Paspatur: saiba o que é, para que serve e como ele valoriza obras de arte na decoração

Às vezes, um detalhe bem discreto é justamente o que transforma como enxergamos uma obra de arte. Uma borda delicada, quase invisível, pode destacar uma fotografia ou gravura sem roubar a cena — e ainda proteger o que está em exposição. Esse é o papel do paspatur.
Também conhecido pelo termo francês passe-partout, o paspatur é um suporte interno, feito em papel cartão ou cartolina, que se coloca entre a representação artística e o vidro da moldura. Fácil de passar despercebido, o elemento cria uma transição delicada e valoriza a imagem, mas também ajuda na conservação da peça.
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Origem do paspatur
O uso de uma margem de papel ao redor de obras para criar efeito de moldura não é algo recente. A técnica surgiu no século 17, na França, quando gravadores e artistas passaram a adotar esse recurso para proteger e valorizar suas criações, muitas vezes guardadas em pastas.
No século 18, o paspatur se popularizou entre artistas franceses e ingleses, tornando-se prática comum. Já no século 19, ganhou novas versões com papéis especiais e tintas coloridas, ampliando suas possibilidades estéticas.
De origem francesa, o paspatur é geralmente feito em cartolina livre de ácido, protegendo a obra de arte contra danos
Freepik/Creative Commons
À época, era comum encontrar molduras com passe-partouts de múltiplas aberturas, usados principalmente para exibir coleções de miniaturas, retratos de família ou sequências de ilustrações. Assim, era possível reunir uma variedade maior de obras em uma única composição.
No Brasil, a técnica só ganhou força mais tarde, com a chegada da Galeria Metara, em 1988. “Não se encontrava o passe-partout com facilidade e, também, não havia opções de qualidade, voltadas para a conservação”, relata Susi Sielski Cantarino, artista visual e diretora da Metara. Foi então que a galeria desenvolveu seu próprio modelo, feito com papéis acid free (livres de ácido) e pH neutro.
Paspatur: o que é?
O paspatur funciona como uma espécie de “moldura interna” posicionada entre a obra e o vidro. Embora muitas vezes lembrado apenas pelo efeito estético, cumpre o papel de destacar a imagem principal, suavizar a transição para a moldura e valorizar a apreciação da peça sem distrações.
Contudo, o paspatur vai além da estética: contribui com a proteção da obra. “Ao criar uma barreira física entre o vidro e a superfície, evita que a umidade e a condensação formadas no interior do quadro entrem em contato direto com a peça”, explica Silvia Aline Rodrigues de Rodrigues, arquiteta e historiadora especializada em patrimônio cultural, design e mobiliário.
Neste ambiente, os quadros têm paspatur retangular branco, que se funde às tonalidades claras do espaço. Projeto da arquiteta Tatiana Gullich
Artur Pretto/Divulgação
Em trabalhos em papel, o paspatur é essencial para evitar manchas, a aderência da superfície ao vidro e o surgimento de mofo. Além disso, a separação impede a transferência de pigmentos em peças mais delicadas.
Do ponto de vista decorativo, o paspatur confere profundidade e equilíbrio visual, funcionando como um “campo neutro” que destaca as cores e detalhes da imagem artística. Ele também direciona o olhar do espectador para o centro da composição, em vez de atrair a atenção para a moldura.
Resumindo, a cor, a largura e a textura do paspatur podem transformar completamente a percepção da obra, tornando-a mais dramática ou mais serena.
Quando usar o paspatur?
O uso do paspatur é especialmente indicado para aquarelas, desenhos e gravuras feitas com materiais sensíveis, que precisam ser preservados do contato com o vidro. Em fotografias, ele acrescenta um acabamento mais sofisticado, enquanto em certificados e documentos históricos garante proteção e valorização estética.
Nesta suíte, a composição de aquarelas da artista Ligia Yamaguti, emolduradas pela Votupoca Molduras, ganharam paspatur colorido. Projeto da arquiteta Carolina Gouvea
Denilson Machado/MCA Estúdio/Divulgação
“Em obras pequenas, o paspatur confere maior presença e proporção com molduras grandes. Já em peças detalhadas, o espaço em branco destaca os elementos sem competir com eles”, coloca Susi. Também existem paspaturs para telas, feitos em madeira, linho ou algodão, em que o vidro não é necessário.
Tipos de paspatur
Existem diversos modelos de paspatur, adaptáveis a muitos estilos e necessidades, que diferem em formato, material e espessura. Os mais comuns são retangulares ou quadrados, ideais para gravuras, fotografias e pinturas.
O paspatur pode ser encontrado em formatos, estampas — como listras — e acabamentos diversos. Projeto da arquiteta Paola Ribeiro
Juliano Colodetti/MCA Estúdio/Divulgação
Versões ovais ou redondas são geralmente usados em retratos clássicos, ou para conferir um ar nostálgico. Também é possível escolher recortes personalizados que seguem o contorno da obra, criando composições mais modernas.
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Ainda existem paspaturs com “miolos” ou bordas internas que criam efeitos visuais interessantes. Uma opção é o duplo ou com borda colorida, que adiciona impacto: “É possível usar dois paspaturs, um sobre o outro, sendo o inferior ligeiramente mais largo e de cor diferente”, comenta Aline.
Neste ambiente, os quadros, com molduras da Metara, ganham paspatur clássico em branco. Projeto do designer de interiores Thiago Herrera
Maura Mello/Divulgação
Paspatur com múltiplas aberturas servem para exibir séries de fotografias ou sequências de imagens. Para um efeito elegante, os de bordas chanfradas têm a borda interna cortada em ângulo de 45°. Já para um visual mais moderno ou expressivo, é possível variar as cores.
Materiais para o paspatur
Segundo a diretora da Metara, a escolha do material do paspatur depende da qualidade e da conservação da obra. O ideal é o paspatur de conservação, feito 100% de fibras de algodão, livre de ácido e lignina, usado principalmente em museus.
Na parede, o quadro de Moma Machado, da Gam Arte em Molduras, ganha destaque com o paspatur cinza. Projeto do escritório Carmen Zaccaro Arquitetura
Juliano Colodetti/MCA Estúdio/Divulgação
O mais simples é o de papel cartão comum, que pode ser ácido e amarelar com o tempo, indicado apenas para trabalhos temporários ou de baixo valor. Outra opção segura é a cartolina acid free, tratada para manter pH neutro, adequada para a maioria das obras.
Como é feito o paspatur?
Após a escolha do material, o papel é laminado em várias camadas até atingir a espessura ideal, entre 1,3 mm e 1,4 mm. O corte exige precisão: “É feito com equipamentos específicos que permitem cortes chanfrados. Em ateliês, cada peça é cortada sob medida”, explica Susi. Para criar equilíbrio visual, a borda inferior deve ser ligeiramente maior que as laterais e a superior.
Cuidados com o paspatur
Ao usar o passe-partout, fixe-o de forma reversível, com fitas adesivas livres de ácido, evitando danos à obra. “A cartolina deve ser manuseada com luvas de algodão para impedir a transferência de óleos da pele, que podem manchar o papel”, alerta a arquiteta Aline.

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