Shoji: conheça a tradicional divisória de papel da arquitetura japonesa e saiba como usar

Talvez você não conheça pelo nome, mas provavelmente já deve ter visto em filmes ambientados no Japão, especialmente aqueles que retratam a cultura e a arquitetura tradicional. Estamos nos referindo ao shoji, uma estrutura de madeira com papel ou outro material translúcido, característico do design japonês e que funciona como porta ou divisória interna.
Leia mais
O shoji tem suas raízes na China, mas foi introduzido e desenvolvido no Japão. Além do intercâmbio cultural, o fortalecimento do elemento foi influenciado pelo Budismo e pelas casas de chá, cuja atmosfera tranquila e reflexiva ajudou a transformá-lo em elemento essencial do design desses espaços.
O shoji pode contribuir para uma ambiente acolhedor e aconchegante, graças à luz suave e difusa que atravessa o papel, gerando uma sensação de tranquilidade e serenidade. Além disso, ele suaviza as bordas do espaço, tornando-o mais convidativo e relaxante
Unsplash/Ryunosuke Kikuno/Creative Commons
“Sempre me encantou, não só pela estética, mas pela filosofia que carrega. Ele nasceu como solução para dividir e proteger os ambientes sem romper a conexão com a natureza. O shoji traduz o equilíbrio tão presente na arquitetura japonesa, entre dentro e fora, luz e sombra, cheio e vazio. Convida a desacelerar”, declara a arquiteta Juliana Pippi.
Símbolo da estética japonesa
Inicialmente, o shoji era comum em residências populares, de classe média e trabalhadoras, por ser leve e econômico. Com o passar do tempo, o conceito começou a ser incorporado em casas mais sofisticadas e projetos contemporâneos. Durante o Período Edo (1603-1868), se tornou comum em lares de todas as classes sociais no Japão.
Logo, se tornou ícone da estética oriental e da procura por espaços em sintonia com a natureza. “Os japoneses sempre preferiram telas delicadas a paredes grossas, permitindo-lhes sentir-se próximos da natureza. As telas shoji são um excelente exemplo desta preferência”, afirma o arquiteto japonês Kengo Kuma, à frente do escritório Kengo Kuma and Associates.
No Japão, é comum o uso dos shojis em fachadas de casas simples, além de serem utilizados como divisórias internas e portas
Freepik/Creative Commons
O shoji é tradicionalmente produzido em madeira — geralmente cedro-japonês ou hinoki — revestida com papel translúcido, como o washi (papel de arroz). Sua estrutura é formada por ripas finas dispostas em padrão geométrico, criando um grid que sustenta o papel, colado e recortado de acordo com o tamanho do painel.
“Às vezes usamos o papel washi em nossa arquitetura, aplicando-o em shojis ou outras funções. Também usamos vidro e metal para criar versões alternativas de shoji. Nosso objetivo é permitir que a luz natural chegue ao interior de forma uniforme e suave, independentemente da localização”, conta o arquiteto.
Características principais do shoji
A estrutura de madeira precisa ser leve e o papel translúcido deve permitir a passagem de luz difusa. Os shojis são projetados para dividir cômodos sem comprometer a luminosidade, funcionando como uma parede móvel, proporcionando flexibilidade e até parte da decoração.
“A moldura da tela shoji deve ser a mais fina possível para resistir a manuseios bruscos. O papel deve ser uniformemente afinado para que a luz externa atinja o fundo do ambiente. As estruturas são delicadas e leves, que permitem serem operadas com uma mão ou com um dedo. Isso as torna fáceis de abrir e fechar, proporcionando boa ventilação, com a luz atingindo o fundo do ambiente”, destaca Kengo.
A madeira do shoji deve ser leve e de fácil manuseio, apresentando estabilidade para não empenar com facilidade, além de possibilitar um bom acabamento e aceitar o papel translúcido que a reveste
Pexels/ZHIXUAN ZHU/Creative Commons
Segundo Juliana Pippi, a essência do shoji está na leveza. “Uma estrutura geométrica de madeira clara que sustenta um painel translúcido. É flexível, pode ser porta, divisória ou fechamento de janela, e, ao mesmo tempo, traz textura e desenho ao ambiente. Não só organiza o espaço, mas cria atmosferas”, ela reflete.
Leia mais
Para Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo, o shoji valoriza o essencial. “A estética é simples e elegante, com linhas retas. O fato de ser extremamente leve também é uma característica positiva, que permite manipulação fácil e traz a sensação de sutileza e delicadeza”, comenta.
Multifuncional e com impacto profundo
O shoji favorece a interação harmoniosa entre a construção e a natureza, trazendo potenciais benefícios. “São divisórias arquitetônicas perfeitas para os tempos de crise ambiental. São materiais de construção ecologicamente corretos que não dependem de iluminação artificial”, pontua o arquiteto japonês.
No shoji, o papel translúcido, conhecido como washi, filtra a iluminação, criando jogos de luz e sombra que transformam o ambiente ao longo do dia
Unsplash/Nick Fewings/Creative Commons
Além disso, o shoji permite a reconfiguração dos cômodos, possibilitando transformações que oferecem liberdade. “Ele filtra o som e a luz, sem barrar completamente nenhum dos dois, mantendo a relação do espaço externo e interno, algo bastante valorizado na cultura japonesa”, acrescenta Natasha.
Leia mais
Uso do shoji no Brasil
No Brasil, o shoji aparece em projetos que buscam trazer atmosfera zen, de simplicidade e conexão com a natureza. “Percebo que é muito usado em espaços de contemplação, como jardins e áreas de relaxamento. Ele também já ganhou versões adaptadas para materiais e sistemas de correr contemporâneos, o que amplia suas possibilidades”, diz Juliana.
O Gazebo Shoji, desenhado pela arquiteta Juliana Pippi, é uma estrutura que combina a leveza visual do elemento tradicional com materiais resistentes ao clima brasileiro
Marco Antonio/Divulgação
“Gosto de trabalhar com madeiras claras brasileiras, como freijó ou jequitibá, e substitutos contemporâneos para o washi, como tecidos translúcidos, vidro fosco ou policarbonato, principalmente quando o projeto exige resistência e fácil manutenção. Além disso, combiná-lo com outros elementos naturais e, sempre que possível, deixá-lo como peça central”, continua a arquiteta.
Leia mais
Elemento atemporal que transcende culturas
Com sua beleza minimalista e funcionalidade, o shoji ultrapassou a arquitetura japonesa e conquistou espaço em projetos de diferentes culturas. Versátil, adapta-se a variados ambientes e estilos, mantendo a essência de flexibilidade e inspiração do design japonês.
Separando cozinha e sala de jantar, as portas de correr foram executadas de ferro, pela Serralheria Alexandre Dias. Inspiradas nas divisórias japonesas shoji, em vez de papel, ganharam vidro opacos. O projeto é do escritório CoDA Arquitetura
Júlia Tótoli/Divulgação
“Acredito que as telas shoji se espalharão pelo mundo como alternativas leves a paredes e vidro. Em climas tropicais, elas suavizam a luz forte e, em climas do norte, permitem que a luz natural chegue ao fundo do cômodo. Embora o shoji seja utilizado no Japão desde a antiguidade, considero um material do futuro”, declara Kengo Kuma.
Leia mais
Como preservar o shoji
Algumas práticas são fundamentais para conservar a funcionalidade e a estética do shoji ao longo do tempo. “Deve-se evitar produtos abrasivos e excesso de umidade. Nos painéis de papel, a substituição deve ser feita quando houver desgaste, e nos de tecido ou policarbonato, a limpeza deve ser suave. Os trilhos bem cuidados e lubrificados garantem que mantenha o movimento fluido”, orienta Juliana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima