Vinhos naturais: entenda a popularidade da bebida no Brasil e pelo mundo

Produzidos com mínima intervenção e práticas sustentáveis, os vinhos naturais vêm encantando a nova geração de apreciadores pela imprevisibilidade e pelo sabor rústico A busca por autenticidade e a curiosidade são os principais motivos para o reconhecimento dos vinhos naturais. Com rótulos criativos e identidade visual marcante, as garrafas atraem consumidores que desejam se conectar com a bebida de forma mais leve e consciente.
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Os vinhos naturais são aqueles produzidos com a mínima intervenção possível. O termo em questão indica que nada artificial foi adicionado aos processos de cultivo da uva ou vinificação, incluindo produtos químicos sintéticos aditivos, leveduras industriais, açúcar ou correções enológicas.
Apesar da venda não ser expressiva, o movimento vem apresentando aumento – e para identificá-los mercado basta procurar por palavras como “vinificação artesanal”, “fermentação espontânea”, “sem filtração” ou “sem adição de sulfitos” no rótulo.
A principal diferença em relação aos outros vinhos está no modo de cultivo e na vinificação do item
Unsplash/Howard Bouchevereau/Creative Commons
“Na prática, [ser natural] é não manipular o vinho além do necessário. Não se corrige acidez, não se usa levedura industrial, não se filtra de forma agressiva. O enólogo atua como um guardião do processo, deixando o vinho seguir seu caminho natural”, informa Juliana Haddad, sommelière e embaixadora da Sacramentos Vinifer.
Em muitos casos, esses vinhos não passam por filtragem ou clarificação. O objetivo é manter a pureza da uva, deixando que o processo de fermentação ocorra de forma espontânea, priorizando a saúde do solo. Muitos deles não têm certificação, pois os selos são caros e variam conforme cada país.
O que caracteriza um vinho natural?
Para Isaac Azar, chef e empresário à frente do Paris 6 e da La Cave du Roy, os pilares da produção de um vinho natural envolvem a agricultura limpa, o uso nulo ou mínimo de sulfitos, a ausência de filtração ou clarificação agressiva e a fermentação espontânea com leveduras nativas.
Enquanto o vinho convencional pode conter aditivos, leveduras industriais e defensivos químicos, o natural é feito com uvas de cultivo orgânico
Unsplash/Kym Ellis/Creative Commons
O processo de filtragem retira os sedimentos do vinho, como resíduos de leveduras e fermentação, a fim de deixar a bebida mais límpida. A ausência dessa etapa interfere na aparência e no sabor da bebida, que pode ser turva e mais rústica ao paladar, além de reter alguns sedimentos.
Além dos cuidados cautelosos em sua elaboração, o vinho natural não usufrui de insumos vitícolas ou enológicos, sejam eles agroquímicos, conservantes, sejam clarificantes. Até mesmo o dióxido de enxofre, um conservante adicionado para evitar contaminações e minimizar os efeitos do oxigênio na bebida, é evitado.
“[A produção do vinho natural tem] respeito total à uva e ao terroir. Isso envolve agricultura limpa, fermentação espontânea com leveduras nativas, sem adição de produtos químicos e com o mínimo possível de sulfitos. A ideia é acompanhar o vinho, não moldá-lo”, completa Juliana.
Os vinhos naturais costumam ser mais vivos, imprevisíveis e expressivos, e podem apresentar notas rústicas e maior acidez
Pexels/mali maeder/Creative Commons
Terroir é um termo francês que engloba a ideia de que o ambiente influencia nas características e na qualidade do vinho, abarcando fatores naturais e humanos como clima, solo, topografia, geologia, drenagem, intervenção humana, cultura, história, tradição, aspectos do terreno e práticas de cultivo.
Peculiaridades do vinho natural
Aroma e sabor
As diferenças no processo de fabricação envolvem aromas e sabores diferentes dos vinhos convencionais.
“Os vinhos naturais podem ser mais rústicos, vivos, e até ‘imperfeitos’, no melhor sentido da palavra. Eles têm mais personalidade. Você pode sentir notas mais selvagens, fermentativas, um toque de volátil ou gás residual – tudo isso porque a bebida está em movimento, está viva. Os vinhos podem ser mais imprevisíveis, mas também mais autênticos. Há quem se apaixone logo de cara, há quem estranhe e depois descubra. Eles fogem do padrão”, acrescenta Renato Spedo, sommelier com mais de 20 anos de experiência no universo dos vinhos e bebidas finas.
A mínima intervenção envolve o uso fermentações espontâneas, sem adição de leveduras industriais, açúcar ou correções enológicas
Unsplash/Kelsey Knight/Creative Commons
Valor
A produção de um vinho natural é mais minuciosa e artesanal em relação aos demais vinhos, o que implica diretamente no preço do produto, que sofre um aumento de, pelo menos, 40%.
Quais alimentos combinam com o vinho natural?
A comida deve seguir a mesma linha do vinho, com ingredientes frescos e sabores naturais. Bons exemplos de harmonização são: frutos do mar, laranja, queijos e ingredientes mediterrâneos. Ademais, por serem mais leves e ácidos, os vinhos tintos costumam ir bem com frango assado, embutidos e massas; enquanto os terrosos funcionam com pratos rústicos, legumes e carnes grelhadas.
O vinho natural permite harmonizações ousadas com pratos menos industrializados, variando entre queijos, peixes, legumes e massas
Unsplash/Camille Brodard/Creative Commons
Como armazenar e servir um vinho natural?
A sensibilidade da bebida implica na necessidade de cuidados. Mantenha o vinho em local fresco e sem variações bruscas de temperatura. “Idealmente, devem ser armazenados longe de calor e luz. Na hora de servir, vale observar se há sedimentos ou se o vinho está muito turvo – neste caso, uma decantação pode ser interessante, não só para ‘limpar’, mas para oxigenar”, diz Renato.
Isaac recomenda locais frescos, com temperatura entre 12 e 16 °C para tintos e 8 a 10 °C para brancos e espumantes.
Os outros tipos de vinho
Vinho orgânico
Enquanto o vinho convencional envolve o uso de produtos químicos, como fertilizantes, herbicidas e pesticidas, os vinhos orgânicos são feitos sem produtos sintéticos, seguindo práticas sustentáveis.
Nem todo vinho orgânico é natural, mas todos os naturais são produzidos com uvas cultivadas de forma orgânica, geralmente colhidas à mão para preservar a integridade da matéria-prima. Além disso, o seu processo de vinificação evita, ao máximo, o uso de aditivos artificiais, mas pode conter adição de sulfitos.
O vinho convencional uaa produtos químicos como fertilizantes, herbicidas e pesticidas. Já os orgânicos são feitos a partir de uvas cultivadas manualmente e com práticas sustentáveis
Pexels/Kai-Chieh Chan/Creative Commons
A certificação Orgânico Brasil, regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, garante que a produção da bebida siga determinados padrões ambientais.
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Vinho biodinâmico
Diferente dos outros modelos, os vinhos biodinâmicos utilizam preparos específicos, como compostos feitos de plantas, minerais e até esterco, aplicados para nutrir o solo. A prática também age conforme o calendário lunar.
Ao evitar o uso de produtos químicos sintéticos e adotar técnicas de compostagem, por exemplo, a prática fortalece a resistência natural das plantas. A certificação para este vinho é regulamentada pela Demeter Brasil.

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