Ao viajar para a China, um dos primeiros ‘choques’ culturais para os ocidentais costuma ser o banheiro. Isso acontece porque, em muitas regiões do país, o vaso sanitário é posicionado rente ao piso. A explicação envolve uma combinação intrigante de cultura, higiene e até mesmo anatomia humana.
“Os sanitários do tipo ‘squat’ têm uma longa história na China, sendo amplamente utilizados desde os tempos antigos. Eles estão intimamente relacionados à arquitetura e ao estilo de vida das antigas civilizações chinesas, refletindo os hábitos cotidianos da época”, destaca Bai Mengxuan, professora e diretora pedagógica do Instituto Confúcio na Universidade Estadual Paulista (UNESP), que promove a língua e cultura chinesa.
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Origem histórica
A origem dos banheiros de chão na China remonta a mais de 2.400 anos, quando foram descobertos vasos sanitários de cerâmica em palácios, utilizados pela elite. Esses sanitários eram considerados artigos de luxo, usados apenas pela classe alta, pois tinham um sistema de encanamento que levava os dejetos a uma fossa externa.
Em algumas regiões mais antigas ou menos desenvolvidas do Tibete, ainda é comum encontrar banheiros tradicionais que consistem em um buraco no chão sem infraestrutura de saneamento
Fatos Desconhecidos/Divulgação
“Na China Antiga, as pessoas usavam buracos no chão para fazer às suas necessidades. Desse modo, principalmente nas regiões mais carentes, eram feitos buracos na terra, e quando se enchiam, cavava-se um novo. Mais tarde, começaram a construir casinhas de madeira em volta para maior privacidade. Em áreas mais afastadas e remotas ainda é possível encontrar esse tipo de banheiro”, relata Serena Qi, professora da língua na Chinbra, escola especializada na cultura chinesa.
A professora explica que, antigamente, não havia descarga; existia um buraco ou um tipo de córrego de água, que conduzia tudo para um determinado local. Portanto, não se tratava exatamente de uma estrutura de esgoto. “Naquela época, não havia ferramentas de saneamento, então as pessoas construíam banheiros de forma mais rudimentar fora de casa”, ela complementa.
Por que os vasos sanitários de chão são tão populares na China?
A popularidade dos banheiros de chão na China deve-se principalmente à tradição, especialmente nas áreas rurais ou mais antigas , onde esses banheiros foram o padrão por séculos devido à ausência de infraestrutura de água encanada e ao seu custo reduzido.
Grande parte da população do Tibete, no sudoeste da China, usa sanitários precários em fossas
GettyImages/tanukiphoto
“Acredito que o motivo de sua popularização se deve, primeiro, à facilidade de construção, pois era muito mais fácil de ser construído; em segundo lugar, ao seu baixo custo; e, por último, a limpeza, por ser mais fácil de limpar, bastando basicamente jogar água para que ele fique limpo”, diz Serena.
Bai concorda: “em áreas rurais ou cidades menores, esses sanitários são mais fáceis de manter e têm um custo mais baixo, tornando-se uma escolha comum em muitas famílias. Isso também está relacionado às condições de vida locais e ao nível de desenvolvimento econômico da região”, complementa a diretora pedagógica.
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Benefícios do banheiro de piso
Na China, os banheiros no chão são vistos como mais higiênicos e oferecem benefícios para a saúde intestinal, além de fortalecer a sustentação do corpo. “A percepção de que banheiros de cócoras são mais higiênicos é baseada principalmente na ausência de contato direto da pele com o assento”, explica Paulo Cezar Schutz, médico especialista em traumatologia e ortopedia.
“Melhora a mobilidade articular, por manter a amplitude total do movimento dos tornozelos, joelhos e quadris; favorece a evacuação, pois relaxa o músculo puborretal e endireita o ângulo anorretal, o que facilita a passagem das fezes; fortalece os músculos estabilizadores do tronco e do quadril, além de ajudar a manter a curvatura natural da coluna lombar; e desenvolve a força das pernas de forma funcional, replicando um movimento essencial da vida diária”, pontua o médico.
Influência da tradição no design atual
A tradição de banheiros de chão na China influenciou o design ao criar uma dualidade de opções em locais modernos, onde o tradicional coexiste com o vaso sanitário convencional. Isso demandou a inclusão de ambas as configurações, ao mesmo tempo em que impulsiona inovações, que buscam aprimorar a experiência do usuário, sem abrir mão da opção tradicional em determinados locais.
“Hoje em dia os canos são instalados nas paredes, principalmente em apartamentos. Para esse tipo de assento, geralmente seria necessário ter cano sob o chão, possivelmente com uma camada diferente para acomodar esse encanamento. Isso pode explicar por que muitos prédios não possuem esse tipo de banheiro; é mais comum em casas ou em locais planos de um andar”, justifica Serena.
Na China, é comum encontrar banheiros de piso e assentos ocidentais no mesmo lugar, principalmente em edifícios públicos e áreas urbanas
Reddit/Hot_Objective_271/Reprodução
A modernização do país, impulsionada pelo turismo, tem levado a reformas que incluem a adoção de vasos sanitários mais modernos. “Embora os sanitários do tipo ‘squat ‘ tenham dominado a tradição chinesa, o acelerado processo de urbanização tem levado um número crescente de novos edifícios e locais públicos a adotar vasos sanitários, refletindo a diversidade e a modernização dos estilos de vida”, afirma Bai.
O vaso sanitário chinês tradicional requer um projeto de banheiro diferente do tipo ocidental. “Ao construi-lo no chão, ocupa menos espaço, pois, como não precisa ser elevado, não há necessidade de privada e tampa, tornando-o mais compacto. Assim, há a economia de espaço”, complementa Serena. As professoras acreditam que esses sanitários são adequados para o projeto de banheiros pequenos, especialmente em áreas urbanas, onde o espaço é limitado.
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Como são feitos os banheiros na China hoje em dia
Atualmente, os vasos sanitários modernos, embora mantenham o mesmo conceito, são fabricados com materiais diversos e apresentam maior higiene, além de possuírem descarga direta para o sistema de esgoto, especialmente em áreas urbanas. Já em regiões mais carentes, pode ser que se utilize um sistema mais antigo e simples de esgoto, com adaptações feitas ao longo do tempo, dependendo da área.
Os vasos sanitários modernos no chão na China são feitos principalmente de porcelana, um material cerâmico durável, higiênico e fácil de limpar
Reddit/imaginarynumber0/Reprodução
“O material deve ser um tipo de cerâmica, o mesmo utilizado para os sanitários no Brasil. O piso também deve ser permeável, podendo ser de azulejo ou de pedra. Acredito que a durabilidade seja parecida, mas diria que é um pouco maior por não possuir a tampa, que pode quebrar. Por ser estruturalmente mais simples, reduz a necessidade de manutenção e, possivelmente, aumentar a durabilidade e a sustentabilidade”, pensa Serena.
Com a modernização e a demanda por banheiros internos em estabelecimentos, surgiram banheiros com novas características e estruturas. Assim, existem projetos com pisos impermeáveis, sistemas de drenagem e até sistemas de descarga, além de instalações para limpeza.
A “Revolução dos Banheiros” na China e seus desafios
A “Revolução dos Banheiros” na China é uma campanha iniciada em 2015 pelo governo chinês de Xi Jinping, para melhorar as condições sanitárias dos banheiros públicos, especialmente em áreas turísticas e rurais. As medidas incluem a construção de novos banheiros, a reforma de instalações existentes, a substituição de vasos sanitários tradicionais e a introdução de tecnologias como banheiros neutros em gênero e dispensadores de papel higiênico ativados por QR code.
Banheiro público localizado na cidade de Linxia, em Gansu, no noroeste da China, com janela no meio para cobrar a “taxa de uso”
Wikipedia/Vmenkov/Creative Commons
“Nos últimos dez anos houve a substituição de alguns banheiros de agachamento pelos sanitários que temos hoje em dia. Nesse contexto, surgiram esses sistemas híbridos, que podem oferecer os dois tipos em um único lugar. Em alguns hotéis voltados para estrangeiros, é possível encontrar 100% dos vasos ocidentais, de sentar”, expõe Serena.
Além disso, de acordo com Serena, existe uma tendência crescente em relação a banheiros mais inteligentes e tecnológicos. Contudo, ao mesmo tempo, há o desafio de atender às necessidades de diferentes usuários. “O vaso de chão continua presente em diversos contextos, porém com melhorias. Ao mesmo tempo, os vasos de assento e inteligentes estão ganhando popularidade, especialmente nas regiões mais modernas do país”, reflete a docente da Chinbra.
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Afinal, banheiro de chão ou assento sanitário?
A escolha entre banheiros de chão e banheiros ocidentais depende de preferências pessoais, culturais e de saúde. Em áreas urbanas ricas, como edifícios de alto padrão em Xangai, o vaso sanitário de assento é padrão, enquanto em áreas rurais, o vaso de agachamento ainda é utilizado.
“Essa preferência é bem notável dependendo do cenário e da idade. Em algumas cidades, talvez você perceba uma divisão, enquanto em outras a diferença pode ser um pouco mais significativa, devido o padrão de vida, à forma como é visto por aquele grupo da sociedade ou aos costumes das pessoas daquela região”, avalia Serena.
Os banheiros públicos na China podem oferecer os dois tipos de assentos sanitários, o de cócoras e o de sentar, devido a uma mistura de fatores culturais e evoluções na infraestrutura
Wrightbu/Wikimedia Commons
Há uma transição em que, de um lado, muitos estrangeiros, visitantes e turistas que visitam o país estão acostumados com o vaso sanitário de assento, enquanto, do outro lado, há a familiaridade dos chineses, que muitas vezes preferem ou só sabem usar o vaso de agachamento.
“O padrão ocidental está ganhando bastante espaço nas construções mais novas, mas não acredito que ele vá substituir completamente ou de imediato os vasos de agachamento. Fatores como custo, cultura e hábitos, principalmente, favorecem o uso do vaso de chão em muitos contextos”, finaliza Serena.
A posição de cócoras “Asian Squat”
Os banheiros tradicionais chineses do tipo agachado refletem a posição cultural de cócoras, conhecida como “Asian Squat”, comum na Ásia, e estão relacionados ao uso desse tipo de vaso sanitário. Essa tradição faz parte do cotidiano chinês e desenvolve a flexibilidade necessária desde a infância para realizar esse movimento sem desconforto.
O agachamento asiático, também conhecido como agachamento profundo, é uma posição em que a pessoa agacha completamente até o chão, com os calcanhares apoiados no chão e os quadris abaixo dos joelhos
Unsplash/Trình Minh Thư/Creative Commons
“A principal razão pela qual essa postura é mais fácil para as populações asiáticas é a prática contínua desde a infância. Nas culturas onde o agachamento é uma posição de repouso comum, essa mobilidade é mantida ao longo da vida. Não se trata de uma diferença genética fundamental, mas sim de uma diferença na manutenção da mobilidade funcional devido a hábitos culturais”, afirma o médico.
Essa posição atua como um sinalizador da mobilidade e flexibilidade das articulações do tornozelo, joelho e quadril, representando um movimento funcional essencial para a saúde musculoesquelética. “O ‘Agachamento Asiático’ é essencialmente um agachamento profundo (deep squat) realizado com os pés totalmente apoiados no chão, com o quadril abaixo da linha dos joelhos e o tronco ereto, de forma a permitir uma posição de repouso prolongado”, descreve Paulo.
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Como praticar o agachamento asiático
No Brasil, mesmo sem vasos sanitários de chão, é possível incorporar os seus benefícios praticando a posição de cócoras “Asian Squat” em casa. É importante lembrar que a segurança no agachamento depende de uma progressão gradual e da atenção à técnica.
O foco na mobilidade dos tornozelos e quadris é a chave para melhorar o agachamento no estilo asiático, essenciais para a profundidade e a estabilidade do movimento
Unsplash/Khanh Nguyen/Creative Commons
“As diferenças anatômicas podem interferir, mas é crucial entender que a anatomia individual é o fator determinante, e a mobilidade é o fator limitante mais comum. Enquanto a prática cultural é o principal diferencial, as variações anatômicas individuais – que ocorrem em todas as populações – podem impor limites à profundidade e à técnica do agachamento”, ressalta o especialista.
Confira as recomendações do médico traumatologista e ortopedista:
Mantenha os calcanhares firmemente plantados no chão durante todo o movimento. Se não conseguir, use um calço (como um livro ou anilhas) sob os calcanhares para compensar a falta de mobilidade do tornozelo.
Deixe o peito ereto e a coluna em uma posição neutra, evitando arredondar a parte inferior das costas (butt wink).
Comece com os pés na largura dos ombros ou ligeiramente mais abertos, com os dedos apontando levemente para fora (cerca de 15 a 30 graus). Encontre a posição que permita a maior profundidade sem dor.
Desça o máximo que puder confortavelmente, mantendo a postura correta. O objetivo é levar o quadril abaixo da linha dos joelhos.
Comece usando um objeto de apoio (poste, batente de porta) ou sentando-se em um banquinho baixo e, gradualmente, diminua a altura e a dependência do apoio.
“Estudos científicos mostram que o agachamento profundo, quando realizado com a técnica correta, é seguro e, na verdade, pode ser mais eficaz para o fortalecimento do joelho do que agachamentos parciais, pois não aumenta o risco de lesão e pode até prevenir problemas articulares”, garante o especialista.
Há contraindicações para a prática?
Sim. Embora o agachamento seja considerado um movimento natural, seguro e benéfico para a maioria das pessoas saudáveis, existem algumas contraindicações. “Pessoas com lesões agudas no joelho, quadril ou coluna vertebral, ou que tenham passado por cirurgias recentes nessas articulações, devem evitar o agachamento profundo até receberem liberação médica e fisioterapêutica”, adverte o médico.
Paulo também faz um alerta para as pessoas que têm condições crônicas. “Indivíduos com osteoartrite avançada ou outras patologias degenerativas nas articulações do joelho ou quadril devem realizar o agachamento apenas até o ponto de conforto e sob orientação de um profissional de saúde”, pondera.
“Os sanitários do tipo ‘squat’ têm uma longa história na China, sendo amplamente utilizados desde os tempos antigos. Eles estão intimamente relacionados à arquitetura e ao estilo de vida das antigas civilizações chinesas, refletindo os hábitos cotidianos da época”, destaca Bai Mengxuan, professora e diretora pedagógica do Instituto Confúcio na Universidade Estadual Paulista (UNESP), que promove a língua e cultura chinesa.
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Origem histórica
A origem dos banheiros de chão na China remonta a mais de 2.400 anos, quando foram descobertos vasos sanitários de cerâmica em palácios, utilizados pela elite. Esses sanitários eram considerados artigos de luxo, usados apenas pela classe alta, pois tinham um sistema de encanamento que levava os dejetos a uma fossa externa.
Em algumas regiões mais antigas ou menos desenvolvidas do Tibete, ainda é comum encontrar banheiros tradicionais que consistem em um buraco no chão sem infraestrutura de saneamento
Fatos Desconhecidos/Divulgação
“Na China Antiga, as pessoas usavam buracos no chão para fazer às suas necessidades. Desse modo, principalmente nas regiões mais carentes, eram feitos buracos na terra, e quando se enchiam, cavava-se um novo. Mais tarde, começaram a construir casinhas de madeira em volta para maior privacidade. Em áreas mais afastadas e remotas ainda é possível encontrar esse tipo de banheiro”, relata Serena Qi, professora da língua na Chinbra, escola especializada na cultura chinesa.
A professora explica que, antigamente, não havia descarga; existia um buraco ou um tipo de córrego de água, que conduzia tudo para um determinado local. Portanto, não se tratava exatamente de uma estrutura de esgoto. “Naquela época, não havia ferramentas de saneamento, então as pessoas construíam banheiros de forma mais rudimentar fora de casa”, ela complementa.
Por que os vasos sanitários de chão são tão populares na China?
A popularidade dos banheiros de chão na China deve-se principalmente à tradição, especialmente nas áreas rurais ou mais antigas , onde esses banheiros foram o padrão por séculos devido à ausência de infraestrutura de água encanada e ao seu custo reduzido.
Grande parte da população do Tibete, no sudoeste da China, usa sanitários precários em fossas
GettyImages/tanukiphoto
“Acredito que o motivo de sua popularização se deve, primeiro, à facilidade de construção, pois era muito mais fácil de ser construído; em segundo lugar, ao seu baixo custo; e, por último, a limpeza, por ser mais fácil de limpar, bastando basicamente jogar água para que ele fique limpo”, diz Serena.
Bai concorda: “em áreas rurais ou cidades menores, esses sanitários são mais fáceis de manter e têm um custo mais baixo, tornando-se uma escolha comum em muitas famílias. Isso também está relacionado às condições de vida locais e ao nível de desenvolvimento econômico da região”, complementa a diretora pedagógica.
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Benefícios do banheiro de piso
Na China, os banheiros no chão são vistos como mais higiênicos e oferecem benefícios para a saúde intestinal, além de fortalecer a sustentação do corpo. “A percepção de que banheiros de cócoras são mais higiênicos é baseada principalmente na ausência de contato direto da pele com o assento”, explica Paulo Cezar Schutz, médico especialista em traumatologia e ortopedia.
“Melhora a mobilidade articular, por manter a amplitude total do movimento dos tornozelos, joelhos e quadris; favorece a evacuação, pois relaxa o músculo puborretal e endireita o ângulo anorretal, o que facilita a passagem das fezes; fortalece os músculos estabilizadores do tronco e do quadril, além de ajudar a manter a curvatura natural da coluna lombar; e desenvolve a força das pernas de forma funcional, replicando um movimento essencial da vida diária”, pontua o médico.
Influência da tradição no design atual
A tradição de banheiros de chão na China influenciou o design ao criar uma dualidade de opções em locais modernos, onde o tradicional coexiste com o vaso sanitário convencional. Isso demandou a inclusão de ambas as configurações, ao mesmo tempo em que impulsiona inovações, que buscam aprimorar a experiência do usuário, sem abrir mão da opção tradicional em determinados locais.
“Hoje em dia os canos são instalados nas paredes, principalmente em apartamentos. Para esse tipo de assento, geralmente seria necessário ter cano sob o chão, possivelmente com uma camada diferente para acomodar esse encanamento. Isso pode explicar por que muitos prédios não possuem esse tipo de banheiro; é mais comum em casas ou em locais planos de um andar”, justifica Serena.
Na China, é comum encontrar banheiros de piso e assentos ocidentais no mesmo lugar, principalmente em edifícios públicos e áreas urbanas
Reddit/Hot_Objective_271/Reprodução
A modernização do país, impulsionada pelo turismo, tem levado a reformas que incluem a adoção de vasos sanitários mais modernos. “Embora os sanitários do tipo ‘squat ‘ tenham dominado a tradição chinesa, o acelerado processo de urbanização tem levado um número crescente de novos edifícios e locais públicos a adotar vasos sanitários, refletindo a diversidade e a modernização dos estilos de vida”, afirma Bai.
O vaso sanitário chinês tradicional requer um projeto de banheiro diferente do tipo ocidental. “Ao construi-lo no chão, ocupa menos espaço, pois, como não precisa ser elevado, não há necessidade de privada e tampa, tornando-o mais compacto. Assim, há a economia de espaço”, complementa Serena. As professoras acreditam que esses sanitários são adequados para o projeto de banheiros pequenos, especialmente em áreas urbanas, onde o espaço é limitado.
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Como são feitos os banheiros na China hoje em dia
Atualmente, os vasos sanitários modernos, embora mantenham o mesmo conceito, são fabricados com materiais diversos e apresentam maior higiene, além de possuírem descarga direta para o sistema de esgoto, especialmente em áreas urbanas. Já em regiões mais carentes, pode ser que se utilize um sistema mais antigo e simples de esgoto, com adaptações feitas ao longo do tempo, dependendo da área.
Os vasos sanitários modernos no chão na China são feitos principalmente de porcelana, um material cerâmico durável, higiênico e fácil de limpar
Reddit/imaginarynumber0/Reprodução
“O material deve ser um tipo de cerâmica, o mesmo utilizado para os sanitários no Brasil. O piso também deve ser permeável, podendo ser de azulejo ou de pedra. Acredito que a durabilidade seja parecida, mas diria que é um pouco maior por não possuir a tampa, que pode quebrar. Por ser estruturalmente mais simples, reduz a necessidade de manutenção e, possivelmente, aumentar a durabilidade e a sustentabilidade”, pensa Serena.
Com a modernização e a demanda por banheiros internos em estabelecimentos, surgiram banheiros com novas características e estruturas. Assim, existem projetos com pisos impermeáveis, sistemas de drenagem e até sistemas de descarga, além de instalações para limpeza.
A “Revolução dos Banheiros” na China e seus desafios
A “Revolução dos Banheiros” na China é uma campanha iniciada em 2015 pelo governo chinês de Xi Jinping, para melhorar as condições sanitárias dos banheiros públicos, especialmente em áreas turísticas e rurais. As medidas incluem a construção de novos banheiros, a reforma de instalações existentes, a substituição de vasos sanitários tradicionais e a introdução de tecnologias como banheiros neutros em gênero e dispensadores de papel higiênico ativados por QR code.
Banheiro público localizado na cidade de Linxia, em Gansu, no noroeste da China, com janela no meio para cobrar a “taxa de uso”
Wikipedia/Vmenkov/Creative Commons
“Nos últimos dez anos houve a substituição de alguns banheiros de agachamento pelos sanitários que temos hoje em dia. Nesse contexto, surgiram esses sistemas híbridos, que podem oferecer os dois tipos em um único lugar. Em alguns hotéis voltados para estrangeiros, é possível encontrar 100% dos vasos ocidentais, de sentar”, expõe Serena.
Além disso, de acordo com Serena, existe uma tendência crescente em relação a banheiros mais inteligentes e tecnológicos. Contudo, ao mesmo tempo, há o desafio de atender às necessidades de diferentes usuários. “O vaso de chão continua presente em diversos contextos, porém com melhorias. Ao mesmo tempo, os vasos de assento e inteligentes estão ganhando popularidade, especialmente nas regiões mais modernas do país”, reflete a docente da Chinbra.
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Afinal, banheiro de chão ou assento sanitário?
A escolha entre banheiros de chão e banheiros ocidentais depende de preferências pessoais, culturais e de saúde. Em áreas urbanas ricas, como edifícios de alto padrão em Xangai, o vaso sanitário de assento é padrão, enquanto em áreas rurais, o vaso de agachamento ainda é utilizado.
“Essa preferência é bem notável dependendo do cenário e da idade. Em algumas cidades, talvez você perceba uma divisão, enquanto em outras a diferença pode ser um pouco mais significativa, devido o padrão de vida, à forma como é visto por aquele grupo da sociedade ou aos costumes das pessoas daquela região”, avalia Serena.
Os banheiros públicos na China podem oferecer os dois tipos de assentos sanitários, o de cócoras e o de sentar, devido a uma mistura de fatores culturais e evoluções na infraestrutura
Wrightbu/Wikimedia Commons
Há uma transição em que, de um lado, muitos estrangeiros, visitantes e turistas que visitam o país estão acostumados com o vaso sanitário de assento, enquanto, do outro lado, há a familiaridade dos chineses, que muitas vezes preferem ou só sabem usar o vaso de agachamento.
“O padrão ocidental está ganhando bastante espaço nas construções mais novas, mas não acredito que ele vá substituir completamente ou de imediato os vasos de agachamento. Fatores como custo, cultura e hábitos, principalmente, favorecem o uso do vaso de chão em muitos contextos”, finaliza Serena.
A posição de cócoras “Asian Squat”
Os banheiros tradicionais chineses do tipo agachado refletem a posição cultural de cócoras, conhecida como “Asian Squat”, comum na Ásia, e estão relacionados ao uso desse tipo de vaso sanitário. Essa tradição faz parte do cotidiano chinês e desenvolve a flexibilidade necessária desde a infância para realizar esse movimento sem desconforto.
O agachamento asiático, também conhecido como agachamento profundo, é uma posição em que a pessoa agacha completamente até o chão, com os calcanhares apoiados no chão e os quadris abaixo dos joelhos
Unsplash/Trình Minh Thư/Creative Commons
“A principal razão pela qual essa postura é mais fácil para as populações asiáticas é a prática contínua desde a infância. Nas culturas onde o agachamento é uma posição de repouso comum, essa mobilidade é mantida ao longo da vida. Não se trata de uma diferença genética fundamental, mas sim de uma diferença na manutenção da mobilidade funcional devido a hábitos culturais”, afirma o médico.
Essa posição atua como um sinalizador da mobilidade e flexibilidade das articulações do tornozelo, joelho e quadril, representando um movimento funcional essencial para a saúde musculoesquelética. “O ‘Agachamento Asiático’ é essencialmente um agachamento profundo (deep squat) realizado com os pés totalmente apoiados no chão, com o quadril abaixo da linha dos joelhos e o tronco ereto, de forma a permitir uma posição de repouso prolongado”, descreve Paulo.
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Como praticar o agachamento asiático
No Brasil, mesmo sem vasos sanitários de chão, é possível incorporar os seus benefícios praticando a posição de cócoras “Asian Squat” em casa. É importante lembrar que a segurança no agachamento depende de uma progressão gradual e da atenção à técnica.
O foco na mobilidade dos tornozelos e quadris é a chave para melhorar o agachamento no estilo asiático, essenciais para a profundidade e a estabilidade do movimento
Unsplash/Khanh Nguyen/Creative Commons
“As diferenças anatômicas podem interferir, mas é crucial entender que a anatomia individual é o fator determinante, e a mobilidade é o fator limitante mais comum. Enquanto a prática cultural é o principal diferencial, as variações anatômicas individuais – que ocorrem em todas as populações – podem impor limites à profundidade e à técnica do agachamento”, ressalta o especialista.
Confira as recomendações do médico traumatologista e ortopedista:
Mantenha os calcanhares firmemente plantados no chão durante todo o movimento. Se não conseguir, use um calço (como um livro ou anilhas) sob os calcanhares para compensar a falta de mobilidade do tornozelo.
Deixe o peito ereto e a coluna em uma posição neutra, evitando arredondar a parte inferior das costas (butt wink).
Comece com os pés na largura dos ombros ou ligeiramente mais abertos, com os dedos apontando levemente para fora (cerca de 15 a 30 graus). Encontre a posição que permita a maior profundidade sem dor.
Desça o máximo que puder confortavelmente, mantendo a postura correta. O objetivo é levar o quadril abaixo da linha dos joelhos.
Comece usando um objeto de apoio (poste, batente de porta) ou sentando-se em um banquinho baixo e, gradualmente, diminua a altura e a dependência do apoio.
“Estudos científicos mostram que o agachamento profundo, quando realizado com a técnica correta, é seguro e, na verdade, pode ser mais eficaz para o fortalecimento do joelho do que agachamentos parciais, pois não aumenta o risco de lesão e pode até prevenir problemas articulares”, garante o especialista.
Há contraindicações para a prática?
Sim. Embora o agachamento seja considerado um movimento natural, seguro e benéfico para a maioria das pessoas saudáveis, existem algumas contraindicações. “Pessoas com lesões agudas no joelho, quadril ou coluna vertebral, ou que tenham passado por cirurgias recentes nessas articulações, devem evitar o agachamento profundo até receberem liberação médica e fisioterapêutica”, adverte o médico.
Paulo também faz um alerta para as pessoas que têm condições crônicas. “Indivíduos com osteoartrite avançada ou outras patologias degenerativas nas articulações do joelho ou quadril devem realizar o agachamento apenas até o ponto de conforto e sob orientação de um profissional de saúde”, pondera.



