Parque Residencial Savoia: conheça o cenário onde começou o ‘Castelo Rá-Tim-Bum’

O Parque Residencial Savoia é uma das construções antigas de São Paulo que sobreviveram à especulação imobiliária. Localizado no bairro da Barra Funda, a vila de estilo italiano com 14 casas foi erguida em 1939 pelo imigrante polonês Salvador Markowicz.
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Um dos destaques da história do local é que ele serviu de locação para as gravações do programa Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, famoso entre as crianças dos anos 1990. “Foi utilizado em uma das cenas do primeiro episódio entre várias outras locações”, conta o arquiteto Diego Pollon, que visitou a vila e fez um vídeo (abaixo) contando essa história.
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Na parte arquitetônica, o parque residencial foi inspirado no estilo florentino, em homenagem às origens italianas da família. O arquiteto do projeto foi Arnaldo Maia Lello, o mesmo que projetou o antigo Theatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, também na capital paulista.
Cenas do Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, gravadas no Parque Residencial Savoia, em São Paulo
Instagram/@opollon/Reprodução
“A arquitetura de inspiração italiana tem muitos elementos góticos. As gárgulas, os brasões e os pórticos são especiais, além da torre da fachada”, comenta Diego.
Pátio interno do conjunto Parque Residencial Savoia, na capital paulista
Diego Pollon/Divulgação
O nome do local foi uma homenagem à esposa de Salvador, que era italiana de Turin, berço da casa real italiana Savoia, que regeu o país até o referendo favorável à república, logo depois da Segunda Guerra.
O Parque Residencial Savoia na época em que foi construído, no fim dos anos 1930
Revista Acrópole/Creative Commons
Esse castelo será meu?
Até 1994, as casas serviam apenas como residências, mas, para preservar o conjunto, que estava degradado, o proprietário Salvatore Iungano — descendente de Salvador — decidiu transformar a vila em um espaço de uso estritamente comercial.
O Parque Residencial Savoia, em São Paulo, é uma vila com 14 casas construídas em 1939
Diego Pollon/Divulgação
Além disso, em 2000, o parque passou por uma ampla restauração, que recuperou as características originais das construções.
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“Ele foi restaurado e se tornou comercial justamente pra garantir o padrão de cuidado, manutenção e uso”, destaca Diego. Desde 2009, a preservação do Parque Residencial Savoia ganhou reforço, com o tombamento feito pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT).
O Parque Residencial Savoia foi construído pelo imigrante polonês Salvador Markowicz
Revista Acrópole/Creative Commons
A vila e as casas foram restauradas com seus enfeites originais, como brasões, grifos, vasos e colunas. Além disso, os azulejos do chafariz ganharam uma pintura especial, realizada em 2000, idealizada com inspiração em um quadro da Renascença.
A entrada do Parque Residencial Savoia, em São Paulo, que é tombado pelo Patrimônio Histórico
Diego Pollon/Divulgação
Atualmente, a vila pertence à mesma família e os imóveis seguem locados apenas para uso comercial. Um destes locatários é escritório COTA760 Arquitetura, que ocupa, há sete anos, uma das quatro casas com acesso direto pela rua e também pelo interior do conjunto.
A fachada original do Parque Residencial Savoia, em São Paulo, segue preservada até os dias de hoje
Revista Acrópole/Creative Commons
“Nos sentimos estimulados em trabalhar em um imóvel que conta a história da arquitetura e do desenvolvimento urbano de São Paulo. Isso reforça os valores do escritório e nos ajuda a cotidianamente a relembrar nossa missão”, conta o arquiteto Luis Rossi, um dos sócios.
Gradil de ferro do Parque Residencial Savoia, com visão para a torre e as sacadas das casas
Paulo S. Higa/Wikimedia Commons
Os atuais proprietários restringiram a entrada de veículos no interior da vila, que só pode ser acessada por quem trabalha no espaço.
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Um portão principal com grades de ferro limita o acesso às residências da parte interna, com acesso a um amplo pátio, enquanto as casas de frente para a rua têm seus próprios portões e entradas independentes.
Vista da torre do Parque Residencial Savoia, em São Paulo (SP), para a Rua Vitorino Carmilo
Paulo S. Higa/Wikimedia Commons
“Esse conjunto representa não só um estilo de vida, mas também conta sobre imigração, a absorção de vários tipos de arquitetura em São Paulo e como a cidade era naquela época, com muito mais casas do que prédios. Serve como memória do que a capital já foi e quem participou de sua construção”, fala Diego.
Para preservar o Parque Residencial Savoia, foi barrada a entrada de carros no local
Diego Pollon/Divulgação
Pequeno oásis na capital
As fachadas majoritariamente de tijolos e a ornamentação de portas, beirais e janelas em conjunto com os jardins fazem com que a vila seja agradável e pareça um oásis em meio à cidade.
O acesso à parte interna é permitido somente a pessoas que trabalham no Parque Residencial Savoia
Diego Pollon/Divulgação
Embora as unidades pareçam todas iguais por fora, há diferenças significativas de tamanho e distribuição. “Enquanto algumas casas possuem um pequeno porão, outras têm uma construção anexa no quintal dos fundos. A implantação de cada uma acaba por promover que haja janelas em diferentes posições, eventualmente varandas excepcionais que aproveitam uma cantinho”, afirma Luis.
Restaurado em 2000, o chafariz do Parque Residencial Savoia ganhou pintura Renascentista
Diego Pollon/Divulgação
Na parte interna, muitas das casas passaram intervenções ao longo dos anos, mas algumas preservam bastante da distribuição e acabamentos originais.
O clima bucólico do Parque Residencial Savoia faz parecer que se está fora de São Paulo
Diego Pollon/Divulgação
“Os pisos de madeira e o assoalho do pavimento superior são uma característica marcante. As escadas de madeira são outro elemento de destaque, assim como a presença de vidros texturizados tanto em portas quanto em janelas, reforçando o aspecto antigo e aconchegante”, destaca o arquiteto.
A entrada para o pátio interno da vila italiana Parque Residencial Savoia, na capital paulista
Flickr/Andre Deak/Creative Commons
Já os jardins internos compõem a atmosfera do lugar, trazendo o verde como parte fundamental do projeto. “Infelizmente, há pouco mais de um ano a figueira imponente do pátio dos fundos não resistiu a uma forte chuva. Ainda assim, eles preservam palmeiras e flores, além dos elementos construídos que contam com bancos cobertos e chafariz”, comenta Luis.
Como diria o porteiro do Castelo: “Klift Kloft Still, a porta se abriu” — e, dentro da vila, guarda-se a memória afetiva de uma geração.

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