Natureza tátil: Lewis Kemmenoe cria peças em colaboração com a Fendi

Em Londres, o designer Lewis Kemmenoe produz artesanalmente móveis e objetos com superfícies contrastantes. Seu trabalho, baseado na experimentação de materiais, acaba de render uma colaboração com a Fendi O trabalho de Lewis Kemmenoe é guiado pelos materiais e marcado por dualidades: os móveis do designer combinam superfícies orgânicas e industriais, e propiciam sensações contrastantes de quente e frio, áspero e liso, duro e macio. “Essas características anteriormente andavam separadas. Eu fazia uma cadeira de madeira ou um armário de metal. Com o tempo, passei a sugerir uma conversa entre materiais distintos no mesmo objeto”, afirma. “Acho a dissonância interessante porque, para que dois elementos coexistam, há um equilíbrio a ser atingido.”
Lewis Kemmenoe na Design Miami, durante o lançamento da coleção Aenigma
Robin Hill/Fendi
Na coleção Aenigma (“enigma”, traduzido do latim), projetada em colaboração com a Fendi e apresentada em dezembro na Design Miami, Lewis acrescentou o alabastro – ora polido, ora rugoso – à sua cartela de possibilidades. O desejo de usar o mineral surgiu durante uma viagem a Roma, na qual o britânico conheceu a sede da maison, no Palazzo della Civiltà Italiana, e percorreu um roteiro investigativo pelas atrações históricas da cidade. “Percebi que a pedra reflete a atmosfera local, pois está em toda parte. Basta pensar nas inúmeras estátuas romanas”, diz. O objetivo da pesquisa era entender a essência da Fendi e incorporar códigos da marca ao resultado da collab. “Embora concebido pela minha perspectiva, o mobiliário precisava ser coeso com a identidade da empresa”, detalha.
Com a parceria, Lewis entra para o restrito grupo de talentos em ascensão que idealizaram um projeto especial para a Design Miami a convite da grife. Em edições passadas da feira, nomes como o belga Maarten De Ceulaer (2012), o duo italiano Dimorestudio (2014), a italiana Cristina Celestino (2016), a holandesa Sabine Marcelis (2018) e o botsuanês Peter Mabeo (2021) ganharam destaque na mostra de design colecionável, realizada em Miami Beach, sob os auspícios da marca. “Não há uma regra a respeito de como escolhemos o designer que irá colaborar conosco. Buscamos afinidade. No caso de Lewis, fiquei encantada com as incrustações de materiais. Lembram o modo como nossos artesãos manuseiam o couro”, declara Silvia Venturini Fendi, diretora criativa de moda masculina e acessórios da empresa fundada por seus avós maternos em 1925.
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Luminária de piso, com base de bronze, evidencia a beleza da folha de madeira retroiluminada
Robin Hill/Fendi
Além de visitar os escritórios, o britânico pediu para conhecer a fábrica em Florença. “Ele se mostrou mais interessado no processo de confecção do que nos produtos acabados”, revela Silvia. Isso porque a execução é uma etapa crucial no nascimento dos móveis assinados por Lewis. Assim como um escultor da Roma antiga, o designer produz cada peça com as próprias mãos. “Meu ateliê, em Londres, é pequeno. Faço tudo sozinho, auxiliado por ferramentas manuais e elétricas”, explica. Formado em artes plásticas pela Central Saint Martins e pós-graduado em design pelo Royal College of Art, ele buscou no segundo curso o aspecto prático de que sentia falta na abordagem abstrata do primeiro. “Funcionalidade é muito importante para mim: ela estrutura o conceito das peças. Mas a natureza tátil sempre vem em primeiro lugar e define as peculiaridades do móvel.”
Meus projetos sempre começam com um desenho feito à mão. As irregularidades do traço são mais fiéis aos materiais orgânicos do que uma imagem 3D
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Releitura da bolsa Peekaboo feita por Lewis incorpora a ideia de patchwork
Divulgação/Fendi
Na série Aenigma, a premissa de atrair o tato fica evidente nas inserções de alabastro no corpo do armário e no patchwork de madeiras que envolve a poltrona – o desenho formado pelas diferentes colorações foi inspirado no padrão de um casaco da maison. A referência ao item de vestuário permeia os demais artigos, incluindo a versão do designer para a bolsa Peekaboo, criada por Silvia Venturini Fendi em 2008 (ela também é autora de outro acessório clássico da marca, a Baguette, de 1997). “Queria que a Peekaboo sintetizasse toda a coleção. Por fora, ela é feita de couro recortado na mesma padronagem do casaco. As ferragens e os componentes internos de madeira remetem à materialidade da poltrona”, afirma Lewis.
Rascunhos iniciais da mesa de centro mostram opções de formato para o tampo lapidado da peça
Divulgação/Fendi
Segundo ele, há uma semelhança entre moda e mobiliário: ambos são extensões da personalidade dos usuários. A Fendi explora esse cruzamento desde 1987, quando surgiu a linha Fendi Casa. Em 2008, a empresa se tornou patrocinadora da Design Miami e, de lá para cá, destina seu estande à revelação de um novo profissional. “Somos pioneiros entre as marcas fashion que expandiram para o segmento de interiores. Isso nos dá legitimidade”, arremata Silvia.
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