No número 949 da Avenida Paulista, em São Paulo, um prédio brutalista chama atenção, tanto por sua arquitetura única quanto por seu estado atual de abandono e degradação no coração da capital paulista. Chamado de Torre Paulista, ele foi concluído em 1974, com o nome original de Edifício Aquarius.
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A construção foi projetada pelo arquiteto e designer Jorge Zalszupin (polonês naturalizado brasileiro, conhecido por suas peças de mobiliário), pelo arquiteto José Gugliotta e por José Maria de Moura Pessoa, em um terreno amplo, de 3.144 m².
“A Torre Paulista virou um ícone na avenida. Não era só mais um prédio comercial, mas uma peça de arquitetura que marcou a paisagem e ajudou a dar identidade à Paulista como vitrine da modernidade em São Paulo”, fala o fotógrafo Rafael D’Andrea, diretor da Casa da Arquitetura Moderna Paulista (CAMP), instituição dedicada a preservar, digitalizar e difundir a memória da arquitetura moderna no Brasil.
A Torre Paulista foi, aos poucos, sendo abandonada pelos bancos e empresas que sediava
Wilfredor/Wikimedia Commons
Com 20 m de frente e quase 120 m de fundo, o prédio corta a quadra de uma ponta a outra e tem duas entradas: a principal, pela Avenida Paulista, e uma opção secundária, pela Alameda Santos, no quarteirão de baixo. São 22 andares, quatro elevadores e mais de 130 vagas de estacionamento.
O grande diferencial da construção é a sua arquitetura em formato curvilíneo, que lembra um “escorregador”, com pavimentos que diminuem de tamanho do térreo ao topo, que tem apenas 18 m de profundidade.
A Torre Paulista quando ainda reinava quase que absoluta na Avenida Paulista, nos anos 1970
SP City/Francisco de Almeida Lopes/Reprodução
Sua base possui quase 1 mil m² e o último andar, pouco mais de 300 m². “O que mais chama a atenção é a ousadia da forma. É um edifício que chama atenção pela volumetria, sem medo de ser diferente”, avalia Rafael.
A edificação foi projetada em concreto armado, seguindo o brutalismo arquitetônico do período. “Eles queriam criar algo que se diferenciasse dos blocos retos que já ocupavam a Paulista. A solução foi uma torre curva, que afunila à medida que sobe, quase como uma escultura, mas ainda assim atendendo às exigências da legislação”, diz o pesquisador.
A Torre Paulista na época de sua construção, com anúncios de locação de andares
Revista Manchete/Reprodução
Por anos, o prédio pertenceu ao banco japonês Sumitomo, que o comprou por seu design único lembrar a forma dos templos do Japão. Além da instituição financeira, o edifício foi ocupado por empresas e associações de diversos segmentos, como escritórios de advocacia, agências de viagem e sindicatos, que alugaram outros andares.
“A Torre Paulista foi projetada no começo dos anos 1970, quando a Paulista começava a se consolidar como centro financeiro da cidade. Foi inaugurada em meados da década e nasceu para ser um edifício de escritórios. Logo virou sede do Banco Sumitomo, que se identificou com a arquitetura”, conta o fotógrafo.
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Antes de ser Torre Paulista, o terreno onde foi instalado o edifício abrigava o casarão número 118 da Avenida Paulista, que, em seus último anos, foi propriedade da família Monteiro Soares. “Ali havia um casarão, como tantos que foram sendo derrubados para dar lugar à verticalização da avenida”, afirma Rafael.
Segundo o portal SP City, o primeiro registro da casa data de junho de 1916, quando a prefeitura autorizou a sua construção. No ano seguinte, o imóvel já aparece na lista telefônica da época, indicando que estava pronto e habitado. Em 1927, na mesma lista telefônica, consta como proprietário Claudio Monteiro Soares, cuja família foi dona da residência até ela dar lugar ao Torre Paulista.
Estado de abandono
Com o tempo, o Torre Paulista foi perdendo a sua função e a plena ocupação. “Nos anos 2000, ele continuou em uso, mas muito subutilizado, já sem a mesma relevância que tinha quando a Paulista era o principal centro financeiro da cidade”, afirma o fotógrafo.
A Torre Paulista seria o endereço da unidade paulistana da rede Hard Rock Hotel, projeto que não saiu do papel
Mike Peel/Wikimedia Commons
A degradação começou com a migração de bancos e grandes empresas para a Avenida Faria Lima e região, o que tirou do edifício o seu maior público e reduziu a ocupação a atividades pontuais.
“Eu fotografei o Torre Paulista em 2018. O prédio estava bem degradado, com marcas do abandono, mas ainda assim impressionava. A forma se impunha, mesmo com a fachada gasta. Fotografei justamente para registrar esse momento de pausa na história do edifício, como se estivesse suspenso no tempo, aguardando uma nova vida”, relembra Rafael.
O Edifícito Torre Paulista foi projetado por Jorge Zalszupin, José Gugliotta e José Maria de Moura
Paulo Humberto/Wikimedia Commons
Em 2019, parecia que o prédio icônico ganharia um novo capítulo, quando foi anunciada a instalação da primeira unidade paulistana da rede Hard Rock Hotel no endereço. Com 230 quartos, a hospedagem tinha previsão de ficar pronta em 2021, com um orçamento de cerca de R$ 100 milhões em reformas.
“Pouco antes da pandemia, com o anúncio do projeto do Hard Rock Hotel, o administrador decidiu não renovar os contratos de aluguel e o prédio foi desocupado de vez, em uma requalificação que se espera até hoje”, revela Rafael.
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De acordo com ele, o Torre Paulista pertence a um fundo, administrado por uma gestora, responsável por negociar a sua locação. “O anúncio foi feito, mas o projeto não andou. Até agora nada se concretizou, tudo indica que a administradora do Hard Rock teve algumas mudanças de rumos no Brasil, diversos outros projetos deles acabaram sendo suspensos ou deixaram de existir”, comenta.
Atualmente, com janelas quebradas e pichações, o edifício aguarda um destino ainda incerto. Esvaziado de seu passado e sem projeto futuro, o Torre Paulista espera por uma renovação que o coloque novamente à altura da sua arquitetura icônica e do endereço que ele ocupa, na avenida que é símbolo da capital paulista.
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A construção foi projetada pelo arquiteto e designer Jorge Zalszupin (polonês naturalizado brasileiro, conhecido por suas peças de mobiliário), pelo arquiteto José Gugliotta e por José Maria de Moura Pessoa, em um terreno amplo, de 3.144 m².
“A Torre Paulista virou um ícone na avenida. Não era só mais um prédio comercial, mas uma peça de arquitetura que marcou a paisagem e ajudou a dar identidade à Paulista como vitrine da modernidade em São Paulo”, fala o fotógrafo Rafael D’Andrea, diretor da Casa da Arquitetura Moderna Paulista (CAMP), instituição dedicada a preservar, digitalizar e difundir a memória da arquitetura moderna no Brasil.
A Torre Paulista foi, aos poucos, sendo abandonada pelos bancos e empresas que sediava
Wilfredor/Wikimedia Commons
Com 20 m de frente e quase 120 m de fundo, o prédio corta a quadra de uma ponta a outra e tem duas entradas: a principal, pela Avenida Paulista, e uma opção secundária, pela Alameda Santos, no quarteirão de baixo. São 22 andares, quatro elevadores e mais de 130 vagas de estacionamento.
O grande diferencial da construção é a sua arquitetura em formato curvilíneo, que lembra um “escorregador”, com pavimentos que diminuem de tamanho do térreo ao topo, que tem apenas 18 m de profundidade.
A Torre Paulista quando ainda reinava quase que absoluta na Avenida Paulista, nos anos 1970
SP City/Francisco de Almeida Lopes/Reprodução
Sua base possui quase 1 mil m² e o último andar, pouco mais de 300 m². “O que mais chama a atenção é a ousadia da forma. É um edifício que chama atenção pela volumetria, sem medo de ser diferente”, avalia Rafael.
A edificação foi projetada em concreto armado, seguindo o brutalismo arquitetônico do período. “Eles queriam criar algo que se diferenciasse dos blocos retos que já ocupavam a Paulista. A solução foi uma torre curva, que afunila à medida que sobe, quase como uma escultura, mas ainda assim atendendo às exigências da legislação”, diz o pesquisador.
A Torre Paulista na época de sua construção, com anúncios de locação de andares
Revista Manchete/Reprodução
Por anos, o prédio pertenceu ao banco japonês Sumitomo, que o comprou por seu design único lembrar a forma dos templos do Japão. Além da instituição financeira, o edifício foi ocupado por empresas e associações de diversos segmentos, como escritórios de advocacia, agências de viagem e sindicatos, que alugaram outros andares.
“A Torre Paulista foi projetada no começo dos anos 1970, quando a Paulista começava a se consolidar como centro financeiro da cidade. Foi inaugurada em meados da década e nasceu para ser um edifício de escritórios. Logo virou sede do Banco Sumitomo, que se identificou com a arquitetura”, conta o fotógrafo.
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Antes de ser Torre Paulista, o terreno onde foi instalado o edifício abrigava o casarão número 118 da Avenida Paulista, que, em seus último anos, foi propriedade da família Monteiro Soares. “Ali havia um casarão, como tantos que foram sendo derrubados para dar lugar à verticalização da avenida”, afirma Rafael.
Segundo o portal SP City, o primeiro registro da casa data de junho de 1916, quando a prefeitura autorizou a sua construção. No ano seguinte, o imóvel já aparece na lista telefônica da época, indicando que estava pronto e habitado. Em 1927, na mesma lista telefônica, consta como proprietário Claudio Monteiro Soares, cuja família foi dona da residência até ela dar lugar ao Torre Paulista.
Estado de abandono
Com o tempo, o Torre Paulista foi perdendo a sua função e a plena ocupação. “Nos anos 2000, ele continuou em uso, mas muito subutilizado, já sem a mesma relevância que tinha quando a Paulista era o principal centro financeiro da cidade”, afirma o fotógrafo.
A Torre Paulista seria o endereço da unidade paulistana da rede Hard Rock Hotel, projeto que não saiu do papel
Mike Peel/Wikimedia Commons
A degradação começou com a migração de bancos e grandes empresas para a Avenida Faria Lima e região, o que tirou do edifício o seu maior público e reduziu a ocupação a atividades pontuais.
“Eu fotografei o Torre Paulista em 2018. O prédio estava bem degradado, com marcas do abandono, mas ainda assim impressionava. A forma se impunha, mesmo com a fachada gasta. Fotografei justamente para registrar esse momento de pausa na história do edifício, como se estivesse suspenso no tempo, aguardando uma nova vida”, relembra Rafael.
O Edifícito Torre Paulista foi projetado por Jorge Zalszupin, José Gugliotta e José Maria de Moura
Paulo Humberto/Wikimedia Commons
Em 2019, parecia que o prédio icônico ganharia um novo capítulo, quando foi anunciada a instalação da primeira unidade paulistana da rede Hard Rock Hotel no endereço. Com 230 quartos, a hospedagem tinha previsão de ficar pronta em 2021, com um orçamento de cerca de R$ 100 milhões em reformas.
“Pouco antes da pandemia, com o anúncio do projeto do Hard Rock Hotel, o administrador decidiu não renovar os contratos de aluguel e o prédio foi desocupado de vez, em uma requalificação que se espera até hoje”, revela Rafael.
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De acordo com ele, o Torre Paulista pertence a um fundo, administrado por uma gestora, responsável por negociar a sua locação. “O anúncio foi feito, mas o projeto não andou. Até agora nada se concretizou, tudo indica que a administradora do Hard Rock teve algumas mudanças de rumos no Brasil, diversos outros projetos deles acabaram sendo suspensos ou deixaram de existir”, comenta.
Atualmente, com janelas quebradas e pichações, o edifício aguarda um destino ainda incerto. Esvaziado de seu passado e sem projeto futuro, o Torre Paulista espera por uma renovação que o coloque novamente à altura da sua arquitetura icônica e do endereço que ele ocupa, na avenida que é símbolo da capital paulista.