O que deveríamos aprender sobre sustentabilidade com Estocolmo

Vikings, ABBA, Ikea, Prêmio Nobel. Essas são algumas das referências que permeiam o imaginário coletivo associado à Suécia. Outro aspecto marcante no país nórdico é, sem dúvida, o bem-estar, mais difícil de encapsular em uma personagem, uma logomarca, um estereótipo. Tecnologia, design, inovação e senso de coletividade são algumas das características que se juntam para dar corpo a essa sensação. É chegar a Estocolmo para alguém lhe explicar sobre a fika – ou convidar para uma. Muito mais do que a pausa para o café, essa tradição cultural que propõe um momento de desaceleração, com tempo de qualidade para conversar com amigos, colegas de trabalho e familiares, tem até nome no país, tamanho o compromisso com esse estilo de vida.
Se a fika é uma prática diária para os suecos, o pacto com questões relacionadas à sustentabilidade também está no cotidiano, e vem sendo construído há algum tempo. Em 1972, Estocolmo sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – a primeira conferência global desse tipo, evento que colocou a nação como protagonista nos debates internacionais sobre meio ambiente. Na década de 1990, o país implementou impostos sobre emissões de carbono (principalmente combustíveis fósseis usados para fins de aquecimento e combustíveis para motores), sendo um dos primeiros do mundo a aplicar tal taxa. Ao longo das últimas décadas, a capital vem aprimorando, ainda, soluções urbanísticas para diminuir o impacto ambiental, e bairros inteiros são remodelados ou construídos sob perspectivas sustentáveis.
É o caso do Hammarby Sjöstad, antiga zona industrial próxima ao centro de Estocolmo, transformada em hub de práticas ambientalmente responsáveis, como sistema automatizado de coleta de resíduos, em que o lixo é sugado por tubos subterrâneos até uma estação central de triagem e coleta – evitando a circulação de caminhões pesados dentro do bairro, reduzindo poluição, ruído e tráfego. Os resíduos orgânicos são transformados em biogás utilizado em ônibus e outros veículos públicos, além de fogões. Uso de água cinza para produção de energia e calor; parques, praças e largas passagens à beira dos canais; edifícios com altura moderada e telhados verdes, além de uso misto (residencial, comercial, serviços e lazer) para reduzir longos deslocamentos, são algumas das características da região.
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Esses mesmos preceitos serão incorporados a uma nova área urbana, denominada Greenhouse Sthlm, próxima à estação de metrô Stadshagen, zona oeste da cidade. O projeto nasce ao lado da sede da Electrolux, com pontapé inicial da empresa sueca. A previsão é de que 3 mil pessoas morem, trabalhem e se divirtam por ali. O primeiro edifício recém-finalizado, de uso misto entre moradia e trabalho, com projeto do escritório local Archus, é um mix de retrofit de uma construção preexistente com novas estruturas feitas 100% com madeira certificada proveniente da região central da Suécia. Jardins nos telhados, floreiras nas janelas, uma praça que ainda será construída e hortas coletivas fazem parte das iniciativas para ampliar as áreas verdes e ajudar a tornar o local capaz de absorver mais CO2 do que produz.
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“Foi um desafio construir diante das exigências da cidade e ainda pensando na harmonia com o edifício existente, que é de tijolos e tem longas janelas horizontais. Depois de muitos debates, ao lado dos arquitetos do Archus, decidimos utilizar a madeira, ótima aliada para reduzir a pegada climática”, explica Ulrika Kågström, chefe de desenvolvimento da Greenhouse Sthlm. Reutilizar tijolos das fachadas existentes em parte das estruturas internas também fez parte do processo. “Cada uma das decisões que tomamos ao longo do caminho exigiu muitos testes. Seria muito mais fácil simplesmente pegar algo pronto de uma prateleira, algo que já foi validado. Mas nós sabíamos que todos esses desafios gerariam um grande impacto positivo”, reflete Ulrika.
No bairro em desenvolvimento, os próximos edifícios ainda estão sendo projetados e nem todos serão necessariamente erguidos com a técnica da madeira engenheirada; alguns terão aço reaproveitado, concreto feito a partir de subprodutos industriais… Mas uma coisa é certa: dali virão lições de como habitar as cidades com mais harmonia, sempre com um kanelbulle (pão de canela) – outro ícone da cultura sueca – e um café na mão para celebrar as pausas.
*Matéria originalmente publicada na edição de outubro/2025 da Casa Vogue (CV 477), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual e para assinantes no app Globo Mais.
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