suas características originais”, ele destaca.
O Museu Castelinho fica no meio da Serra do Mar, distante cerca de 50 km da capital paulista
Alex Cavanha/Divulgação
Hoje, a linha férrea funciona somente para transporte de cargas. O imóvel restaurado se transformou no Museu Castelo, com uma exposição permanente que inclui um acervo parcial da casa, como relógios antigos, poltronas e a sua prancheta de trabalho.
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“O edifício funciona como museu, mostrando como a casa era usada pela família do engenheiro-chefe. Há várias peças do funcionamento administrativo da ferrovia, assim como elementos e ferramentas do uso de funcionários de manutenção, complementadas com elementos cenográficos para melhor entendimento do cotidiano”, diz Fabio.
O Museu Castelinho exibe peças e ferramentas usadas pelos funcionários da São Paulo Railway Company para a manutenção dos trens
Alex Cavanha/Divulgação
A vila de Paranapiaca, erguida de forma planejada ao redor da ferrovia e onde viviam os seus funcionários, tem lares de diferentes configurações: geminadas para as famílias; estilo pensionato para os solteiros; e grandes e com varandas para os engenheiros.
Lendas urbanas do Museu Castelinho
Como muitas construções antigas, o Museu Castelinho é cercado de lendas, o que pode ser um atrativo para os aventureiros de plantão. Uma delas diz que o espírito de Daniel Fox, o primeiro morador, pode ser visto andando pela casa e saindo dos quadros que tem com a sua esposa.
Outra alma penada que supostamente rondaria por ali é a do engenheiro Frederic Mens, que também viveu na residência e dá nome a via de acesso ao local.
A sala de onde o engenheiro-chefe da São Paulo Railway Company trabalhava foi mantida praticamente intacta no Museu Castelinho
Alex Cavanha/Divulgação
A história do “véu da noiva” é uma das mais famosas. Trata-se de uma tragédia romântica: o filho de um engenheiro inglês da São Paulo Railway Company apaixonou-se pela filha de um operário, e mesmo as famílias sendo contrárias à união, eles resolveram se casar. Porém, no dia do casamento, o rapaz teria sido trancado no porão do Castelinho, deixando a noiva esperando no altar.
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“A pobre moça, ainda vestida de noiva e desolada pelo ocorrido, pegou o primeiro trem em direção à Baixada Santista e, quando a composição atravessava a ponte da Grota Funda, jogou-se no precipício. Conta a lenda que a neblina que invade a vila de Paranapiacaba é o longo véu da noiva que sai do vale e vai para a vila procurar seu amado”, relata Fabio.
O Museu Castelinho mostra como a casa era usada pela família do engenheiro-chefe da ferrovia São Paulo Railway Company
Alex Cavanha/Divulgação
Museu Castelinho – visitação
Horário: sábados, domingos e feriados, das 10h às 15h30
Endereço: Caminho do Mens, s/nº – Parte Baixa, Paranapiacaba, Santo André, SP
Entrada: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) com visita monitorada

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