Xochimilco: conheça a região escondida chamada de ‘Veneza mexicana’

A cerca de 20 km do centro histórico da Cidade do México está o distrito de Xochimilco, conhecido pela sua extensa rede de canais construídos pelos astecas. Muitas vezes identificada como a ‘Veneza mexicana’, a região, anteriormente usada como espaço de produção agrícola, hoje é destaque no turismo local, com passeios pelas tradicionais trajineras – barcos de madeira coloridos – e visitas à fauna e flora local, como os anfíbios axolotes.
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A história de Xochimilco
O distrito é imperdível para quem passeia pelo México. Sua história começa com a formação de uma bacia endorreica (a água não escoa para o mar, e sim para o interior) no centro do país, atualmente conhecido como Vale do México. Esse fenômeno levou à formação de um sistema de cinco lagoas: Texcoco, Xaltocan, Zumpango, Chalco e Xochimilco.
Os primeiros habitantes – provenientes de fenômenos migratórios dos povos nauas e toltecas – do Vale do México surgiram, aproximadamente, 14 mil anos atrás e se assentaram às margens dessas lagoas.
As ‘trajineras’ funcionam como método de locomoção turística pelos canais de Xochimilco
JorgeBRAZI/Wikimedia Commons
A partir do século 10, às marges de Chalco, surgiu um engenhoso sistema agrícola: as chinampas, também conhecidas como “jardins flutuantes”, criados pelos antigos astecas, por meio de estacas de madeira fincadas no fundo do lago.
“Consistia em construir ilhotas artificiais, chamadas de chinampas, inicialmente próximas às margens da lagoa Chalco. Com o tempo, cobriram 80% da lagoa, alcançando Xochimilco”, explica o mexicano Alberto González Pozo, arquiteto e professor na Universidad Autonoma Metropolitana.
As ‘chinampas’ nos canais de Xochimilco funcionavam como aterros de cultivo independentes da chuva
Pexels/Enzo Renz/Creative Commons
As ilhotas eram feitas por meio de aterro, com materiais como palha e restos vegetais, que tornavam os ambientes pantanosos e aptos para o cultivo. Isso criava, portanto, uma plataforma de terra em contato constante com a água, se tornando independente das chuvas.
Para além da agricultura, os canais do Vale do México eram usados como método de comunicação, funcionando como avenidas para a circulação de produtos e organização de seus povos. Com a chegada do colonialismo espanhol, porém, aconteceram mudanças.
Com a ascensão dos espanhóis ao poder, as lagoas e canais do Vale do México começaram a ser drenados para abrir espaço terrestre
ProtoplasmaKid/Wikimedia Commons
“Na medida que os espanhóis se tornaram poderosos, eles reconheceram essas regiões como municípios”, diz Eduardo Natalino dos Santos, professor e pesquisador no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), com foco em história da América pré-hispânica.
Em meados do século 16, os espanhóis acenderam ao poder, em decorrência das epidemias que afetaram a população nativa. Com isso, as culturas indígenas foram sometidas a um regime colonial, e as lagoas foram aterradas para a moradia dos colonizadores, deixando poucos canais.
Após as drenagens feitas no século 17, restaram apenas alguns vestígios dos canais de Xochimilco
Rod Waddington/Wikimedia Commons
No século 17, começou o processo de drenagem das lagoas. “Quando o país conseguiu sua independência, em 1824, as obras de drenagem prosseguiram para Xochimilco e Chalco. Essa última lagoa foi quase completamente drenada a princípios do século 20, restando apenas fragmentos de Xochimilco”, aponta o arquiteto mexicano.
A atualidade de Xochimilco
O local é uma ótima oportunidade para mergulhar na história pré-hispânica do México. Em 1987, foi declarado Patrimônio Mundial pela Unesco.
Desde 1987, Xochimilco é considerado Patrimônio Mundial pela Unesco
Juan Carlos Fonseca Mata/Wikimedia Commons
Atualmente, se destaca pela permanência da paisagem chinampera. A técnica tradicional de cultivo continua a ser utilizada na região, apesar de em escala menor, com alguns sistemas mecanizados.
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A partir do século 20, a região passou a se destacar como destino turístico, oferecendo a navegação pelos canais principais. Os visitantes ainda podem desfrutar de comidas tradicionais, performances e experiências para conhecer os famosos axolotes ou a Ilha das Bonecas — considerada uma dos lugares mais sinistros do planeta.
Para receber os turistas, os barqueiros decoram suas embarcações (as trajineras) com telhados e bancos coloridos, arcos floridos e nomes femininos nas proas.
Atualmente, Xochimilco é mais reconhecido pela sua atividade turística, com passeios pelos canais nos barcos chamados ‘trajineras’
Flickr/TravelingOtter/Creative Commons
Segundo Alberto, um problema assombra a Xochimilco: o processo gradual de afundamento devido à extração constante de água do subsolo, ameaçando sua sustentabilidade e promovendo sua desaparição.
Para além da perda histórica, representa um perigo para a produção de alimentos e espécies botânicas e zoológicas. “Sem suas chinampas, não tem Cidade do México possível”, afirma o pesquisador.

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