Qual a diferença entre a arquitetura colonial e a barroca no Brasil? Entenda

Muitas vezes confundidas, as arquiteturas colonial e barroca brasileiras, que marcam a história das construções no país, não são iguais. “Na verdade, não é uma questão de diferença. É uma questão de regência. A arquitetura barroca brasileira está dentro do período cronológico de vigência da arquitetura colonial brasileira, o que explica a confusão”, esclarece o arquiteto André Guilherme Dornelles Dangelo, professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Leia mais
Segundo o especialista, toda a arquitetura produzida no Brasil entre 1500 e 1822 — o ano da Independência do Brasil — se enquadra como colonial. Como a expressão da linguagem do barroco no país acontece dentro deste período, ele acaba entrando no guarda-chuva colonial.
A cidade de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, ainda guarda a arquitetura da era colonial no Brasil
Flickr/Leandro Neumann Ciuffo/Creative Commons
Apesar de ser comumente definida como “arquitetura colonial brasileira”, esse momento histórico não representa um estilo arquitetônico em si, mesmo contendo algumas características que o distinguem.
“A arquitetura colonial não é um estilo, é toda uma forma de ver o mundo de uma época, e tem vários estilos dentro disso que aglutinamos e chamamos de colonial”, fala o arquiteto, urbanista e pesquisador Mateus Rosada.
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador (BA), é um expressivo exemplar da tradição barroca no país
Paul R. Burley/Wikimedia Commons
O que popularmente se entende como colonial é uma arquitetura mais simples e funcional, feita com materiais locais, como taipa de pilão, pedra e madeira. “Eram casas térreas ou sobrados com pouca decoração. O objetivo era atender às necessidades práticas da vida nas vilas e cidades em formação”, aponta a arquiteta Pati Cillo.
“O colonial deixou como herança o padrão de casas e sobrados com varandas, a lógica urbana em torno de praças e igrejas, e um vocabulário arquitetônico simples que permanece em cidades históricas”, acrescenta a profissional.
Leia mais
Já o barroco chegou ao país um pouco mais tarde do que a sua vertente original, desenvolvida em Roma, entre os anos de 1590 e 1680. “Era uma expressão artística e arquitetônica profundamente ligada ao Movimento da Contrarreforma Católica na Itália, em um período marcado por forte crise econômica, moral e cultural e uma enorme instabilidade que envolvia o dualismo entre fé e razão”, indica André.
De acordo com ele, as datas definidas nos estudos clássicos do historiador Germain Bazin (1901-1990), a arte e a arquitetura chamadas de “barroco no Brasil” se manifestaram dentro das construções religiosas do país entre 1680 e 1814 — período da colonização portuguesa.
A Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes, Minas Gerais, é um exemplo da arquitetura colonial brasileira, assim como outras construções da cidade
Glauco Umbelino/Wikimedia Commons
No entanto, esse movimento — chamado de “tardo barroco” — foi marcado pela mistura com outros estilos. “Também engloba manifestações da arte rococó e até neoclassicismo, na sua vertente ligada ao estilo pombalino, que marcou a reconstrução de Lisboa a partir de 1755”, detalha André.
Exuberante, dramático e rico em ornamentos, o barroco se manifestou, sobretudo, em igrejas e edifícios religiosos. “Ele ganha forma em regiões ricas por conta de ouro e diamantes, como Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Os templos tinham muita ornamentação, às vezes pouca por fora, mas uma profusão gigante por dentro”, comenta Pati.
Leia mais
Ao lado da simplicidade das construções coloniais, o barroco brasileiro se destaca em fachadas elaboradas, com curvas, movimento e riqueza de detalhes esculpidos em pedra-sabão, e, no interior das construções, em altares dourados, madeira talhada, pinturas ilusionistas no teto e uso intenso de simbolismo religioso.
“O barroco imprimiu exuberância e identidade artística única, influenciando inclusive o neoclássico e o modernismo em releituras posteriores. O trabalho de mestres como Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde consolidou um barroco tipicamente brasileiro”, finaliza Pati.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima