Yearbook 2025 da Casa Vogue apresenta um panorama da arquitetura e decoração brasileiras

Casas e apartamentos de Recife a Paraty, de Salvador a Porto Alegre, manifestam a autenticidade do morar brasileiro Um amplo estudo da Universidade de São Paulo publicado em maio na revista Science, bíblia do jornalismo científico mundial, revelou que o Brasil é o país com a população mais geneticamente misturada do mundo hoje. A notícia não é exatamente uma surpresa, apenas a comprovação científica da colossal diversidade étnica e cultural da população nacional (e de como ela foi formada à base de uma colonização violenta, mas esse é outro assunto). Dizer que o Brasil é eclético é chover no molhado. Entrar em contato com a existência desse ecletismo na prática, especificamente na arquitetura e no design, é sempre enriquecedor.
Yearbook 2025 da Casa Vogue apresenta um panorama da arquitetura e decoração brasileiras
Divulgação
Tome-se o exemplo do Palácio Gustavo Capanema, ícone absoluto da arquitetura moderna brasileira e mundial, reaberto no mês passado. A história do edifício, que visitei e conto nesta matéria, remonta a uma época em que visões de mundo e correntes de estilos muito diversos concorriam pela atenção do governo, que mandou erguer uma série de prédios novos no Rio de Janeiro. Na disputa arquitetônica, que também era ideológica, o nascente modernismo defendido pela corrente mais progressista dos intelectuais de então saiu vencedor no projeto do Ministério da Educação e Saúde (o Capanema). Já os prédios dos ministérios da Fazenda e do Trabalho, contemporâneos e vizinhos a ele, acabaram construídos em estilos que remetiam ao passado: o primeiro, num desavergonhado neoclássico europeu; o segundo, no ainda recente art déco, que reinava nos arranha-céus nova-iorquinos da década de 1930. Esse mesmo estilo art déco completa 100 anos agora em 2025 e, por isso, é assunto de uma abrangente reportagem de Maria Clara Vieira.
Muito se caminhou no design brasileiro ao longo destes últimos 100 anos. Apesar das mudanças e inovações, se existe algo que permanece é a vocação eclética das numerosas arquiteturas praticadas pelo país. Como acontece todo ano (desta vez em junho e não mais no comecinho), a Casa Vogue traz um retrato de parte dessa diversidade neste Yearbook, revista especial de capa dura em que, além de reportagens mais profundas, também abrimos espaço para profissionais de todo o Brasil escolherem projetos de sua autoria e apresentarem em nossas páginas o trabalho que realizam e em que acreditam. São casas e apartamentos do Recife a Paraty, de Salvador a Porto Alegre que oferecem um breve relance da variedade de repertórios e modos de fazer contidos num único país de proporções continentais.
A reabertura do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, convida para a contemplação de um Brasil de outrora
André Klotz
Os arquitetos e decoradores representados na densa segunda metade deste volume certamente ficarão satisfeitos de estar na companhia de outras três ótimas histórias sobre arte e viagem, dois pilares fundamentais do estilo de vida de todo mundo que acompanha a Casa Vogue: a brilhante entrevista de Marília Kodic com o curador Marcello Dantas; a investigação de Vanessa D’Amaro acerca de como arquitetos e designers de interiores escolhem as obras de arte que figuram em seus projetos; e a especialíssima lista dos dez hotéis mais bonitos do planeta inaugurados nos últimos 24 meses, selecionada por Juliana A. Saad.
Em suma, uma edição robusta, para ler e desfrutar aos poucos, e guardar numa posição de destaque em qualquer coleção. Uma edição eclética. Boa leitura!

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