O eterno retorno: por que o piso de taco nunca sai de moda

Com origem entre os séculos 16 e 17, o piso de taco surgiu na Europa como uma alternativa mais confortável e estética aos pisos de pedra, ganhando notoriedade especialmente nas cortes francesas – o Palácio de Versalhes é um dos exemplos mais icônicos de sua aplicação refinada. No Brasil, o revestimento se popularizou a partir das décadas de 1950 e 1960, tornando-se um clássico nas residências da época e marcando profundamente o imaginário arquitetônico nacional. Mesmo com o passar dos anos e a chegada de novos materiais, os taquinhos seguem atemporais, símbolos de elegância e versatilidade.
Para entender por que o piso de taco continua entre os queridinhos dos lares brasileiros, além de explorar suas características, aplicações e cuidados, a Casa Vogue conversou com o arquiteto Leandro Mostardo, sócio do escritório Box14 Arquitetura, e a arquiteta Isabella Nalon, que atua há mais de 25 anos no mercado. A seguir, os profissionais ajudam a desvendar o charme – e os detalhes técnicos – desse revestimento tão estimado:
Piso de taco x piso de madeira
Concreto, piso de taco e esquadrias foram restaurados neste apartamento modernista em Porto Alegre, cuja reforma foi liderada pelo escritório KS Arquitetos
Gabriel Konrath
Sem as ferramentas e tecnologias modernas, os primeiros pisos de madeira eram rústicos, sendo normalmente feitos com tábuas largas e irregulares, pregadas diretamente no chão de terra batida. Sua aparência era bruta: sem acabamentos como lixação, fixação e colagem, o piso apresentava superfícies ásperas e vãos entre as peças. Porém, com a utilização de peças menores (parquet ou taco), os encaixes e sua aparência foram aprimorados, culminando nos conhecidos pisos de tacos que vemos até hoje.
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Isso quer dizer que “nem todo piso de madeira maciça é um piso de taco”, explica a arquiteta Isabella Nalon. Esse revestimento possui características que o define (e o diferencia) dos pisos de madeira comuns. “Taco significa que ele possui uma dimensão menor. A tábua corrida, por exemplo, que é longa e larga, é um piso de madeira maciça, mas não de taco”, completa. Uma das características que define esse revestimento tão amado é justamente sua dimensão – que pode ser variar entre 7 x 35 cm, 7 x 42 cm ou 10 x 40 cm – e sua disposição em diferentes padrões geométricos. Os mais comuns são:
Espinha de peixe (ou escama de peixe): Um dos mais clássicos e sofisticados, esse padrão consiste em dispor os tacos em ângulo de 45° ou 90°, de forma que cada peça se encaixa na extremidade da outra, formando um zigue-zague contínuo.
Diagonal: Similar ao espinha de peixe, mas com os tacos alinhados em diagonal (geralmente a 45°) em relação às paredes. O desenho é mais sutil e dinâmico, valorizando a amplitude do espaço.
Amarração: Também conhecido como “padrão tijolinho”, nesse modelo os tacos são posicionados paralelamente, mas com as juntas desencontradas, lembrando a alvenaria. É um padrão simples e muito usado.
Dama (ou quadriculado): As peças são dispostas alternando direções a cada fileira, formando quadrados com veios opostos. É um padrão elegante, que remete a pisos clássicos europeus.
Chevron: Uma variação da espinha de peixe tradicional, mas com cortes angulares nos tacos que formam um “V” perfeito.
Neste closet, o piso de taco contempla toda a extensão da entrada do espaço. O projeto é da arquiteta Isabella Nalon
Julia Herman
Além do formato, a matéria-prima também é um diferencial. O piso de taco é tradicionalmente feito com madeiras nobres como ipê, cumaru, jatobá, peroba, carvalho e marfim. Embora os modelos mais tradicionais sejam inteiramente maciços, hoje é possível encontrar variações mais acessíveis e estáveis, compostas por lâminas de madeira nobre sobre bases estruturadas com fibras cruzadas.
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Vantagens e desvantagens
Os móveis vintage, o piso de taco e os tijolos aparentes compõem a atmosfera antiga deste apartamento em Higienópolis, São Paulo, reformado pela arquiteta Juliana Fabrizzi
Ilana Bessler
O piso de taco se destaca por sua capacidade de unir estética e desempenho. “A madeira ajuda no conforto térmico, mantendo a temperatura dos ambientes internos mais agradável”, explica Leandro Mostardo. “Ela também proporciona conforto acústico devido sua capacidade de absorver bem os sons”, complementa Isabella Nalon. A durabilidade é outro ponto forte: com manutenção adequada, o taco pode atravessar gerações, sendo lixado e revitalizado sempre que necessário.
Sua pegada sustentável também merece destaque. Quando proveniente de madeira certificada e reflorestada, o revestimento representa uma escolha consciente. “Diferente de outros pisos que precisam ser substituídos com o tempo, o taco pode ser renovado e mantido por muitos anos, o que o torna uma opção sustentável e econômica a longo prazo”, revela Isabella.
Este apartamento, assinado pelo arquiteto Leandro Mostardo, à frente do Box14 Arquitetura, ganhou uma sala com piso de taco
Divulgação
No entanto, é preciso estar atento a alguns cuidados:
O custo inicial costuma ser mais alto do que o de laminados ou porcelanatos;
A madeira exige atenção constante para evitar manchas, riscos e ressecamento;
Por ser sensível à umidade, o piso de taco não deve ter contato direto com água.
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Onde usar o piso de taco?
O piso de taco e o concreto aparente são os grandes destaques deste apartamento, que fica na Vila Madalena, São Paulo, e tem projeto assinado pelo Estúdio Minke
Maura Mello
Graças a sua versatilidade, o piso de taco pode ser utilizado em diversos cômodos, desde que respeite “condições de uso e umidade”, lembra Leandro. Salas, quartos, escritórios e corredores são ambientes ideais para o uso deste clássico da decoração. Porém, o arquiteto não descarta o seu uso em cozinhas, banheiros ou lavanderias, desde que sejam tomados os cuidados necessários, como evitar a exposição excessiva à água e até investir na impermeabilização do piso. Por outro lado, Isabella evita recomendar o uso do taco nesses ambientes, justamente pela “exposição constante à água”.
Piso de taco na decoração
Esta sala, projetada pelo escritório CYTTZ Arquitetura, conta com tons neutros, piso de taco e marcenaria sob medida
Denilson Machado/MCA Estúdio
Ícone da arquitetura brasileira, o taco foi amplamente adotado nos projetos modernistas do século XX, como os de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Hoje, segue como um coringa capaz de se adaptar a qualquer proposta estética. “Pode ser integrado ao clássico, moderno, contemporâneo ou com uma proposta mais industrial”, pontua Isabella. O resultado vai depender da combinação entre o tipo de madeira, o padrão de instalação e os demais materiais do ambiente.
Mais do que uma escolha estética, o piso de taco se tornou um símbolo de sofisticação atemporal. “Possui grande valor agregado e, mais do que nunca, é símbolo de desejo e até status entre seus consumidores”, afirma Leandro. “Ele se encaixa com naturalidade nos projetos contemporâneos por sua beleza funcional, autenticidade e identificação com o contexto brasileiro – aspectos que arquitetos e designers têm valorizado mais do que nunca”.
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