Torre Glòries: conheça o edifício icônico de Barcelona com 144 metros de altura

Barcelona é conhecida por diferentes ícones arquitetônicos, dentre eles, a Torre Glòries, localizada no novo distrito 22@Barcelona. Com 144 metros de altura, o edifício, inicialmente nomeado Torre Agbar, tornou-se uma referência de design moderno por seu formato e método de construção, além das lâminas coloridas na parte externa. Em 2025, ele celebra 20 anos de existência.
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Projetada pelo arquiteto francês Jean Nouvel em parceria com o escritório b720 Fermín Vázquez Arquitectos, a torre se destaca por dialogar com o mar mediterrâneo e com o céu de Barcelona. Hoje, o edifício não é apenas um marco visual, mas um espaço cultural aberto ao público, que convida à reflexão sobre o processo de elaboração das cidades.
A história da Torre Glòries
A Torre Glòries nasceu em um momento de profunda transformação em Barcelona. Após as Olimpíadas de 1992, a cidade passou a investir em um modelo de desenvolvimento urbano voltado à inovação e à requalificação de antigas áreas industriais. “O projeto representou a busca por novos símbolos de modernidade, sustentabilidade e tecnologia na Barcelona pós-Olímpica”, afirma Mireia Baldó, líder de marketing e relações-públicas do mirante da Torre Glòries.
A Torre Glòries foi construída inicialmente para receber a administração da Companhia de Águas de Barcelona
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
Essas propostas se intensificaram com o primeiro Fórum Universal das Culturas, em 2004. O evento teve como principal objetivo promover a crescente indústria turística da cidade. As intervenções do fórum concentraram-se na frente marítima nordeste da cidade, criando novos espaços públicos e equipamentos que requalificaram antigos tecidos urbanos industriais de Poblenou e abriram a cidade ao mar nesta região.
No bairro Poblenou, surgiu o distrito 22@Barcelona, uma área destinada a empresas de tecnologia, design e criatividade. Foi nesse contexto que, em 2005, a Torre Agbar foi inaugurada como sede da Aigües de Barcelona, companhia de águas da cidade. O próprio nome é uma homenagem a este uso inicial.
A altura da torre foi um elemento do projeto que foi discutido devido a sua possibilidade de integração ou não com outros espaços históricos e culturais de Barcelona, como a Basílica
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
“A torre se insere como ícone arquitetônico de um novo ciclo urbano, um marco visível no skyline que ancora a narrativa de inovação e reforça o city marketing de Barcelona”, diz Bruno Zaitter, arquiteto urbanista, professor e pesquisador sobre a forma física das cidades e como ela afeta o cotidiano das pessoas.
Essa transformação, no entanto, tem uma camada ambivalente. A modernização do distrito Poblenou faz parte de uma tendência global de revitalização de bairros industriais em polos de inovação. “Em tese, o que é um movimento virtuoso, ao aproximar trabalho, moradia, serviços e aproveitamento da infraestrutura existente, pode permanecer como um desafio de conexão entre o novo e o antigo”, destaca Bruno.
O distrito de Poblenou teve uma importância histórica e industrial significativa, que ficou pouco presente na memória urbana após as transformações e a revitalização do distrito
Flickr/Nicolas Vigier/Creative Commons
Na cidade catalã, esse processo veio acompanhado de processos de gentrificação e demolições de galpões, gerando uma perda de memória e descontinuidade arquitetônica. “Somou-se a isso, um apelo imobiliário que elevou preços, expulsou usos preexistentes e pressionou a população local”, pontua o pesquisador.
Cores, tecnologia e a modernidade da Torre Glòries
A construção da Torre Glòries combinou técnicas avançadas de engenharia a um projeto arquitetônico inovador. Inspirada em um gêiser de água, a torre tem um desenho que combina cilindros concêntricos e uma fachada dupla de vidro e alumínio.
No período da noite, a iluminação das lâminas traz um visual moderno e tecnológico para a Torre Glòries
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
O núcleo estrutural de concreto garante estabilidade, enquanto a fachada é composta por mais de painéis de vidro e alumínio, dispostos para criar padrões de luz e cor. Essa parte exterior da fachada conta também com um sistema tecnológico de iluminação de LED, que potencializa os efeitos das luzes no período noturno.
“As janelas irregulares e os painéis coloridos foram projetados para que o edifício pareça mudar ao longo do dia, dependendo da incidência da luz”, explica Marcos Faccioli Gabriel, professor do curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP). “A pele exterior funciona quase como uma tela digital, com dissolução de cores semelhante aos ideais do expressionismo abstrato alemão”, complementa o professor.
As lâminas fazem um jogo estético de cores que transformam o visual da Torre durante o dia em função da interação dos materiais com a luz solar e artificial
Flickr/Fred Romero/Creative Commons
Com 144 metros de altura e 30 andares, a gradação cromática da torre simboliza a jornada da água das profundezas da terra à superfície. “Referências secundárias à cultura catalã, como as montanhas de Montserrat e as torres da Sagrada Família, também foram incorporadas no projeto”, explica Mireia.
O jogo de cores também pode ser lido como uma analogia ao movimento artístico impressionista, surgido na França no final do século 19, que buscava retratar a realidade através da percepção subjetiva do artista. “As lâminas coloridas se dissolvem em meio a paisagem urbana, como manchas coloridas similares a pinceladas, tais como as pinturas de Monet e Picasso”, indica Marcos.
A posição da Torre Glòries dialoga com as determinações do Plano Cerdà
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
A Torre Glòries se destaca no horizonte de Barcelona não apenas por sua forma singular, mas também pela maneira como se conecta à malha urbana criada pelo Plano Cerdà – plano de reforma e ampliação da cidade de Barcelona de 1860, elaborado pelo engenheiro e urbanista Ildefonso Cerdà. Ele organiza a cidade em uma grade ortogonal de ruas largas e quarteirões regulares, priorizando a circulação, a iluminação e a saúde urbana.
Embora rompa a horizontalidade característica do bairro, a torre tem um posicionamento que respeita a geometria da malha, funcionando como ponto de referência dentro da regularidade urbana. O contraste vai além do formal, tem um papel simbólico. “A torre atua como um marco, um símbolo de inovação que se integra ao tecido urbano, sem deixar de se afirmar como ícone contemporâneo”, observa Marcos.
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De sede da companhia de águas a atração turística
Em 2017, o edifício foi adquirido pela Merlin Properties e passou a ser conhecido como Torre Glòries. “O novo nome faz referência à sua localização na Plaça de les Glòries Catalanes, planejada por Cerdà e vital para a cidade, reforçando a conexão com a região ao redor”, explica Mireia.
A inauguração do mirante da Torre Glòries aconteceu em 2022, e ele oferece uma vista panorâmica da cidade de Barcelona
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
Desde maio de 2022, a função corporativa deu lugar a um importante espaço cultural e um ponto de observação em Barcelona, com o Mirador Torre Glòries. O local oferece exposições de arte, instalações interativas e um mirante 360° no seu 30º andar. A torre já recebeu mais de 350 mil visitantes e integra a associação internacional World Federation of Great Towers.
A Torre Glòries também oferece exposições, instalações interativas e atividades para os visitantes
Fotografia do Mirante Torre Glòries/Cortesia de The Exhibition Company/Merlin Properties
“A Torre Glòries transcendeu sua função original e tornou-se símbolo da transformação de Barcelona em uma metrópole voltada para o design e inovação”, salienta Mireia. Contudo, sua proeminência também contribui para pensar as contradições dos Grandes Projetos Urbanos (GPUs) espetaculares.
“Bons ícones ajudam a contar a história, mas qualidade de vida nasce do bom desenho na dimensão humana. Se o ícone toca bem o chão, dialoga com a cidade e os cidadãos, e deixa um legado maior e mais complexo”, finaliza Bruno.

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